domingo, 26 de abril de 2009

Anti-esquerdismo e Condicionamento Mental nos EUA

Graças ao “fenômeno Obama”, o anti-esquerdismo vem recuando nos EUA. Porém, a engenharia social explica porque ainda há muito a se caminhar na construção de uma consciência política no Império.
Por Eduardo Grandi - autogoverno@gmail.com


Duas pesquisas de opinião realizadas nos EUA no início deste mês podem dar uma mostra, ainda que vaga, das convulsões e contradições a que a sociedade do Império vem sendo submetida nos últimos meses.

Na primeira delas, de acordo com o instituto Rasmussen, atualmente “somente” 53% dos norte-americanos acreditam que o capitalismo é melhor do que o “socialismo”. Embora apenas 20% vejam o oposto (os outros 27% disseram não ter certeza sobre qual sistema é melhor), o resultado de tal pesquisa traz revelações surpreendentes. Pois se é verdade que 53% da população dos EUA ainda são contra o que vêem como socialismo, é de se destacar que 47% dos cidadãos da nação mais fanaticamente anti-esquerdista do planeta não possuem mais quaisquer ranços ou preconceitos contra a palavra “socialismo”. Mais, de acordo com essa mesma pesquisa, se considerarmos apenas os mais jovens (até 30 anos), os percentuais de favoráveis e de não-contrários ao “socialismo” sobem para respectivamente 33% e 63%! Isso tudo levando em conta que a pesquisa foi realizada por um instituto conhecido por suas posições conservadoras!

Tais números ficam ainda mais incríveis se considerarmos que o resultado obtido nos EUA não ficou muito atrás de pesquisas e votações semelhantes realizadas em outros países, onde em geral o percentual de contrários e favoráveis ao “socialismo” geralmente fica em torno de 50/50. Quase duas décadas depois do fim da Guerra Fria e do “perigo vermelho” (e com ele o fim do antagonismo que associava diretamente o nome “socialismo” ao “inimigo da pátria” estadunidense, a URSS), aos poucos o povo norte-americano vai se libertando das vendas ideológicas que no passado a propaganda de guerra capitalista logrou enraizar tão fortemente na psique da nação mais poderosa do planeta. Assim, livre da lavagem cerebral anticomunista, que por tanto tempo cegou-o à gritante e crescente superexploração a que era submetido no “paraíso dos capitalistas”, o povo norte-americano aos poucos começa a recuperar a sua consciência política. Contribuíram para isso a grave crise econômica atual e o conseqüente “fenômeno Obama”, que também pode produzir desdobramentos interessantes: após a acachapante derrota eleitoral do partido republicano e dos claros sinais de que seu partido preferido sofreu uma queda violenta na sua capacidade de influir na sociedade, a direita raivosa norte-americana vem se sentindo cada vez mais acuada dentro de seu próprio país, enlouquecendo em desespero por ver crescer aos poucos em seu meio, mesmo que timidamente, alguns dos ideais esquerdistas que eles julgavam ter “exorcizado” para sempre com a queda do muro de Berlim, notadamente as idéias em favor de uma maior intervenção do Estado na economia e na proteção social. Já antes mesmo das eleições presidenciais, quando a crise se aguçava e Obama surgia como promessa, o segmento mais extremo do espectro direito da sociedade norte-americana, dos “talibãs do mercado” aos “falcões de guerra” republicanos, foi se deixando tomar por um clima de paranóia que já alcança hoje níveis assombrosos. Não são poucos (e não são pouco influentes) os que acusam Obama de ser um “socialista”, ao mesmo tempo em que inoculam a esta palavra todo tipo de calúnias e adjetivos negativos que se pode imaginar. Mas o que influencia a consciência das pessoas são mais atos do que palavras, e é aí que as coisas ficam interessantes. Pois a tendência é que Barack Obama realize um governo bem melhor para seu povo do que o de Bush Júnior, e assim o veneno da direita norte-americana se volta contra si mesma já que, mesmo muito longe de ser socialista, o governo Obama se identifica cada vez mais com o termo “socialista”, graças à retórica anti-esquerdista de seus cada vez mais aloprados opositores de direita.

As notícias boas ficam no entanto por aí, quando se vê o resultado de outra pesquisa recente, também conduzida pelo instituto Rasmussen: segundo tal pesquisa, 60% dos norte-americanos acreditam que o governo do seu país, em termos relativos um dos menores do mundo em arrecadação de impostos, tem mesmo assim “dinheiro e poder demais”! Tal resultado mostra claramente que ainda há muito a se caminhar para se incutir uma consciência politizada no povo da nação mais poderosa do mundo; mesmo abalado, o ultra-direitismo ainda possui firmes raízes na psique coletiva estadunidense, resultado de um longo e bem-sucedido processo de engenharia social via condicionamento mental levado a cabo pela massiva propaganda midiática dos interesses de classe das classes capitalistas dos EUA. Mais do que isso, tal resultado é uma contradição flagrante com relação à pesquisa anterior, o que não somente atesta o grau de confusão que ainda impera nas mentes da população do Império como também comprova o condicionamento mental a que este povo foi submetido por suas classes dominantes. Pois se os norte-americanos estivessem a pensar por si só, ao invés de repetirem mecanicamente os preconceitos construídos em seus cérebros pela insistente propaganda de classe movida pela mídia capitalista, suas respostas a essas duas pesquisas de opinião não teriam sido tão escandalosamente contraditórias. Somente o pensar próprio, livre das influências de interesses de minorias, é capaz de produzir idéias que se encaixam umas nas outras a fim de se produzir uma visão de mundo clara e objetiva. A mentira repetida incessantemente pode até tornar-se verdade, mas ela jamais será capaz de gerar verdades completas e coerentes, pois o condicionamento mental, especialidade das classes capitalistas, é por definição acrítico e imbecilizante.

2 comentários:

Anônimo disse...

êÊê, tem certeza..?!!

Anônimo disse...

é incrivel como vcs marxistas se acham os "donos " da historia e quem não pensa como vcs é um "alienado que não tem opnião",(sic)