sábado, 19 de dezembro de 2009

Nobel de Obama: "um mundo maravilhoso"

Por Elaine Tavares*

Patética cena. Na platéia, de mãos dadas, a realeza. Olhos sorridentes, expressão de gozo e aquela serenidade dos saciados. No púlpito, o arrogante soberano do mundo. Recebia o Nobel da Paz e falava da necessidade da guerra. Nada poderia parecer mais cínico. Justificando a postura imperial dos Estados Unidos, Barack Obama insistia na sagrada missão que este país tem de levar a democracia ao mundo, nem que seja sob o fogo grosso. A imposição da “liberdade liberal” a todo custo, com canhões e bombas.

Grotesca cena, assistida por milhões de pessoas no mundo. Os reis, feito cortesãos, aplaudindo o imperador. E este anunciava a decisão de enviar mais tropas ao Afeganistão, mais mortes, mais destruição, mais dizimação da cultura, da vida. E os lambe-botas, assentindo, extasiados, vendo o dono do mundo, no seu terno vistoso, cuspindo balas. “A guerra é fundamental para preservar a paz...” Que o digam os estadunidenses empobrecidos, os que perderam as casas na crise imobiliária, os que ficaram sem emprego por conta da quebradeira de empresas privadas “competitivas”, os que tiveram de ver seu governo investindo um trilhão de dólares para salvar os bancos, enquanto eles mesmos tem de viver em tendas, sem saúde adequada, sem esperança. Que o digam as gentes dos EUA que observam o Nobel da paz gastar dez bilhões de dólares ao ano com a guerra no Iraque, os que vem seus filhos chegar em caixões.

A guerra dos Estados Unidos não é uma missão confiada por deus para levar boa vida às gentes. A guerra é uma imposição do capital que precisa se expandir. Quando a produção é demais e não há quem compre, é necessário criar alguma destruição para que as empresas possam ter a quem vender. Assim, destruir um país parece ser um bom negócio. Não tem nada a ver com democracia, liberdade e outros destes conceitos bonitos que os cínicos usam para enganar os incautos. O capital lambe os beiços e vai se sustentando mais um pouco, construindo países que foram arrasados pelas bombas.

A teologia que move a sede de poder dos Estados Unidos não nasceu agora, não é exclusividade do jovem imperador. Ela vem de longe na história, e nós, na América Latina, já a sentimos na pele desde quando este país decidiu roubar as terras mexicanas no início do século XIX. Desde lá, as doutrinas de guerra vem assolando nossas vidas, com invasões armadas, invenção de governos ditatoriais fantoches, invasões culturais, invasões empresariais. Tudo isso em nome do “deus” dinheiro, tudo em nome do poder.

Ontem, na entrega do cínico Nobel da Paz, o jovem imperador escrachou a doutrina. Sem pejo. “Não há paz sem a guerra!” E os poderosos – defendeu com seu nariz empinado - tem o direito de impor sua vontade ao mundo. Porque tem os canhões. Michele, vestida como uma imperatriz, deu o toque familiar, limpando tal qual uma dona de casa típica, o fato do marido sob os holofotes. A Globo terminou aí sua matéria, com um riso de admiração no rosto de Bonner e Fátima, eles próprios um casal modelo. E, nas casas, as gentes sorriram. “Quão lindo é esse homem, e quê coragem em defender a guerra!” Enquanto isso, lá longe, no Oriente Médio, as bombas seguem caindo, assim como no Afeganistão, em Honduras, na Colômbia. Mas tudo bem, são só luzes. E é natal...

A razão cínica domina o mundo. Já não há disfarces. Mas eu acredito que uma hora dessas, as gentes acordarão e, decididas, dirão: Já basta! Ou isso, ou a barbárie.

(* texto extraído de carosamigos.com.br)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Em Santa Catarina (e no Brasil?) a ditadura ainda não acabou

Não deixe a impunidade prevalecer! Clique aqui para protestar contra mais essa tentativa de ressuscitar a ditadura no Brasil.

Nas últimas semanas, um escândalo do tamanho do Brasil estourou em Santa Catarina, quando um pretenso jornalista local, um monstro chamado Luiz Carlos Prates, veio a público fazer uma defesa escancarada e irresponsável da ditadura civil-militar (1964-1985), demonizando o sistema democrático-representativo em que vivemos atualmente e glorificando os anos de chumbo, época em que segundo ele, o Brasil “progredia” e não “andava para trás que nem hoje”. Mais escandaloso do que o conteúdo em si de tais “comentários” é o fato de que todo o descalabro insano desse suposto “jornalista” foi vociferado ao vivo e a cores nos televisores de todo o Estado, através do principal programa da emissora RBS, afiliada da Rede Globo na região sul. Espanta também o fato de que, na gravação, presente no youtube, o próprio apresentador do programa atiça o dito “jornalista” a destilar todo o seu ódio à atual ordem legal associando-a descaradamente aos escândalos de corrupção de Brasília.

A “Novembrada”, alvo do ranço retrógrado
Tamanha apologia ao regime de exceção, torturas e autoritarismo que assolou o Brasil no passado recente, saída da boca de um dos principais porta-vozes de uma importante emissora de TV do país, é algo que pode ser surpreendente e inesperado de início, mas que diante de uma simples análise da nossa História se torna bastante previsível e compreensível, embora não menos detestável. Todo o ódio blasfemado pelo suposto jornalista não foi à toa e tinha um alvo bem claro: discutia-se no programa o aniversário de 30 anos de um dos acontecimentos mais importantes (e infelizmente pouco conhecidos) da história recente, a chamada “Novembrada”, uma grande manifestação contra a ditadura que ocorreu em Florianópolis em novembro de 1979, e que teve a importância histórica de marcar o “começo do fim” do regime ditatorial. A Novembrada, na retórica reacionária do auto-intitulado jornalista, se converte assim de um movimento vital para a superação da página mais negra da nossa história, a uma “reação de perdedores e fracassados”.

Os “avanços” trazidos pela ditadura que insiste em não morrer
É elucidativo que a memória viva da Novembrada inspire tais reações de sujeitos como esse “senhor”. A ditadura não permanece viva somente nos sonhos delirantes de certas mentes doentias e no saudosismo de alguns poucos representantes das camadas mais fanáticas e retrógadas da direita. Ela ainda permanece viva materialmente falando, tanto em sua herança maldita ao Brasil atual quanto no poder e influência ainda hoje conservado por protagonistas do antigo regime. Foi graças à abertura “lenta, gradual e segura” dos militares que logrou-se manter muito do essencial do velho regime nos nossos dias atuais de “legalidade”. Quase a totalidade da nossa atual imprensa “livre e democrática” (incluindo aí, não por coincidência, a rede de televisão do dito jornalista) cresceu apoiando a ditadura. Políticos integrantes do “braço civil” da ditadura seguem no poder através de partidos como DEMO, PP e PMDB. O autoritarismo generalizado incutido em nossa sociedade foi herdado da ditadura, bem como diversos dos nossos problemas atuais encontraram no antigo regime terreno fértil para crescerem e se desenvolverem. Os níveis calamitosos de corrupção de hoje em dia tiveram um enorme estímulo no falso moralismo e na falta de transparência e de liberdade de expressão comum a todas as ditaduras. A violência generalizada no campo e nas grandes cidades tem relação direta com o crescimento sem precedentes da miséria e da desigualdade durante a ditadura. A ineficiência e a fragilidade institucional do Estado brasileiro encontra raízes nas duas décadas de inexistência de legalidade no Brasil. Nossa extrema dependência externa às empresas transnacionais e às especulatas do mercado financeiro internacional ganharam reforço durante a ditadura, que entregou o nosso país às corporações privadas estrangeiras e multiplicou por cem a nossa dívida externa... Tudo isso demonstra não só o tamanho do retrocesso que a tão amada ditadura do “Sr” Prates trouxe ao Brasil como também atesta o quanto esta ainda paira sobre o Brasil como uma sombra negra que insiste em não se dispersar.

Apesar de tudo, liberdade!
No entanto, a despeito de tais fatos (e graças principalmente à mobilização popular), o fim da ditadura e a Constituição de 1988 marcaram um grande avanço para o país no sentido em que se desconstruiu muito do que o antigo regime tinha de pior. Veio a liberdade de expressão, o voto direto para a escolha de nossos governantes e a perseguição política tornou-se ilegal, tudo isso abrindo espaço para um maior protagonismo popular na escolha dos rumos do país e aumentando assim enormemente a soberania do povo brasileiro sobre seu próprio destino, o que de fato fez avançar, ainda que de forma incompleta (e a despeito de suas falhas), a democracia no Brasil. Porém, nada disso sensibiliza o suposto jornalista, para quem “verdadeira democracia” havia nos tempos do presidente Figueiredo, o líder da ditadura execrado pela Novembrada, o mesmo que disse preferir cheiro de bosta de cavalo ao cheiro do povo e que, sob a insana e desfigurada lógica do “Sr” Prates, aparece de “pobre vítima” que “morreu pobre”...

Do que eles realmente têm saudade
Aí é que se chega a outro ponto bastante elucidativo sobre o comportamento do “Sr” Prates e de seus patrões da RBS e da Globo. Não é a corrupção ou a violência atuais que incomodam esses “senhores”. É a vontade da maioria, a mobilização popular dos (não por coincidência, cada vez mais criminalizados) movimentos sociais e o espaço bem maior que o regime atual dá às lutas sociais e à busca por nossos legítimos direitos, isso é o que realmente incomoda tais “senhores”. É da “democracia dos ricos” que eles sentem saudade. Eles em questão, diga-se de passagem, são muito mais do que apenas um punhado de loucos. Os saudosistas da ditadura que insiste em não acabar por completo ocupam hoje muitas das posições mais influentes no Brasil, tanto na mídia quanto no Estado e nas grandes empresas, e estimulados pela impunidade aos crimes da ditadura, não hesitarão em tentar ressuscitar a ditadura caso tenham uma oportunidade. Porém há um alento. Se democracia significa “andar para trás”, então podemos ter certeza de que, a despeito e para a decepção de “senhores” como esse tal pretenso jornalista, o povo brasileiro, que é sim um povo bravo e lutador, irá garantir que o nosso país siga firmemente, e cada vez mais, andando “para trás”.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Os 20 anos da queda do muro de Berlim, e suas consequências para o mundo atual

Independente da visão que se tenha da experiência socialista no leste europeu, a simples imagem do velho e pichado muro sendo escalado e dilapidado por multidões eufóricas provou ser o suficiente para arrasar política e ideologicamente não só o “comunismo” como também todos aqueles que se identificam ou já se identificaram, mesmo que minimamente, com os ideais socialistas mais básicos.
Por Eduardo Grandi - autogoverno@gmail.com

Neste dia 9 de novembro completam-se vinte anos da queda do Muro de Berlim, que simbolizou o fim da chamada Guerra Fria – o período histórico marcado pela divisão do mundo entre dois sistemas rivais e antagônicos, o socialismo e o capitalismo. O desaparecimento do chamado “muro da vergonha”, que a exemplo do bloco socialista do leste europeu, desmoronou de forma tão súbita quanto surpreendente, representou o fim de um dos capítulos mais importantes da História moderna e acabaria levando a uma reviravolta de tal magnitude no mundo e na forma com que este se enxerga que não é exagero algum apontar tal evento como o marco zero da civilização atual.

Para entender em que medida tal evento moldou as nossas vidas, é preciso em primeiro lugar ter consciência de que a queda do muro de Berlim foi uma derrota histórica sem precedentes do socialismo frente ao capitalismo. Embora isso pareça visível, há aqueles que discordem apontando ao fato (muito pertinente, aliás) de que, à altura dos meses finais de 1989, pouco restava de comum entre a prática dos regimes do bloco soviético no leste europeu e os ideais teóricos e objetivos políticos apregoados pelo marxismo clássico, sem falar inclusive das importantes diferenças que as nações sob a tutela de Moscou guardavam com relação a outros países socialistas mundo afora, mais próximos dos autênticos ideais comunistas. Sob esse ponto de vista, seria tecnicamente correto afirmar que o que ruiu junto com o muro de Berlim em 1989 não foi o socialismo, e sim o stalinismo. Só que na prática, infelizmente, esta não é a percepção que se logrou construir na psique dos povos do mundo com relação a esse episódio histórico. Isso tem a ver com o fato de que a História da guerra fria e do seu súbito desfecho, como, aliás, ocorre com muitas outras histórias, é contada pelos vencedores desta: e o que esta “história dos vencedores” conta, sobretudo nos EUA e na Europa, é que a guerra fria não foi uma disputa entre capitalismo e socialismo, mas sim entre “democracia” e “comunismo”, ou “mundo livre” versus o “império do mal” soviético, em que, como em uma novela com um belo final feliz, a queda do muro de Berlim nada mais foi do que a vitória da “liberdade” sobre a “tirania”, ou simplesmente do “bem” sobre o “mal”.

O grande perigo de tal “visão” simplista e maniqueísta da história reside no fato de que, muito além de execrar os excessos (reais) do stalinismo no leste europeu, o que realmente se pretende e se consegue fazer com tal retórica é eliminar perante os olhos dos povos do mundo a diferença crucial que há entre stalinismo e socialismo. Assim, o totalitarismo e o conservadorismo burocrático comum aos regimes da dita “cortina de ferro” é convertido por essa visão manipuladora e determinista de um produto de uma realidade histórica específica do passado a um “resultado natural e inerente” do desenvolvimento do socialismo, um “caminho para a servidão” ao qual a simples busca dos ideais socialistas irá sempre e inevitavelmente nos conduzir...

Pior do que simples manipulações, independente da visão que se tenha da experiência socialista no leste europeu, a simples imagem do velho e pichado muro sendo escalado e dilapidado por multidões eufóricas provou ser o suficiente para arrasar política e ideologicamente não só o “comunismo” como também todos aqueles que se identificam ou já se identificaram, mesmo que minimamente, com os ideais socialistas mais básicos. Isso explica porque, antes mesmo do início dos anos 90, já haviam se esfumaçado as ilusões de certos setores da esquerda mundial, em especial social-democratas e trotskistas, que comemoraram a queda da União Soviética e do bloco do leste supondo ingenuamente que dessa forma seria possível separar o joio stalinista do trigo dos verdadeiros ideais socialistas, enquanto perante os olhos do mundo a grande mídia capitalista mundial exibia triunfante às imagens dos berlinenses a derrubarem o odioso muro, aquele mesmo que, por décadas a fio, a propaganda capitalista lograra em associar não ao “stalinismo” (palavra que por sinal nem sequer existe no vocabulário da grande imprensa), mas sim ao socialismo e a todo e qualquer ideal advindo dessa palavra. Não é de se surpreender portanto que, na nova ordem global nascida das cinzas do muro, tanto o trotskismo tenha permanecido na irrelevância política que sempre esteve quanto a social-democracia tenha, ironicamente, sucumbido de mãos dadas com o stalinismo. Pois o fato é que, junto com o muro, o pensamento de esquerda foi simplesmente varrido para longe da “política real”, fazendo do colapso do stalinismo um colapso da esquerda como um todo. Assim, os difíceis anos da década de 90 assistiram a um desgaste ideológico sem precedentes de todos os atores do espectro político de esquerda mundo afora, o que permitiu uma ascensão das forças capitalistas e conservadoras jamais visto na História. Assim, na Europa ocidental, berço do chamado “capitalismo humanizado”, encerrava-se com a queda do muro o pacto anticomunista firmado entre capitalistas e social-democratas no pós-guerra, que ficara marcado por uma era de compromissos do capital para com o povo trabalhador e tornou possível o surgimento do “Estado de bem-estar” social-democrata, o mesmo que hoje, 20 anos após o muro, se encontra totalmente desfigurado por “reformas” que, dia após dia, retrocedem as conquistas sociais acumuladas ao longo da guerra fria pelos movimentos laborais da região, desconstruídos freqüentemente pelos próprios partidos social-democratas, que preferiram voltar-se para a direita do que aceitar sua completa extinção política. Fora da Europa ocidental, tais implicações políticas advindas dos acontecimentos de 1989 em Berlim se fizeram sentir em muito maior intensidade. Com o fim da guerra fria e da divisão do planeta em blocos antagônicos, porta-vozes do capitalismo não hesitaram em decretar “o fim da História”. O mundo, antes dividido, agora se “unia” em torno do “livre mercado”, da competição, das privatizações e da “democracia” liberal capitalista, tudo resumido na ideologia do neoliberalismo, que transformado em unanimidade sacra e intocável pela retumbante queda do muro e de tudo de bom e de ruim que este representava, logrou produzir nos últimos 20 anos o maior e mais espantoso retrocesso social já visto na história da humanidade.

Porém, as conseqüências negativas da queda do muro de Berlim não ficaram confinadas à década de 90. O fato é que as comemorações pelos vinte anos da queda do muro podem ser facilmente usadas (e certamente o serão) para lançar uma nova carga contra os ideais socialistas mundo afora, justamente no momento em que tais ideais vão aos poucos sendo revividos pela ascensão de novos governos populares e progressistas na América Latina e em que a atual crise financeira mundial se soma a velhos problemas para tornar mais evidente do que nunca a incapacidade da nova ordem mundial capitalista em cumprir suas promessas de construir um mundo melhor.

Quanto ao muro em particular, a “história dos vencedores” irá seguir contando aquilo que mais condiz com a ideologia e os interesses dos donos do capital, dessa vez posando como voz unânime dos fatos históricos. Seguir-se-á ignorando a própria responsabilidade do chamado “mundo livre” (velho eufemismo para ocidente capitalista) na formação do muro, que no imediato pós-guerra usou sua posição material avantajada para compelir a pobre e arrasada Alemanha Oriental a fechar o acesso a Berlim Ocidental em 1961. Com o muro erguido, enquanto o lado oriental aliviava-se com o estancamento da sangria de sua mão-de-obra para o ocidente, que permitiu que a nação de 10 milhões de habitantes pudesse enfim começar a se reconstruir da guerra, líderes do ocidente comemoraram o surgimento do muro (por mais que o neguem oficialmente), já que este fora a única maneira de esfriar os ânimos na instável Berlim e afastar o risco iminente de uma Terceira Guerra Mundial. Também nada se dirá neste dia sobre outros “muros” tão vergonhosos quanto o de Berlim, como o muro da Palestina, o “muro” da fronteira México-EUA e, acima de tudo, a imensa “muralha” norte-sul que hoje divide o mundo entre países pobres e ricos e que, tal como Berlim na guerra fria, simboliza como ninguém todo o sofrimento e injustiça existente no mundo dominado pelo capital.

Quanto ao futuro do socialismo, o desaparecimento do tipo totalitário e burocrático de socialismo existente no leste europeu, apesar de todos os reveses e dos poderosos anúncios em contrário gritados sem cessar pela grande mídia capitalista, não conseguirá deter a busca pelos ideais socialistas, a saber a democracia plena, a igualdade, o bem estar comum e a construção de uma sociedade que tenha controle sobre si mesma e não mais seja controlada por minorias inescrupulosas, sejam elas burguesas ou burocráticas. O socialismo não acabou, mas o que as infâmias do muro e seu próprio desfecho deixam claro é que, se não quisermos que o socialismo acabe de fato, os comunistas e a esquerda revolucionária como um todo ainda têm a rever inúmeros conceitos e práticas que, no passado, foram mantidos como dogmas por detrás da “cortina de ferro” até serem repelidos por seus próprios povos numa súbita e extremada explosão à direita, resultando nas trágicas conseqüências que todos conhecemos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

O 11 de setembro que o mundo não pode esquecer

Hoje, 11 de setembro, rememora-se algo que nunca deveria ter acontecido, mas uma vez tendo entrado para a História, jamais poderemos permitir que caia no esquecimento. É o aniversário daquele que foi um dos maiores atentados terroristas de que se tem notícia, que completa hoje 36 anos. Foi no dia 11 de setembro de 1973 que, em um golpe de Estado comandado pelo sinistro general Augusto Pinochet, o Chile e o mundo assistiram impotentes à queda do governo constitucional e democraticamente eleito do Presidente Salvador Allende, afogando em um banho de sangue todas as esperanças daqueles que acreditavam em uma transição pacífica para o socialismo e redefinindo o conceito de terrorismo de Estado em nossa América: desde seu início, saltou aos olhos a crueza e a brutalidade desmedida do golpe, em que aviões de guerra bombardearam o palácio presidencial – com o Presidente Allende dentro! Coisa pior viria após o golpe, quando um redefinido Estado chileno – não mais a serviço do povo, mas sim dos setores mais retrógrados e truculentos da direita chilena – não teria o menor pudor em revelar todo o caráter fascista e assassino do novo regime, que se valeria do terror desmedido para defender aqueles velhos privilégios das elites chilenas que o governo de Unidad Popular, ainda que timidamente, estava por ameaçar. Segundo o Prêmio Nobel Gabriel García Marquez, somente nos primeiros meses do regime Pinochet já haviam 30.000 prisioneiros políticos sendo torturados e humilhados nas prisões chilenas, enquanto quase 20.000 pessoas já haviam sido executadas; ganhou fama mundial o fato do Estádio Nacional de Santiago, principal campo de futebol do país, ter sido transformado num campo de concentração e extermínio de prisioneiros políticos. Porém, o pior legado da ditadura civil-militar no Chile, inaugurada com o golpe de 11 de setembro, certamente foram as medidas econômicas adotadas pelo regime de Pinochet, que até então inéditas no mundo, fariam do Chile um laboratório para aquela política que nos anos 80 seria a espinha dorsal dos governos ultradireitistas de Reagan nos EUA e Thatcher na Grã-Bretanha, e que nos anos 90 engoliria o mundo: trata-se do neoliberalismo, que ao privatizar serviços públicos essenciais e submeter por completo o cidadão comum à lógica irracional do mercado sem limites, produziu marcas profundas e nefastas que perduram até hoje no mundo inteiro, em especial no Chile e na América Latina. Também o contra-exemplo da impunidade com relação aos crimes da ditadura chilena reverbera até os dias atuais, quando a sede golpista de militares e das elites inconformadas com o poder popular leva a episódios como o recente golpe que derrubou o presidente eleito de Honduras.

Tudo isso resultou do golpe de Estado chileno de 11 de setembro de 1973, cujo progenitor é mais que conhecido: foram os EUA que instigaram, defenderam e nutriram do começo ao fim o regime de Pinochet e mais dezenas de outras ditaduras que, na América Latina e no mundo inteiro, encontraram e ainda encontram no Império do norte o mais firme aliado na suja tarefa de sufocar e calar a vontade da maioria. E se hoje, mesmo que a censura da grande mídia nos faça desviar as atenções a esse verdadeiro desastre do 11 de setembro, nos fazendo pensar tão somente em outro mais recente, não nos deixemos iludir pela versão da história dos jornalões e fiquemos atentos a essa ironia ácida proporcionada pela História, que como vingando as centenas de milhares de vítimas dos cães de guarda ianques no Chile, provou ao mundo que, se no 11 de setembro deles, também houveram milhares de vítimas inocentes, elas são antes vítimas de seu próprio governo do que de alguns punhados de fanáticos do oriente. Não se pode jamais espalhar a barbárie no mundo sem esperar que essa mesma barbárie não vá, como num efeito típico de ação e reação, respingar de volta sobre si. Essa é a lição maior que, em nome da(s) vítima(s) do(s) 11 de setembro(s), o mundo jamais poderá esquecer.

domingo, 6 de setembro de 2009

Rapidinhas: pré-sal, Sete de Setembro e nossa América

O petróleo é nosso?

Em seu discurso para o sete de setembro, o Presidente Lula tocou no assunto mais crucial da atualidade: o destino do famoso pré-sal, a reserva de petróleo que pode transformar o Brasil numa Arábia latino-americana. Admitiu que para isso o país precisará necessariamente de uma nova legislação para controlar toda essa riqueza, mas ao tentar explicar qual é o projeto que tem para regular o pré-sal, Lula fez um discurso tão emotivo quanto vago e não apresentou quaisquer garantias de que as incalculáveis riquezas do pré-sal não vão parar em mãos gringas. Lula criticou o atual modelo de gestão de petróleo criado por FHC (que levou à privatização de diversas bacias petrolíferas nos últimos anos), mas também disse que “acredita no livre (sic) mercado”. Convocou o povo a discutir e participar do projeto, mas numa irresponsabilidade espantosa, quer aprovar no Congresso suas novas regras para o pré-sal com toda a pressa possível, em “regime de urgência”. Enalteceu o potencial que a Petrobras tem para cuidar das novas reservas, inclusive afirmando que a empresa se fará presente “em toda a área”, mas afirmou também que cada bacia terá “no mínimo 30%” de participação da estatal – e os outros 70%??
Em resumo, Lula enche a boca para falar da importância de manter a riqueza do pré-sal a serviço do desenvolvimento do país, mas nas entrelinhas deixa escapar que na prática pode acabar permitindo que ocorra justamente o oposto! Já a direita raivosa e entreguista, que sempre morreu de medo do lema que há sessenta anos levou à nacionalização do petróleo brasileiro (“o petróleo é nosso”), além de atacar a Petrobras no seu afã de terminar de privatizar o pouco que sobreviveu ao desgoverno FHC, também adora ridicularizar nos jornalões os poucos que nas ruas, nas universidades e nos sindicatos atentam a uma preocupação inquietante: será que o petróleo é mesmo nosso?


Sete de Setembro: que os excluídos gritem “o Brasil somos todos nós!”

No Brasil, há duas formas usuais de se reagir ao Sete de Setembro e ao sentimento de lembrança da pátria que este nos traz: há aqueles que rejeitam ou até mesmo ridicularizam a data nacional do país, parte como uma reação no estilo “panela de pressão” contra o nacionalismo que lhes foi empurrado goela abaixo nos anos de chumbo da ditadura civil-militar (1964-1985), parte por se envergonharem do seu próprio país, tido como “irremediavelmente perdido” em meio à corrupção, à desorganização, à injustiça e à violência. E do lado oposto há aqueles outros, geralmente os representantes mais gagás da nossa direita raivosa e reacionária, para os quais “ter amor à pátria” significa sair por aí agitando bandeiras verde-amarelas em meio a desfiles militares, ignorando solenemente os graves problemas do nosso país. Ambos os comportamentos caem no extremo, que sempre escapa ao correto. Enquanto os primeiros, verdadeiros “brasilifóbicos”, preferem esquecer a data e apenas aproveitar o feriado em si, os últimos enchem o peito em inócuas juras de amor “à pátria” ao mesmo tempo em que se põem longe da realidade de nosso sofrido povo. Pior, ao fazerem questão de serem os primeiros a vestir o verde e o amarelo e a gritarem o nome do país, muitos desses nacionalistas cegos acabam em suas idéias – e mesmo em sua prática cotidiana – colocando a sua noção distorcida de “Brasil” à frente dos próprios brasileiros! Assim agiram os militares e civis que fizeram a ditadura, bem como todos os desgovernos entreguistas que se seguiram à “redemocratização” no país. Fizeram e ainda fazem porque julgam que “Brasil” se resume à sua elite e nada mais. Ter clareza de quem de fato é “o Brasil” ajuda a escapar dos extremos, tanto dos que odeiam quanto dos que apenas dizem amar nosso país. Antes de tudo, é preciso que não tenhamos mais repulsa por nosso próprio país e sejamos patriotas – não nacionalistas, que pondo o “nacional” acima de tudo, são por definição egoístas e belicosos. Mas precisamos entender que essa pátria a quem devemos carinho e respeito não se resume aos governos nem às elites: o Brasil somos nós, o povo! E da mesma forma que não faz sentido odiar a nós mesmos, não podemos permitir que esse “nós” seja apropriado em nome e em benefício exclusivo “daqueles” que sempre foram donos do país e pensam que o Sete de Setembro e o Brasil são só deles!
Sim, precisamos ser patriotas, pois se não nos importarmos com nós mesmos, quem mais irá se importar? Mas ser patriota é mais do que apenas comemorar a data nacional do seu país. É seguir neste e em todos os demais dias do ano lutando por um Brasil melhor, feito por e para todos nós. Que a 15ª edição do Grito dos Excluídos, manifestação popular nacional que em todo Sete de Setembro enfrenta a apatia de muitos e o boicote quase total da mídia em busca desse novo Brasil, não nos permita jamais esquecer essas verdades.


E a “corrida armamentista” na América do Sul?


Com a visita do Presidente francês Nikolas Sarkozy ao Brasil, o governo federal planeja assinar com a França acordos “estratégicos” de compra de equipamentos e tecnologia militar que vão desde helicópteros e aviões caça até um submarino nuclear, totalizando o assombroso valor de mais de R$ 22 bilhões, soma equivalente ao que será investido no PAC ao longo do ano inteiro, e bem superior às compras de armamentos da Venezuela – que embora possua uma força militar bem inferior à brasileira, tem sido acusada pelos jornalões de ser “perigosa” e de estar fazendo uma “corrida armamentista” no continente. O que não se diz porém é que, embora haja certamente entre os generais brasileiros aqueles ansiosos por esmagar à força o incômodo exemplo da crescente mobilização popular na Venezuela Bolivariana, o autêntico inimigo em potencial fica um pouco mais a oeste. A Colômbia, que já possui um exército maior e mais bem equipado que o brasileiro, que é governada por um regime autoritário, militarista e com fortes pretensões ditatoriais e que ainda por cima pretende instalar sete bases militares do EUA em seu território – convertendo-a na ponta de lança gringa ideal para se mirar as riquezas da Amazônia – é que é o verdadeiro perigo. Ao longo dos séculos o capitalismo sempre buscou superar as suas crises produzindo guerras, de preferência longe de seu quintal, pra lucrar primeiro com bombas e depois com a reconstrução. E os EUA – centro do capitalismo mundial – ainda estão longe de se recuperar da última dessas crises, que por sinal eles mesmos criaram. Haverá um cheiro de guerra no ar?

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Rapidinhas: do Senado à Colômbia

Senado: o teatro da “democracia” dos poderosos

Em mais um triste episódio que atesta o quão irremediavelmente corrompidas se encontram as instituições do capitalismo brasileiro, governo e oposição de direita chegaram a um acordo vergonhoso no caso Sarney: a oposição de direita pára de levantar os podres do presidente do Senado, aliado do presidente Lula, e o governo e seus aliados desistem de cutucar os mesmos podres de Arthur Virgílio, líder do PSDB na casa. O resultado se viu hoje: com PT e de PSDB votando juntos (pra variar) no que lhes convêm, tanto Sarney quanto Virgílio foram absolvidos nesta quinta pelo Conselho de “Ética” do Senado. Nem mesmo o esperneio de senadores petistas contrários à sujeira do “acordão” como Aloísio Mercadante (SP) e Flávio Arns (PR) impediu o conchavo que livrou a cara dos corruptos. O primeiro, pressionado por Lula e Dilma para lavar a mão de José "líder-da-quadrilha-do-Senado" Sarney, vê-se cada vez mais obrigado a renunciar à liderança do PT (Partido do Tudo-vale) na casa. E o segundo, dizendo-se envergonhado com a postura petista de defesa escancarada de tudo que há de mais decadente no Congresso, decidiu deixar o partido... E eis que no Brasil do "capitalismo subdesenvolvido", como sempre tudo converge ao mesmo ponto: quando a oposição majoritária (a de direita) é tão corrupta quanto o governo, os poderosos sempre saem ganhando com um aperto de mãos em celebração às politicagens de sua “democracia”. E quem perde, claro, mais uma vez é o povo brasileiro.


Enquanto isso, na Colômbia...

Nesta semana, o Senado da Colômbia aprovou a emenda de reeleição do presidente Álvaro Uribe, que fica assim mais próximo de poder buscar uma segunda reeleição como mandatário do seu país. Com isso fica no ar uma pergunta crucial: onde se encontram agora a grande mídia e os “vigilantes da democracia” em nosso continente, que sempre prontos a encontrar “pretensões ditatoriais” nas reeleições dos governos progressistas que emancipam a América Latina, agora fecham os olhos às autênticas pretensões ditatoriais daqueles que representam o que há de mais violento e retrógrado em nosso continente? Não sabem (ou fingem não saber) esses “arautos da democracia” que Uribe, um político comprometido com o narcotráfico e com os bandos paramilitares que espalham terror e morte pelo país, intensificou a guerra civil na Colômbia na vã tentativa de destruir a guerrilha, o que apenas sepultou ainda mais fundo a paz nesta que é uma das nações mais violentas do mundo? Onde estão esses defensores da “democracia” que não vêem que é a Colômbia, e não Venezuela, Equador ou qualquer outro, o país recordista de violações de direitos humanos no nosso continente? Onde fica a “democracia” quando se fecha os olhos ao fato de que nenhum outro país do nosso continente possui tantos refugiados e prisioneiros políticos quanto a Colômbia? A que interesses servem essa cegueira dos nossos “formadores de opinião”, que seguem ignorando o fato de que, sob o regime do “sr.” Uribe (principal aliado dos EUA na América Latina), estudantes, sindicalistas e jornalistas são freqüentemente assassinados por um Estado repressor que, convenientemente, há muito já se acostumou em tachar de “terrorista” a qualquer um que ouse pensar diferente deste? Ignoram esses “senhores” que, se há hoje uma corrida armamentista na América do Sul, quem a iniciou não foi outro líder senão esse “sr.” Uribe, que não contente em fazer da Colômbia um dos países mais militarizados do mundo, agora também está prestes a ceder seu território para a criação de mais sete bases militares norte-americanas no coração da Amazônia, em plena fronteira com o Brasil! E agora que esse mesmo Uribe busca se reeleger indefinidamente, não para progredir e libertar a América Latina, mas sim para seguir esmagando a ferro e fogo o povo de seu próprio país, tudo em benefício dos lucros do narcotráfico e das transnacionais estrangeiras, com o agravante de que na sua sede de poder ele possa acabar arrastando a América Latina a uma guerra de proporções jamais vistas, por que nem uma única palavra se ergue na grande mídia contra esse autêntico ditador? E viva a “democracia” capitalista!

domingo, 9 de agosto de 2009

Enquanto isso, no Senado...

A única solução possível para a podridão da nossa política é mais que óbvia, mesmo que incomode a muitos.
autogoverno@gmail.com


Lula, Sarney, Collor, Virgílio, Calheiros, Simon, Tasso, Mão Santa... Ou também PT, PSDB, PMDB, DEMO, PTB, PPS... Nomes e siglas que trazem arrepios! Afinal, o que nós brasileiros fizemos para merecer eles?

O Presidente Lula se agarra a José “ato-secreto” Sarney (não seria Lula o salva-vidas de Sarney??) numa tentativa tão desesperada quanto inútil de seguir controlando o senado (ou pensar que o controla) e manter essa gosma que é o PMDB coesa em favor da candidata do PT, Dilma Roussef, para as eleições do ano que vem. E como já de longa data a máxima do antigo partido dos trabalhadores (hoje convertido em Partido da Tramóia) é “os fins justificam os meios”, Lula nem sequer hesita em chamar para a defesa de Sarney nada menos que Renan “bezerro-de-ouro” Calheiros e Fernando “tô-com-aquilo-roxo” Collor de Mello... Nada mais coerente que corruptos sejam chamados para defender o corrupto-mor, chefe dessa quadrilha auto-intitulada Senado Federal. Mas o que é isso “companheiro”, justo o Collor? Justo aquele que em 1989, ajudado pelo PIG (Partido da Imprensa Golpista), recorreu a uma das campanhas eleitorais mais baixas e sujas que esse País já viu pra te derrotar nas urnas...? Tudo isso se acumula ao pesadelo com que há oito anos o Brasil já se acostumou a ver quase que diariamente nos noticiários: Lula e PT, quem te viu, quem te vê...

E a oposição de direita? Como não podia deixar de ser, se desdobrando pra manter o baixo nível da casa. O líder dessa oposição, Arthur “imaculado” Virgílio (PSDB), esbraveja sem parar apontando os outros com seu dedo sujo de quem, a exemplo de Sarney, também se esbaldou nos tais atos secretos do Senado, tendo ainda por cima a cara de pau de tentar posar junto com seu partido como "o defensor da moralidade” no Congresso. Já o também tucano Tasso “seu-coronel-de-merda” Jereissati, outro “grande moralista” da direita, perdeu as estribeiras em plena sessão do Senado para, num pastelão digno dos piores filmes de comédia, sair trocando xingões com Renan “bezerro-de-ouro” Calheiros, tudo porque o governista tocou na ferida de Tasso, apontando (também com dedo sujo) aos passeios de jatinho pagos pelo tucano com dinheiro público. Até Pedro Simon, tido como o “último refúgio” da moralidade conservadora no Congresso perdeu a pose quando Collor, em outro bate-boca de criança pequena, acusou o senador gaúcho de ter apoiado para a presidência da casa o mesmo Sarney que ele agora execra tão ardorosamente... Então, eis que em meio a esse festival de horrores emerge a voz do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, que num espantoso arroubo de bom senso, pediu a renúncia imediata de todo o Senado. Ergamos as mãos aos céus! Enfim os “guardiões da democracia brasileira” ressoam a vontade do povo! Agora sim temos uma luz no fim do túnel, mesmo que essa luz seja mais teatral do que curativa, por cair na espantosa ingenuidade de crer que “novas eleições” dentro das “leis” vigentes são a cura para a chaga que fere de morte a República. PT, PMDB, PSDB, DEMO e algumas outras são as letrinhas do mesmo alfabeto que não cansam de nos assombrar. Ao respeitável “estado de direito”, ao menos somos livres para escolher entre cair na panela ou na frigideira!

Perdido em meio a tanta desolação, tendo dificuldade cada vez maior em encontrar dentre seus “representantes” algum nome que se salve desse mar de lama, o brasileiro comum se divide entre a rejeição sistemática e enfurecida a tudo que sequer lembre a palavra “política” e o auto-isolamento na sua vida particular e nas futilidades do cotidiano. Porém, ambos os caminhos levam à despolitização e não resolvem o problema. Curiosamente, uma pista de como resolver essa eterna crise de legitimidade da nossa política foi proporcionada justamente por uma das figuras mais folclóricas e rocambolescas do Congresso. Foi o Bobo da Corte do Rei Sarney, o senador piauiense “Mão Santa”, que deu com a língua nos dentes em outro de seus tresloucados discursos em defesa do coronel maranhense ao deixar escapar aquilo que muitos temem pensar. Depois de comparar a roubalheira do Senado com a corrupção generalizada da igreja católica medieval, “Mão Santa” proferiu o “consolo” do povo brasileiro: segundo ele, apesar de todos os seus “deslizes”, “felizmente” o Congresso está aí. Para ele, não fossem “senhores” como Sarney, Collor, Arthur Virgílio, Renan Calheiros e Tasso Jereissati para “salvaguardar a democracia”, o Brasil “estaria que nem Cuba ou Venezuela”. Precisamente! Não fosse a nossa sagrada “democracia” o Brasil estaria muito melhor, como não deixam mentir os indicadores sociais das “terríveis ditaduras” cubana e venezuelana! Tal “conclusão genial” vinda justamente do representante de um dos Estados mais miseráveis do Brasil junto a essa casa de imundícies cada vez mais fétidas que é o Congresso, traz muitos pensamentos inquietantes: que “democracia” é essa afinal em que vivemos? Que “ditaduras” são aquelas que governam para seu povo com muito mais afinco e eficiência do que essa nossa “democracia” tupiniquim? E afinal de contas, o que é “democracia”? Certamente não é se reunir a cada quatro anos em fúteis cerimoniais auto-intitulados “eleições” para referendar a corja que se perpetua em Brasília mandando em nós com suas politicagens sujas e arrogantes, sobre a qual nós, pessoas comuns, não possuímos qualquer controle. Essa é a necessária e mais que natural solução, que não por coincidência, incomoda a muitos: somente uma profunda transformação em nossas instituições e no nosso modo de agir, através de uma revolução democrática que varra para sempre os Lulas, Serras, Sarneys, Collors, Virgílios, Calheiros, Tassos e Mãos Santas de nossas instituições, substituindo-os por novos nomes submetidos ao estrito controle participativo dos cidadãos que os elegeram, pode libertar o Brasil do grande mar de lama que o assola. Autogestão da política! Este é o caminho para enfim instaurarmos no Brasil uma democracia que seja realmente digna desse nome.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Porque a única saída para a crise ambiental é o socialismo.

Há muito que o mundo discute a importância vital de reduzir as emissões de gases do efeito estufa para impedir a devastadora crise ambiental que o aquecimento global ameaça nos infligir nas próximas décadas. Desde a eleição de Obama à presidência dos EUA, com a conseqüente queda da irracional extrema-direita que governava a última potência mundial insensível à ameaça do colapso ambiental, hoje não há mais no mundo quem discorde da urgência em se reduzir a queima de combustíveis fósseis (como carvão e derivados de petróleo) causadores do aquecimento global. Então porque sucessivos encontros de cúpula dos principais líderes mundiais, como o encontro do G8 ocorrido essa semana na Itália, têm fracassado sucessivamente em apresentar medidas práticas contra essa crise ambiental que se avizinha, mesmo sendo esta de longe a maior ameaça já enfrentada pela Humanidade?

Em primeiro lugar porque, independente do sistema econômico-social existente, seja ele capitalismo, socialismo ou qualquer outro, o fato é que hoje a economia mundial ainda é extremamente dependente das velhas e poluidoras fontes de energia; e embora atualmente já exista tecnologia para substituí-las por outras fontes limpas e renováveis, tal adaptação terá um custo financeiro muito alto. Assim, é natural que nenhuma nação queira pagar o pato pela crise. Só que vivemos em um mundo extremamente desigual, e portanto também é natural que cada país precise dar sua parte no combate à crise ambiental de acordo com suas capacidades. Aí é que as regras da ordem capitalista mundial começam a se chocar com a necessidade urgente de se agir: pois há muito que os países ricos vêm cobrando das nações ditas “em desenvolvimento” (em especial a Índia e a China, hoje os maiores poluidores do mundo) que “também eles” reduzam drasticamente suas emissões de gases do efeito estufa, ignorando no entanto que somente os ricos é que têm o dinheiro e a tecnologia para fazer isso. É fato que sem a adesão dos países “em desenvolvimento”, qualquer esforço de redução do aquecimento global será em vão. Mas esses países simplesmente não dispõem dos meios para tanto, meios estes que, na forma de capital e patentes de tecnologias, seguem como propriedade particular das transnacionais dos países ricos. Cria-se assim um impasse, para o qual simplesmente não há solução dentro dos marcos do sistema mundial de produção-para-o-lucro: existem os meios para se deter o aquecimento global, mas estes não são plenamente utilizados.

Em resposta a esse dilema, recentemente o governo do Brasil fez uma proposta revolucionária. Como é menos difícil fazer revolução com quem não financia a sua campanha eleitoral, a representação brasileira junto ao Painel Intergovernamental de Mudança Climática da ONU não temeu em clamar pelo óbvio: que aos países “em desenvolvimento” seja permitido quebrar patentes de tecnologias capazes de conter o aquecimento global, e que um fundo mundial seja criado para financiar o acesso a esses equipamentos. Não há de fato outra alternativa senão essa: tornar de domínio público os meios capazes de evitar a crise ambiental, meios esses que hoje são propriedade particular de um punhado de empresas. Só que aí não está mais se falando em capitalismo, mas sim em socialismo. Nesse sentido, não é de se estranhar a reação imediata dos governos dos países ricos (esses sim financiados pelas transnacionais) que se opuseram de imediato pela inclusão desse assunto no próximo encontro sobre o acordo climático a ser realizado em dezembro na Dinamarca, inclusive acusando os autores da proposta de “oportunistas”.

Neste exemplo fundamental, vê-se claramente como a própria essência do capitalismo impede qualquer solução dentro deste sistema para os problemas ambientais que nos ameaçam cada vez mais. Tentativas de se deter o aquecimento global nos marcos do sistema, tais como o comércio dos chamados “créditos de carbono”, fracassaram completamente em oferecer uma resposta efetiva à crise. É preciso pois que a Humanidade se desfaça enquanto ainda há tempo dessa perigosa ilusão, a de que o aquecimento global e a crise ambiental como um todo possam ser enfrentados sem exigir uma mudança profunda e radical em nossa civilização moderna, em nosso modo de vida e na forma de sociedade em que nos organizamos. Impedir o total colapso ambiental do planeta em que vivemos, sem dúvida o desafio mais colossal já enfrentado pelo gênero humano, é uma tarefa imensa demais para poder ser levada a cabo apenas mudando-se uma ou outra coisa no sistema. A transformação precisa ser completa. A superação definitiva da crise ambiental exige um novo mundo, completamente diferente do que existe atualmente, um mundo socialista.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Rapidinhas

Honduras: até quando eles conseguem segurar o osso?

Em mais um duro golpe contra a ditadura oligárquica que se instalou em Honduras há duas semanas, o governo dos EUA declarou que se recusa a receber em Washington qualquer missão diplomática dos golpistas hondurenhos, frustrando as expectativas destes. Ao contrário, o presidente deposto Manuel Zelaya foi recebido ontem pela Secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton, o que somado à recente exclusão hondurenha da OEA, evidencia a pressão que o total isolamento internacional impõe às elites golpistas de Honduras. Para piorar ainda mais a situação destes, o chanceler dos golpistas, Enrique Colindres, ainda chamou o Presidente Obama de “negrinho”, numa declaração racista que indignou os EUA e demonstrou o quão brutal e animalesca é a camarilha que roubou o poder do país para si e seus comparsas oligarcas. Enquanto o “estado de exceção” segue em vigor no país centro-americano, o presidente Zelaya declarou que tentará novamente regressar ao país, “dessa vez sem revelar quando nem como”.

“Queres o poder para quê?”

Com a defesa desavergonhada que Lula e sua candidata Dilma Roussef vem movendo a favor do senador-coronel José “roubo-em-ato-secreto” Sarney, sempre em nome da maldita “governabilidade”, algumas perguntas ficam no ar: primeiro, para quê afinal o PT tanto quer “esse poder”? Se é para usá-lo exatamente que nem os tucanos, mais fácil seria entregá-lo de uma vez a Serra e voltar a ser “oposição destrutiva”. Segundo, diante de tudo isso, o que leva alguns sindicalistas, intelectuais “de esquerda” e certos setores da “pequena mídia” a insistirem em apoiar um governo como esse? Seriam as verbas publicitárias federais ou o maquiavelismo petista é mesmo contagioso?

Alguém ainda quer "reformar" o capitalismo?

Primeiro a ONU divulga que a ajuda financeira dada aos bancos no ano passado foi quase dez vezes maior do que a ajuda a países pobres em meio século (US$ 18 trilhões só em 2008 de cofres públicos a bancos privados; US$ 2 trilhões doados ao terceiro mundo nos últimos 49 anos); agora a ONU também informa que a crise econômica atual deverá aumentar em até 90 milhões o número de desnutridos no mundo. Também segundo a ONU, de acordo com esses indicadores um único ano de crise pode ter sido suficiente para retroceder em 20 anos os níveis de pobreza dos países “em desenvolvimento”. Tudo graças à anarquia do "livre mercado" e à especulata desenfreada de banqueiros e “investidores” irresponsáveis, justamente os que mais vêm ganhando com a crise. Parafraseando Rosa Luxemburgo, ou acabamos de uma vez com o capitalismo ou ele acaba conosco!

Gol de placa contra o futebol-para-o-lucro

Em evento na Nigéria, Pelé pediu à FIFA (entidade máxima do futebol mundial) que estabeleça um teto salarial para os jogadores de futebol, alertando que as enormes quantias de dinheiro envolvidas atualmente no esporte podem prejudicar a imagem deste. Há um mês o clube espanhol Real Madrid anunciou a contratação do meia-atacante português Cristiano Ronaldo por nada menos que 180 milhões de dólares, a mais cara contratação da história do futebol. Pode alguém em sã consciência acreditar que um ser humano vale tudo isso?

Estado-pária

Chefe de Comissão da ONU “lamenta” falta de cooperação de Israel nas investigações sobre violações de direitos humanos durante a recente ofensiva sionista na faixa de Gaza. Entre outras coisas, o governo do Estado campeão mundial de violações das leis internacionais proibiu a entrada dos inspetores da ONU tanto em sua área quanto nos territórios palestinos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Honduras: cerco se fecha contra golpistas




AS RAZÕES DO GOLPE:
Privilégios contrariados, tiques de potências decadentes por fabricar golpes e a velha truculência direitista contra o povo organizado estão entre as causas do golpe. A propósito, desmentindo a grande mídia no seu afã de justificar o golpe, em nenhum momento a reforma constitucional proposta pelo presidente deposto falou em "reeleição presidencial".
Máfia da indústria farmacêutica por detrás do golpe
Revelada a interferência dos EUA no golpe
"O presidente estava dando participacão real ao povo"

COMO O POVO NÃO É BOBO...
Revoltas populares se espalham em defesa do deposto Manuel Zelaya, o "presidente dos pobres"; este por sua vez decide adiar seu retorn
o ao país, em aguardo à viagem nessa sexta do secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), Miguel Insulza, que vai a Honduras a fim de iniciar conversações pela rendição dos golpistas.
Rebelião em Honduras é generalizada
Movimentos populares se preparam para prolongar resistência


CERCO SE FECHA, CRESCE DESESPERO DAS OLIGARQUIAS HONDURENHAS:
No exterior, todos os países do mundo condenaram a camarilha que roubou para si o aparelho do Estado, e já movem represálias. Diversos Países como Brasil, Espanha e França romperam relações com Honduras, a Organização dos Estados Americanos (OEA) irá suspender o país caso o golpe não seja dissolvido em dois dias, o Banco Mundial anunciou o cancelamento de empréstimos milionários a Honduras, etc. Até o governo dos EUA, acuado pela reação interna
cional, se viu obrigado a reconhecer o presidente deposto, Manuel Zelaya, como o único legítimo governante. A reaçãoviolenta do regime golpista contra protestos populares era mais que previsível. Como dizia Marx, "o terrorismo (de Estado) é produto de homens (do poder) eles próprios aterrorizados".
Total isolamento internacional a golpistas
Brutal perseguicão a dirigentes populares em Honduras
Golpistas invadem única rádio que ainda transmitia de Honduras
Golpistas endurecem estado de exceção

VOCÊ PODE AJUDAR A DERROTAR O GOLPE. Escreva mensagens de repúdio a mais essa manobra fascista contra a democracia e a vontade popular no nosso continente aos emails de agências governamentais hondurenhas, ou se preferir, encaminhe aos emails o texto logo abaixo. Precisamos matar no nascedouro o golpismo oligarca; se hoje eles tomam Honduras, amanhã eles tomam o Brasil e toda a América Latina.

PRESIDENTE EMPOSSADO PELOS GOLPISTAS
robertomicheletti@congreso.gob.hn

CORTE SUPREMA DE JUSTIÇA
cedij@poderjudicial.gob.hn

EMBAIXADA DE HONDURAS NO BRASIL
embhonduras@ig.com.br

carta de repúdio ao golpe:
Venho por meio dessa repudiar com veemência o golpe de estado ilegítimo com que as forças oligárquicas e anti-democráticas rasgaram a Constituição de Honduras ao seqüestrar e forçar ao exílio com violência o único presidente legítimo do país, Manuel Zelaya. Fazendo coro à comunidade internacional, que já protesta de forma cada vez mais contundente contra o golpe, exijo o retorno ao poder do presidente democraticamente eleito, bem como o respeito à ordem constitucional democrática e a preservação da integridade dos opositores e dos manifestantes que saem às ruas contra o novo e ilegítimo regime que os "senhores" buscam instaurar pela força bruta e ignorante das armas. A História já relegou ao passado tais práticas detestáveis, bem como vai se encarregar de varrer de seu caminho aqueles que insistem em sufucar com autoritarismo a vontade do povo.

domingo, 28 de junho de 2009

GOLPE DE ESTADO EM HONDURAS



A manhã de domingo (28 de junho) presenciou outro ataque violento contra a democracia em nossa América Latina. Militares encapuzados invadiram a residência do Presidente de Honduras, Manuel Zelaya, levando-o preso no que se configuraria nas horas seguintes como um golpe de estado civil-militar na nação centro-americana. Após energia e comunicações terem sido cortadas na capital Teguicigalpa, tropas golpistas tomaram as ruas da cidade impondo-se pela intimidação e violência contra manifestantes contrários ao golpe (ver vídeo acima). Nesse ínterim, enquanto o presidente democraticamente eleito de Honduras era carregado à força para a Costa Rica, setores civis aliados do golpismo já faziam a sua parte: no mesmo dia o Congresso usou uma "carta de renúncia" presidencial grosseiramente falsificada como desculpa para empossar o presidente do parlamento, Roberto Micheletti como "novo presidente" do país, ao mesmo tempo em que setores mais fascistas da mídia já saíam em defesa ao golpe.

Ao fim do dia, enquanto manifestantes seguaim protestando nas ruas, o legítimo presidente hondurenho declarou do seu exílio que o golpe era obra de setores conservadores e convocou o povo hondurenho a resistir pacificamente ao golpe. Manifestantes pró-Zelaya já rodeavam a residência presidencial ocupada por militares quando veio a notícia que o próprio Supremo Tribunal hondurenho ordenou a descabida e violenta ação militar que removeu à força o Presidente Zelaya. É difícil de acreditar, mas não somente setores do Exército, como também o Congresso e o próprio Judiciário rasgaram violentamente a Constituição sob o pretexto de "salvar a democracia" no país. Explica-se: Zelaya, que mesmo eleito por um partido conservador tornou-se um dos principais aliados de Venezuela e Cuba na América Central, pretendia realizar um referendo pela substituição da velha e oligárquica Constituição hondurenha por uma nova, visando aumentar a participação popular. "Em nome da lei", a consulta à vontade popular foi proibida semanas atrás pela mesma corte que assinou hoje a realização do golpe.

No exterior, as condenações ao golpe já vem de todas as partes: enquanto ONU e OEA já convocavam reuniões de emergência para discutir a crise, Brasil, Argentina e a União Européia condenaram o golpe com veemência, enquanto o governo dos EUA, em uma mensagem dúbia, "pedia o retorno à ordem constitucional vigente". Resta saber a que "ordem constitucional" o "amigo do norte" se refere, se a autêntica, pisada e humilhada pelos golpistas, ou se à "nova", imposta à força por aqueles velhos poderes conservadores de sempre.

SEJA SOLIDÁRIO AO POVO HONDURENHO. Envie mensagens de repúdio a mais golpe fascista contra a democracia e a vontade popular na América Latina aos emails de agências governamentais do país. Se hoje eles tomam Honduras, amanhã eles vão querer o continente.

PRESIDENTE EMPOSSADO PELOS GOLPISTAS
robertomicheletti@congreso.gob.hn

CORTE SUPREMA DE JUSTICA
cedij@poderjudicial.gob.hn

TRIBUNAL ELEITORAL
postmaster@tse.hn

sábado, 27 de junho de 2009

Tropas brasileiras atirando contra multidão no Haiti

Vídeo da TV haitiana revela a brutalidade da repressão da "missão de paz" brasileira no Haiti: o episódio ocorreu dia 18 de junho, durante o funeral do padre Gerard Jean-Juste em frente à Catedral Nacional do Haiti. No vídeo soldados brasileiros, não contentes em levar preso manifestantes e intimidar a multidão com tiros para o alto, ao partirem ainda desferem claramente disparos contra a multidão desaramada. Resultado: um manifestante morto com um tiro certeiro na cabeça.

E aí, como a grande mídia e o governo do PT vão reagir a mais essa mostra da brutal repressão que os nossos soldados vem há tempos impondo sobre o povo haitiano com a bênção do "amigo do norte"? Vão recorrer à boa e velha censura, ou dessa vez vão querer mandar Corinthians e Flamengo jogar amistoso em Porto Príncipe?

sábado, 6 de junho de 2009

Decisão histórica: OEA revoga suspensão contra Cuba

Um dos últimos vergonhosos resquícios da Guerra Fria na América Latina acabou de ser derrubado em definitivo. Em uma decisão histórica tomada essa semana, a Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu por quase unanimidade pôr fim à expulsão imposta pela entidade contra Cuba há quase cinco décadas.

Durante sua Assembléia Geral realizada em Honduras, 34 dos 35 países membros do órgão, que reúne representantes de todas as nações das Américas, resistiu às pressões em contrário da delegação norte-americana e decidiu pela reintegração de Cuba à organização sem impor quaisquer condições à nação caribenha. O governo dos EUA, principal responsável pela expulsão cubana da entidade em 1962, insistia na realização de "reformas democráticas" em Cuba como pré-condição para que a única república socialista das Américas pudesse retornar à OEA. À época o governo norte-americano, em uma flagrante violação ao pluralismo democrático, impôs à entidade uma resolução que afirmava com todas as letras que “a adesão de qualquer membro da organização ao marxismo-leninismo é incompatível com o Sistema Interamericano”. Àquela altura Fidel Castro, líder da revolução cubana, já havia proclamado ao mundo o caráter socialista de sua revolução, que eclodira três anos antes.

Em um comunicado à imprensa estrangeira, o governo de Cuba saudou a decisão da entidade, afirmando que "apesar de pressões, condicionamentos e manobras dos Estados Unidos, a força formidável da América Latina que está nascendo possibilitou o gesto de reparação, a retificação histórica, a condenação implícita ao passado degradante". Mesmo assim, Cuba anunciou que não pretende retornar ao órgão, preferindo comemorar o ato como uma vitória simbólica e política.

E que vitória! Para se ter uma idéia do tamanho desta, basta ouvir o discurso que o anfitrião do encontro, o Presidente de Honduras, Manuel Zelaya, pronunciou a favor de Cuba: ''Nós latino-americanos (...) firmamos (em Salvador) um compromisso de que esta assembléia (...) deveria emendar esse velho e desgastado erro que foi cometido em 1962, de expulsar o povo cubano desta organização." (...) "Não devemos deixar essa assembléia sem anular o decreto que sancionou um povo inteiro por ter proclamado idéias e princípios socialistas, que hoje esses mesmos princípios são praticados em todas as partes do mundo, incluindo Estados Unidos e Europa (aplausos)" (...) ''Não fazê-lo nos faz cúmplices de uma resolução que expulsou um membro da OEA simplesmente porque tem outras idéias, outros pensamentos, e proclama o início de uma democracia diferente. E não seremos cúmplices disto''. Tudo isso vindo do chefe de Estado de um país que há menos de uma geração atrás era dominado por uma das ditaduras mais retrógradas e reacionárias do mundo! Palavras que entram para a História.

Em Cuba, diferente do restante do continente, a notícia recebeu ampla cobertura da imprensa, ao que se somou uma carta de Fidel Castro justificando sua posição pessoal contra a organização que já foi chamada por muitos de "ministério estadunidense das colônias": "A OEA foi cúmplice em todos os crimes cometidos contra Cuba. (...) Em um momento ou outro, todos os países latino-americanos foram vítimas de agressões e intervenções políticas e econômicas. Ninguém pode negar isso. É ingênuo acreditar que as boas intenções de um presidente dos Estados Unidos justifiquem a existência desta instituição que abriu as portas para um cavalo de Tróia que apoiou as Cúpulas das Américas, o neoliberalismo, o narcotráfico, as bases militares e as crises econômicas", disse o ex-presidente cubano.

O discurso de Fidel de questionar até mesmo a existência da OEA não foi o único que se ouviu nos últimos dias. Em sua chegada à Honduras, o Presidente equatoriano Rafael Correa declarou junto com o colega hondurenho que a ''OEA deve ser reformada e reincorporar Cuba, ou do contrário terá que desaparecer''. Correa havia proposto anteriormente a substituição da entidade por uma Organização dos Estados Latino-Americanos, justificando que "não era mais possível continuar discutindo em Washington os problemas da região". De fato, declarações dos demais líderes latino-americanos davam conta do impasse alcançado por um órgão criado no auge da Guerra Fria exclusivamente para impor a dominação estadunidense sobre os povos latino-americanos. ''A América Latina está fazendo de Cuba o teste de fogo da sinceridade da (nova) abordagem da administração Obama para a região", disse a especialista em Cuba do Conselho de Relações Exteriores norte-americano, Julia Sweig na véspera da reunião em Honduras. Ou seja, longe de querer ser benévolo, o governo dos EUA cedeu impotente àquela que talvez tenha sido a maior derrota da história na sua política exterior para a América Latina precisamente a fim de evitar uma derrota ainda mais esmagadora - a dissolução definitiva do seu próprio "ministério das colônias".

Derrota do Império, vitória das forças progressistas do continente. Em primeiro lugar, o ato histórico demonstra o respaldo e a legitimidade que a revolução cubana acumulou perante toda uma geração de latino-americanos como o farol da liberdade na luta contra as ditaduras civil-militares que assolaram nosso continente no passado, de tal forma que os cubanos podem agora colher os frutos de sua longa e incontida solidariedade internacionalista. E em segundo simboliza o rompimento das amarras da dependência da América Latina para com o gigante do norte, que tem feito dos países do continente simples marionetes de sua política exterior desde suas independências há quase dois séculos. É sintomático que em todo o continente nomes sinistros como Somoza, Stroessner, Trujilo ou Pinochet tenham dado lugar a próceres como Chávez, Correa, Lugo, Funes, Daniel Ortega e Evo Morales. Sinal de um tempo que marca a vitoriosa chegada ao poder de forças populares e progressistas por toda a América Latina, que há mais de uma década já vêm levando a cabo suas respectivas revoluções nacionais emancipadoras.

De fato, mesmo que aos poucos, a emancipação da América Latina já não pode mais ser impedida pelo cada vez mais enfraquecido Império do norte, pois assim como o socialismo, ela é uma força histórica que por mais que se busque reprimir, nunca se conseguirá conter. E nesse contexto latino-americano cada vez mais rebelde, a revolução cubana no alto dos seus cinqüenta anos de idade novamente desponta como símbolo maior dos avanços no continente, já que, da mesma forma que a OEA, com suas políticas anti-Cuba isolacionistas e desestabilizantes se encontra agora relegada ao lixo da história, também o vergonhoso embargo econômico imposto pelos EUA a Cuba, último marco da dominação gringa na nossa América Latina, se encontra cada vez mais próximo de cair sob o peso insustentável de seu próprio arcaísmo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Capitalismo x Socialismo – o grande jogo do século XX

Quando aquele comentarista alemão barbudo anunciou que a disputa do título da mais avançada sociedade existente ia ser decidido entre o Capitalismo e um tal de “Socialismo”, ninguém deu crédito a ele. Como o poderoso time de Smith, Ricardo, Bismark e a Rainha Vitória poderia ser desafiado na decisão por um timinho de um pequeno punhado de teóricos “do-mundo-da-lua” e de agitadores “malucos”? É claro que não, dizia a imprensa esportiva, negando até mesmo que pudesse existir tal jogo. Mesmo que o barbudo alemão insistisse nas inúmeras fragilidades do time do Capital, que iam desde a zaga social cheia de buracos até o instável ataque da economia, ninguém dava atenção a tal confronto. O escrete do Capital, diziam os locutores burgueses, havia na prática ganho antecipadamente o campeonato muito antes quando o time, então comandado pelo técnico Napoleão Bonaparte, eliminara a equipe do Feudalismo com uma estrondosa goleada. Depois dessa, diziam eles, não haviam mais quaisquer adversários à altura das “leis econômicas naturais” e da “missão civilizatória” do Capitalismo. Por isso, insistia a imprensa esportiva, em verdade não havia sequer jogo a acontecer.


Porém, sem que praticamente ninguém percebesse, a História se encarregou de colocar frente a frente o poderoso Capitalismo contra a novel agremiação dos “malucos de vermelho”. E logo aos 17 minutos, em jogada individual de craque, o centroavante Vladi “Bolchevique” Lenin apareceu na pequena área para se aproveitar de uma domingada do zagueiro capitalista (um tal de Guerra Imperialista) e tocar pro fundo das redes. Socialismo 1 x 0. O estrondoso tento chamou a atenção de toda a redondeza, e agora que as arquibancadas do estádio já iam se enchendo, a imprensa esportiva não podia mais negar que havia sim um título em disputa, e que seu time preferido tinha do outro lado a ser batido um adversário digno de uma grande final. Porém o time do Capital, que jogava todo de branco, sentiu o gol sofrido e errava passes bobos. Aproveitando-se da confusão adversária, o Socialismo rondava a área adversária com os meias Bella “Revolução Húngara” Kun, Rosa “Spartakus” Luxemburgo e o sempre perigoso atacante Movimento Operário, levando o time do Capital a começar a apelar pra violência. As botinadas dos beques capitalistas tiraram Rosa e Kun do jogo, obrigando o técnico vermelho a substituí-los pelos imprevisíveis e pouco entrosados Leon “Peruca” Trotsky e Zé “Kulak” Stalin. Mas mesmo assim, logo a seguir a zaga do Capital voltou a falhar, e após um lance grotesco do goleiro Crise Econômica (justo ele que, diziam, nunca mais ia voltar a falhar), o Socialismo ampliou o marcador aos 29 minutos. Com dois a zero no placar o desespero tomou conta do time de branco, e o técnico do Capital (o enigmático “Sr. Sistema”) resolveu apelar pro banco de reservas. Saem o Liberalismo e a Democracia, entram os agressivos centroavantes Adolf “Te Mato” Hitler e Benito “Boçal” Mussolini. Empurrados pelos gritos da torcida dos governos francês, inglês e ianque, a nova dupla de ataque dos brancos passou por cima do Movimento Operário e começou a pressionar o miolo de zaga soviético. Porém, num contra-ataque fulminante nos minutos finais do primeiro tempo, o centroavante Exército Vermelho marcou mais um para os vermelhos. Para o espanto de muitos, após os primeiros 45 minutos de jogo o placar era Socialismo 3 x 0. Tamanho era o estrago sofrido pelo escrete do Capital que o Socialismo, que começou sem ninguém a lhe apoiar nas arquibancadas, agora tinha a China inteira e metade da Europa torcendo a seu favor.


Acuado pelo impressionante placar construído pelo adversário, o técnico do Capital decidiu no intervalo fazer mudanças radicais. Ele sacou do time sua alucinada dupla de ataque nazi-fascista e até mesmo o capitão Exploração Selvagem (pelo menos por alguns minutos, pensava ele com seus botões de ouro), substituindo-os por suas jovens promessas: John “estimular-a-demanda” Keynes, Social-“nem-tanto”-Democracia e Consumismo S.A., todos aguardando ansiosos pela oportunidade de estrear e ajudar seu time a buscar a virada. O técnico também orientou os gandulas Grande Mídia e Serviço Secreto a censurar, sabotar e dar golpes sempre que a bola sobrasse pros de vermelho (quem disse que o jogo era em campo neutro??). No entanto, a favor do Capital havia o alento de que o time adversário, embora bem à frente no placar, estava tão ou mais estropiado do que quando começara a partida. Tudo graças à violência do antijogo branco, que primeiro com as botinadas da Repressão Policial e da Perseguição Política, depois com a Devastação da Guerra em campos adversários, ocorrida nos últimos minutos da etapa inicial, conseguira exaurir e encher de contusões o escrete rubro (e isso que a imprensa esportiva dizia que a equipe do Socialismo é que era a violenta!). E se a Guerra e tudo o mais os havia deixado bem atrás no placar, ao menos o Capital lucrara enormemente com os encarniçados embates dos minutos finais do primeiro tempo, prometendo assim voltar bem mais preparado do pós-guerra do intervalo. Os de vermelho, por outro lado, que já começaram o jogo pobres e combalidos, pagaram o preço de um desgaste físico e material impressionante para construírem sua vantagem no placar. Mesmo levando isso em conta, o técnico do Capital decidiu fazer mais alterações. Mandou renomear seu time de Capitalismo para Mundo Livre Democrático, e orientou os locutores da imprensa esportiva a chamarem o adversário de Império do Mal Comunista, ou simplesmente Comunista (por que será que essa palavrinha soa tão pesada??). E pra ver se dava sorte, também aproveitou pra mudar o uniforme do seu time. Tendo descido aos vestiários de calção e camisa brancos, agora os onze Heróis da Liberdade voltavam ao gramado de calção azul estrelado e camisa com listras vermelha e branca. Já os comunistas voltaram pra etapa final com as mesmas cores e a mesma formação, com a exceção do meia Trotsky e do volante Zezé “Partisan” Tito, expurgados do time pelo capitão Tio Zé “Coveiro” Stálin (que mudou de apelido depois de concluir que “Kulak” não parecia malvado o suficiente).


Logo nos minutos iniciais da etapa complementar a mudança de estratégia do técnico “Sr. Sistema” (que mudou seu próprio apelido para “Tio Sam”) começou a equilibrar o jogo. O carisma e o apelo irresistível dos laterais Consumismo e Hollywood começavam aos poucos a ganhar a torcida, enquanto os gandulas iam cumprindo com primor seu serviço de fraudes eleitorais e golpes, primeiro na Itália, depois na Grécia, na Coréia, na Indochina, e mais tarde na África e no delicado campo de defesa do Capital (mais conhecido como América Latina). Mesmo assim o placar seguia inalterado, quando aos 14 do segundo tempo (ou como os gringos contam, aos 59 minutos de jogo), em veloz triangulação de Fidel, Che e Raúl, a zaga capitalista foi pega de surpresa novamente e a bola foi morrer no fundo das redes. Socialismo 4 x 0! Agonia do Capital, festa da cada vez mais numerosa torcida vermelha. Doidos de paranóia, os beques burgueses (que já vinham distribuindo botinadas na Argélia, no Congo e no Vietnã), decidiram reforçar a defesa com mais repressão (ou nas palavras do locutor, “segurança democrática”) no Oriente Médio, na África do apartheid do Sul, nas colônias portuguesas e, claro, na América Latina. Enquanto isso, escondidos debaixo das arquibancadas, os cartolas já planejavam uma “virada de mesa” (ou como dizem por aí, Guerra Nuclear!).


No lado socialista porém, apesar da vantagem no placar e da vitória quase certa (precisamente como previra aquele outrora desacreditado comentarista alemão barbudo), os jogadores batiam cabeça e não chegavam a um consenso sobre o que fazer dali em diante. Che Guevara e Mao Tse-Tung queriam seguir o exemplo de Ho Chi Mihn e partir pra cima dos capitalistas, mas Kruschev e Breznev falavam em “coexistência pacífica” (afinal, diziam eles, em time que está ganhando não se mexe), ao mesmo tempo em que davam de relho nos volantes Tcheco, Húngaro e Polaco, que insistiam em desafiar a férrea disciplina tática do Monolitismo Soviético. Já o técnico comunista, vencendo por acachapantes quatro a zero aos vinte e pouco do segundo tempo (ou sessenta e tanto para os gringos), com todos os craques no seu time e com as arquibancadas cada vez mais do lado vermelho, julgou que o jogo já estava decidido e resolveu descer pros vestiários pra tirar uma soneca.


Porém o treinador acabou dormindo no ponto e quando acordou o tempo de jogo já estava nos 89 minutos. Subindo às pressas para o gramado, ele ficou estarrecido ao descobrir que o Capital havia virado o jogo para 7 x 4! Para o horror do treinador rubro, tudo havia mudado em campo. Seus craques haviam desaparecido, substituídos por velhos lentos e pançudos que mal tocavam na bola de tão preguiçosos. Revoltada com o futebol burocrático agora jogado pelos de vermelho, a totalidade do público nas arquibancadas passara a torcer para o time do Capitalismo. O comunista não podia acreditar no que via! Enquanto dormia no ponto, seu time começara a se esfacelar em campo nos últimos minutos e passara a sofrer gols sem parar do seu arquiinimigo, tudo sem que ele sequer percebesse! Voando em campo, o time do Capital virara o jogo com gols da Tecnologia, do Ecologismo, da Contracultura, do Liberalismo e do Mercado Regulado (que entrara no lugar do Livre Mercado para, com passadas dinâmicas e ágeis, dar um drible desconcertante na lenta Economia Planificada e marcar um golaço), além de mais um tento do Consumismo e um incrível gol contra do Movimento Sindical e Operário. Até as Bandeiras da Democracia e da Liberdade, que por tanto tempo estiveram do lado do Socialismo, agora dançavam alegremente atrás do gol do escrete do Capital, comemorando a vitória iminente daquele time que até pouco tempo atrás elas tão fervorosamente torciam contra. Sem poder fazer mais substituições, o atônito técnico comunista decidiu mandar avançar no ataque a Igualdade, a única que ainda jogava alguma coisa pelos vermelhos. Mas já era tarde demais para buscar o empate e aos 46 do segundo tempo (ou melhor, aos 91 de jogo) o juiz encerrou a partida. Vitória de goleada do Capitalismo! Festa no gramado, nas arquibancadas e por toda a parte pela título do escrete do Capital. Do outro lado, ninguém parecia sequer lamentar a derrota Socialista. Até mesmo o treinador comunista pendurou o boné e decidiu se aposentar, de forma que o time socialista, que até pouco tempo desafiara o Capitalismo de igual pra igual, desaparecera por completo tão logo o juiz encerrara a partida. Extasiados com a surpreendente e esmagadora virada de seu time, a imprensa esportiva enchia a boca pra falar que “sempre soube” do resultado final, que agora sim não havia mais jogo, a História havia acabado e o Capital era campeão inconteste. Aquele comentarista esportivo, o tal do alemão barbudo, estava errado afinal de contas, diziam os especialistas no esporte. O Capitalismo era mesmo o melhor!


Porém, à medida que o tempo ia passando, as arquibancadas se esvaziavam e a poeira da retumbante festa da vitória se assentava, as pessoas foram percebendo que, embora vencera de goleada, o Capitalismo não era aquele timaço que todos imaginavam. Novos concorrentes em potencial, como a Miséria, a Criminalidade, a Desigualdade, a Xenofobia, o Terrorismo e as Crises Ambiental e Econômica pareciam querer desafiar o Capital pra uma nova partida, num jogo de selvagerias que, sob o risco de não ter a quem torcer, todos desejavam que jamais ocorresse. Em meio a esse clima de indefinição quanto ao futuro do esporte, um punhado de “malucos” decidiu se juntar para tentar refundar o time do Socialismo. Eles sabem que são poucos, que seu amadorismo de time de várzea não chega aos pés nem do poderoso e profissional time do Capital nem dos agora principais rivais deste, o Caos e a Barbárie. Sabem também que o time anterior do socialismo já está extinto de vez e que, como qualquer um que morre, continuará morto para sempre. Mas mesmo assim eles ousam fundar um novo time de vermelho, renovado no seu futebol e na confiança daquele velho comentarista alemão barbudo de que o time do Capitalismo estava longe de ser invencível. Convencidos de que o campeonato não acabou, eles sabem que o Socialismo tem o direito de disputar o jogo de volta, e vão lutar com afinco por isso, correndo por fora pra superar os favoritos e, quem sabe assim, beliscar a taça. Aprender com as falhas do primeiro jogo é o primeiro passo para voltar a exibir um futebol vistoso e reconquistar o apoio da torcida, diz o novo técnico Movimento Anti-Globalização. Perdido em meio a esse mundo de crises, continua ele, o público está ansioso por encontrar outro time digno de sua torcida, e cedo ou tarde eles vão encontrar a quem torcer. Será que o alemão barbudo estava errado mesmo?

sábado, 23 de maio de 2009

25 Perguntas a Gilmar "Dantas"

1. Vossa Excelência sabe algo sobre o "assassinato" de Andréa Paula Pedroso Wonsoski, estudante que denunciou o seu irmão, Chico Mendes, por compra de votos em Diamantino, no Mato Grosso?

2. Qual a natureza da participação de Vossa Excelência na campanha eleitoral de seu irmão Chico Mendes em 2000, quando Vossa Excelência era Advogado-geral da União?

3. Qual a natureza da participação de Vossa Excelência na campanha eleitoral de seu irmão Chico Mendes em 2004, quando Vossa Excelência já era ministro do Supremo Tribunal Federal?

4. Quantas vezes Vossa Excelência acompanhou ministros de Fernando Henrique Cardoso a Diamantino, para inauguração de obras?

5. Vossa Excelência tem relações com o Grupo Bertin, condenado em novembro de 2007 por formação de cartel? Qual a natureza dessa relação?

6. Quantos contratos sem licitação recebeu o Instituto Brasiliense de Direito Público, do qual Vossa Excelência é acionista, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso?

7. Vossa Excelência considera ética a sanção, em primeiro de abril de 2002, de lei que autorizava a prefeitura de Diamantino a reverter o dinheiro pago em tributos pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, da qual Vossa Excelência é um dos donos, em descontos para os alunos?

8. Vossa Excelência tem alguma idéia do porquê das mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão ao longo dos anos jamais terem tido andamento?

9. Vossa Excelência tem algo a dizer acerca da afirmação de Daniel Dantas, de que só o preocupavam as primeiras instâncias da justiça, já que no STF ele teria "facilidades"?

10. O segundo habeas corpus que Vossa Excelência concedeu a Daniel Dantas foi posterior à apresentação de um vídeo que documentava uma tentativa de suborno a um policial federal. Vossa Excelência não considera uma ação continuada de flagrante de suborno uma obstrução de justiça que requer prisão preventiva?

11. Sendo negativa a resposta, para que serve o artigo 312 do Código de Processo Penal segundo a opinião de Vossa Excelência?

12. Por que Vossa Excelência se empenhou no afastamento do Dr. Paulo Lacerda da ABIN?

13. Por que Vossa Excelência acusou a ABIN de grampeá-lo e até hoje não apresentou uma única prova? A presunção de inocência só vale em certos casos?

14. Qual a resposta de Vossa Excelência quanto à objeção de que o seu tratamento do caso Dantas contraria claramente a *súmula 691*do próprio STF? ("STF Súmula nº 691 - 24/09/2003 Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior, indefere a liminar (conhecimento na Hipótese de Flagrante Constrangimento Ilegal)"

15. Vossa Excelência conhece alguma democracia no mundo em que a Suprema Corte legisle sobre o uso de algemas?

16. Vossa Excelência conhece alguma Suprema Corte do planeta que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas?

17. Por que Vossa Excelência disse que o Deputado Raul Jungmann, notório acusador dos "excessos" da Operação Satiagraha, foi acusado "escandalosamente" antes de que qualquer documentação fosse apresentada?

18. Vossa Excelência afirmou que iria chamar Lula "às falas". Vossa Excelência acredita que essa é uma forma adequada de se dirigir ao Presidente da República? Vossa Excelência conhece alguma democracia onde o Presidente da Suprema Corte chame o Presidente da República "às falas"?

19. Vossa Excelência tem alguma idéia por que a Desembargadora Suzana Camargo, depois de fazer uma acusação gravíssima - e sem provas ao Juiz Fausto de Sanctis, pediu que a "esquecessem" ?

20. É verdade que Vossa Excelência, quando era Advogado-Geral da União, depois de derrotado no Judiciário na questão da demarcação das terras indígenas, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem as decisões judiciais?

21. Quais são as relações de Vossa Excelência com o site Consultor Jurídico? Vossa Excelência tem ciência das relações entre a empresa de consultoria Dublê, de propriedade de Márcio Chaer, com a BrT?

22. É correta a informação publicada pela Revista Época no dia 22/04/2002, na página 40, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja: Vossa Excelência, pagou R$ 32.400,00 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual Vossa Excelência mesmo é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? Vossa Excelência considera isso ético?

23. Vossa Excelência mantém a afirmação de que o sistema judiciário brasileiro é um "manicômio"?

24. Por que Vossa Excelência se opôs à investigação das contas de Paulo Maluf no exterior?

25. Já apareceu alguma prova do grampo que Vossa Excelência e o Senador Demóstenes denunciaram? Não há nenhum áudio, nada?


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quinta-feira, 14 de maio de 2009

Rabos Presos

Um banqueiro corrupto, um juiz mais que suspeito, governo e oposição de direita em polvorosa, tudo com a cumplicidade de jornais e revistas. Entenda como uma longa história de escândalos e mentiras compromete e corrompe o regime capitalista brasileiro a ponto de torná-lo irreformável.

OBS: GRAVE OS NOMES E CITAÇÕES EM NEGRITO. Eles serão importantes para você não se perder no caminho dessa longa história...

Por Eduardo Grandi: autogoverno@gmail.com



1990/1998 – Os contatos do magnata:

Um emergente e bem-sucedido empresário desponta no mundo dos negócios, apesar das denúncias contra ele: de início, enriquecimento por uso de informações privilegiadas durante o Plano Collor. E mais tarde, conhecendo segundo seus amigos a mentalidade “colonizada” do governo brasileiro, previu a chegada da era das privatizações e teve destacada atuação nas fraudes das vendas de estatais durante o governo FHC, com denúncias de favorecimento a seu banco na compra de importantes fatias da Telebrás. Sua carreira controversa lhe rendeu frutos como o controle da Brasil Telecom, o crescimento exponencial do seu banco de investimentos e importantes contatos junto ao governo do PSDB (primeiro rabo tucano). Em contrapartida também lhe trouxe inimigos poderosos e o colocou na mira da Justiça. Seu nome: Daniel Dantas, controlador do Banco Opportunity: o rabo do banqueiro está exposto.



2000/2002 – O lado negro do paladino da Justiça:

Na época das eleicões a prefeito de Diamantina (MT) em 2000, Andréa Wonsoski, 19 anos, estudante e cabo eleitoral do candidato Chico Mendes (PPS), prestou depoimento em delegacia local dizendo ter sido ameaçada por correligionários do ex-patrão, confundida por sua irmã, que denunciara compra de votos pelo então candidato do PPS. Logo depois Andréa desapareceu, e três anos após o ocorrido uma ossada foi encontrada no mato. Era Andréa, que fora executada com um tiro na nuca. A jovem fora enterrada nua, indicando possível estupro antes do assassinato. O crime nunca foi solucionado e Chico Mendes, membro da oligarquia que no passado servira de represente da ditadura civil-militar em Diamantina, foi eleito prefeito. Dois anos depois, o irmão de Chico Mendes é indicado ao STF, para anos depois ser questionado por colegas de magistratura a respeito de seus “capangas do Mato Grosso”. Quem prestou o desserviço à Nação de indicar homem de tal reputação ao STF foi nada menos que o Presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que o elegeu mesmo pesando contra o juiz sérias evidências de corrupção envolvendo uso de poder e dinheiro público para beneficiar suas posses em Diamantina (uma faculdade e um frigorífico). Numa missão impossível que saltou aos olhos até mesmo da setores da grande imprensa, o PSDB fez das tripas coração para conseguir emplacar o jurista no STF. A retribuição veio em 2008, com o agora ministro do STF livrando a cara de dois figurões do PSDB, Pedro Malan e José Serra, acusados de improbidade administrativa enquanto ministros de FHC. (segundo rabo tucano). O nome do juiz: Gilmar Mendes. O rabo do ministro-chefe do STF está exposto.



2005 – Estouro do escândalo do “Mensalão”:

Em maio, a revista Veja acusa o deputado governista Roberto Jefferson (PTB) de estar roubando dos correios. Abandonado por seus aliados ocultos com a instalação da CPI dos Correios dois meses depois, Jefferson abre o bico e denuncia seus comparsas. Ele aponta o publicitário Marcos Valério como coordenador de um mega-esquema de corrupção que pagava “mesadas” a deputados do PP e do PTB para que estes votassem a favor do governo Lula no Congresso. O dinheiro era captado por Valério através do chamado “valerioduto”, e entregue a Delúbio Soares, então tesoureiro e membro da Direção Nacional do PT, que redistribuía o dinheiro aos deputados comprados. Mais tarde o próprio Delúbio admitiu a existência de um caixa-dois para a campanha de Lula, enquanto Jefferson passou a usar a CPI como palanque para expor os podres do PT e desviar o foco de sua própria culpa, no que foi bastante ajudado pela grande mídia, sedenta por derrubar o presidente Lula. Embora este tenha escapado incólume, a lama respingou sobre nomes de peso do governo, como o Ministro-Chefe José Dirceu, o Ministro da Fazenda Antonio Palocci e o presidente do PT, José Genoíno (cujo assessor de seu irmão proporcionou a bizarra cena dos dólares na cueca), demonstrando o quanto a corrupção se alastrara até as entranhas do PT. As evidências se avolumaram, com o depoimento da ex-secratária de Delúbio na CPI e a coindicência encontrada entre vultosos saques em espécie das contas de Marcos Valério e a aprovacão no Congresso de importantes projetos governistas, como a infame “reforma” da Previdência (primeiro rabo do PT). Sob os coros da grande mídia, nasceu a CPI do Mensalão, que no entanto cometeu o sacrilégio de ir além do que seus criadores do PSDB/DEMO e do PIG (Partido da Imprensa Golpista) desejavam, passando a investigar a existência de um esquema semelhante que comprara votos no Congresso a favor da reeleição de FHC. Também pouco se falou sobre as ramificações do esquema de Marcos Valério ao PSDB durante o "mensalão mineiro", com o Ministério Público denunciando em 2007 o esquema tucano como sendo “o laboratório do Mensalão” (terceiro rabo tucano).

Como resultado, governo e oposição se uniram para acabar com a incômoda CPI, que morreu poucos meses após sua criação sem sequer produzir um relatório final. Rabo preso PT-PSDB. Na época divulgou-se que o principal alimentador do “Valerioduto” teriam sido estatais como os Correios e o Banco do Brasil, e a história pareceu ter morrido por aí.



Interlúdio: as idas e vindas do Partido da Imprensa Golpista (PIG).

De início, tirando as eternas intrigas contra o governo Lula, a grande imprensa parecia ter uma atuação insuspeita. Em 8 de maio de 2002, a Folha de S.Paulo, através do seu colunista Dalmo Dallari, expôs alguns dos podres de Gilmar Mendes, então ainda postulante a Ministro do STF. Gilmar ficou tão furioso que tentou sem sucesso processar Dallari, proporcionando a absurda situação de um futuro chefe do Poder Judiciário brasileiro promover ataques à liberdade de expressão! Destaca-se aqui a disposição da Folha em brigar com Gilmar Mendes em 2002.

Outro notório membro do PIG, a revista Veja, publicou em 2004 reportagem rasgando elogios à atuação da Polícia Federal e de seu diretor-geral, Paulo Lacerda, que vinha varrendo os corruptos escondidos dentro da corporação: “os benefícios seriam ainda maiores se outras instituições também empreendessem um processo de autolimpeza”, recomendou na época a reportagem. Em 2004, a Veja fica do lado da PF e louva Paulo Lacerda.

Porém, apesar da impresão impecável, nos bastidores o PIG continuou fazendo seus negócios de sempre, dessa vez no entando indo longe demais. Segundo apontou o jornalista Luís Nassif na sua brilhante série de reportagens “O Caso de Veja”, tanto a revista quanto a Folha, a partir de meados de 2005 iniciaram de súbito uma campanha de defesa do nome e dos interesses de nada menos que Daniel Dantas, até então atacado pela dupla através da revelação de suas fraudes na compra da Brasil Telecom. Em outubro, a Folha lança ataque contra uma juíza do RJ que proferira sentença contrária aos interesses de Dantas. Pouco antes, em setembro, a Veja publicara uma “denúncia” tão estapafúrdia contra o presidente do STJ Edson Vidigal, que a própria Justiça, acostumada a sempre espichar as mentiras da revista, dessa vez rejeitou a acusação. Detalhe: Vidigal dera anteriormente parecer favorável aos inimigos de Dantas na disputa sobre o controle da Brasil Telecom. Em retribuição pelos serviços prestados, empresas de Dantas como a Telemig e a Amazônia celular desembolsaram polpudas verbas publicitárias para a publicação da Editora Abril.

E em maio de 2006, a Folha publicou entrevista com o próprio Daniel Dantas em que se sugere que o "pobre banqueiro" estaria sendo perseguido pelo governo Lula. A matéria foi assinada por Janaína Leite, a mesma “repórter” encarregada pela Folha de perseguir a juíza que contrariara Dantas.

Nesse tempo, os artigos de Luís Nassif já haviam se tornado populares na internet, levando a Veja a mover ataques pessoais contra o jornalista através das colunas do desbocado de aluguel Diogo Mainardi. Porém, já não havia mais como consertar o estrago de Nassif: agora o rabo da mídia, e ao mesmo tempo o rabo preso Dantas-PIG, estavam revelados.

No entanto, algo pareceu mudar quando, no dia 17 de maio de 2006, a Veja publicou o famoso dossiê de Dantas, em que o banqueiro dizia ter os números de contas secretas de Lula e outras autoridades petistas no exterior. Embora o tom da reportagem induzisse o leitor a acreditar na veracidade do dossiê (que no fim provou ser uma grosseira falsificação), soa estranho o fato da publicação da Abril não ter hesitado em dedurar Dantas como o autor da farsa. E se nesta mesma edição a Veja se apressou para novamente fazer de Dantas uma pobre vítima de chantageadores petistas (vide a “entrevista” do pau-mandado Diogo Mainardi), nas edições posteriores porém, a revista mudava de vez o tom com relação a Dantas. Na reportagem seguinte, a publicação da Editora Abril tachou Dantas de “burro” e “restolho da História”, cobrando a seguir investigação policial sobre ele. Embora isso já baste para demonstrar que as relações entre Dantas e o PIG são muito mais complexas e irregulares do que setores governistas da mídia preferem acreditar, tal matéria trouxe outras revelações ainda mais importantes: denunciando um encontro informal entre Dantas e o então Ministro da Justiça (que o próprio Ministro admitiu ter acontecido), supostamente a fim de estabelecer uma “trégua” entre o banqueiro e o governo, o artigo afirma que Dantas, no fim da reunião, teria disparado: “Que cumpram o prometido. Se eu afundar levo junto o PT, o PSDB e o DEMO”. Poderia supor-se que esse era apenas outro blefe de um magnata que se especializara em chantagens mentirosas, se não fosse o que se seguiu pouco depois, quando com votos do governo e da oposição, a CPI dos Bingos decidiu que não convocaria Dantas para explicar porque ele encomendara seu dossiê contra o PT... A reportagem seguiu apontando vínculos entre PT, PSDB/DEMO e Dantas: os senadores Arthur Virgílio (PSDB) e Heráclito Fortes (DEMO), dois notórios defensores do dono do Banco Opportunity, bem como outros dois deputados petistas, foram apontados como membros da “bancada de Dantas” no Congresso. Seja qual for o real poder (e as reais intenções) de Dantas, a reportagem da Veja em poucas palavras descreveu bem o que parecia estar se passando:A ameaça mostra o arco de partidos aprisionados por segredos acumulados pelo banqueiro nos últimos quinze anos. Rabo preso Dantas-PT-PSDB-DEMO.



2008: Satiagraha e o dramático desfecho:

Deflagrada em 8 de julho de 2008, a Operação Satiagraha da Polícia Federal prendeu Daniel Dantas e outros, como se sabe, por crimes contra o sistema financeiro. O que pouco lembram, porém, é que a motivação principal que levou à prisão do banqueiro foi seu envolvimento com o esquema do Mensalão. De fato, a PF descobrira que Dantas e seu Banco Opportunity eram a fonte de boa parte (senão a maioria) do dinheiro que sustentara a compra de deputados pelo PT – no mínimo R$ 150 milhões vindos das empresas de telefonia de Dantas teriam ido parar no Mensalão. De acordo com o deputado governista Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI dos Correios, o esquema de Dantas “era uma forma de transmissão de dinheiro para o Marcos Valério, que daí alimentava o Mensalão”. Segundo Serraglio, na época Dantas tinha interesse em agradar o governo porque ainda disputava na justiça o controle da Brasil Telecom. Com a ligação Dantas-Mensalão revelada, os rabos presos começaram a se emaranhar, chegando ao auge com a entrada em cena, no mesmo dia da operação, do agora Presidente do STF, Gilmar Mendes. Contrariando parecer do próprio STF, O juiz GM concedeu habeas corpus a Dantas, que assim teve que ser imediatamente solto pela PF. Cerca de dez horas depois, com base na tentativa de suborno de um delegado por parte de agentes de Dantas, o juiz responsável pela Satiagraha decretou outra vez a prisão do banqueiro. E lá foi GM fazer hora extra de novo para libertar Daniel Dantas, dessa vez argumentando que denúncia de suborno “não era suficiente” para manter preso o dono do Opportunity! GM também levou para o lado pessoal a segunda decretação de prisão, criticando publicamente os responsáveis pela Satiagraha e dando a entender que iria se vingar do juiz que o desafiara duas vezes. Rabo preso Gilmar Mendes-Daniel Dantas!

Embora ainda demorasse a que todos os rabos presos fossem revelados, duas prisões e dois habeas corpus em menos de 24 horas bastaram para começar a abrir os olhos do Brasil à podridão que o rodeava. Por defender tão escancaradamente o banqueiro corrupto, GM recebeu diversas moções de repúdio da sociedade: mais de 400 juízes assinaram documento condenando a ação do ministro-chefe do STF, assim como a Associação de Delegados da Polícia Federal (ADPF), a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e 42 Procuradores da República também defenderam a ação da PF que GM procurava minar. Logo se começou a discutir a necessidade de cassação do advogado de Dantas no STF, e foi na tentativa de defender GM que novos rabos presos foram revelados. Exceto alguns nomes irrelevantes, a tropa de contra-ataque do ministro-chefe do STF se centrou entre figuras do Congresso e de seus próprios colegas de STF. Entre os parlamentares que daí em diante se tornaria um dos maiores defensores de GM, lá estava o senador Arthur Virgílio (PSDB), o mesmo apontado pela Veja como integrante da bancada de Dantas no congresso (rabo preso GM-Dantas-PSDB). E quando quase a totalidade dos juízes do STF se puseram a favor de GM, outro fato estarrecedor veio à tona: vários dos ministros do STF são professores de uma faculdade de GM em Brasília, também acusada de se apropriar irregularmente de verbas públicas. Quando defenderam GM, muitos dos demais ministros do STF estavam na verdade defendendo seu próprio patrão: Rabos presos por todo o STF!! Por essas e outras, não é à toa que, em mais de vinte anos de vigência da ordem democrático-burguesa no Brasil, nenhuma autoridade tenha sido condenada pelo STF nas mais de 130 ações ocorridas no período... Até a Folha de S.Paulo, que anos antes atacara GM com toda a força, agora também mudava de lado e saía em defesa do “homem de Dantas” no STF.

Em meio a tantas suspeitas confirmadas e reviravoltas imprevistas, já se podia perceber algo de podre na República do Brasil. Mas ainda havia mais. Enquanto Daniel Dantas esteve preso, seu advogado ameaçou liberar documentos retidos pela justiça dos EUA que, segundo ele, incriminariam membros do governo. Podia ser apenas mais uma bravata desesperada, outra mentira contra o PT, diriam os setores minoritários da mídia governista. Porém, depois de solto, Dantas negou que seu advogado faria isso. Em tempo: tais documentos haviam sido retidos pelo próprio Dantas, para barrar processo que o ex-sócio Luiz Demarco movia contra ele.

Eis a razão: por mais que incriminassem o PT, tais documentos não podiam ser liberados sem comprometer ainda mais Dantas, que portanto só “afundaria de vez” o PT caso não tivesse mais quaisquer esperanças de salvação. Rabo preso Dantas-Dantas e segundo rabo preso PT-Dantas.

Muitos rabos presos já estavam revelados, mas o que aconteceu a seguir sugere que ainda havia muito mais a se esconder, e era preciso fazê-lo a todo custo.



2º Semestre de 2008: “abafa que isso já passou dos limites”.

Os meses que se seguiram à Satiagraha revelariam toda uma trama que uniria governo, oposição de direita, imprensa, juízes e empresários para desarticular e suprimir a operação da Polícia Federal e os responsáveis por essa, como se as investigações da PF tivessem agora cavado mais fundo do que o permitido, chegando perto demais do emaranhado de raízes da corrupção enterradas sob os pilares do regime capitalista brasileiro. Um a um, os únicos heróis de toda essa história foram pagando o preço da honestidade. Aqui outra pausa para relembrar os nomes destes três homens, embora já bem conhecidos pelo público: Protógenes Queiroz, delegado encarregado pela Satiagraha, Fausto de Sanctis, juiz encarregado da operação, e Paulo Lacerda, ex-chefe da PF (tão elogiado pela Veja no passado), que no ano anterior havia deixado a corporação para assumir a chefia da ABIN.

O delegado Protógenes foi o primeiro a cair: acossado pelos ataques insistentes do PIG (Globo, Veja, Folha e afins) contra os ditos “excessos” e “irregularidades” cometidos pela operação que ele comandara, o delegado também teria sido pressionado pela chefia da PF para retirar petistas da lista de investigados. A recusa em aceitar o jogo do governo foi o toque final para Protógenes (que acabaria sendo afastado do comando da Satiagraha uma semana depois de prender Dantas), mas não significou o fim das perseguições contra ele. Também não significou o fim da investida contra a Satiagraha, que foi parcialmente desmantelada com grande parte dos responsáveis sendo transferidos para outras operações.

A seguir, investiu-se contra o juiz Fausto de Sanctis. O magistrado paulista, que já prestara grandes serviços à sociedade, notadamente as prisões de Celso Pitta e de Juan Carlos Abadia (maior narcotraficante do mundo), de repente passou ao papel de vilão e depois de perseguido. Foi julgado pelo Conselho Nacional de Justiça, presidido por Gilmar Mendes (vingança cumprida) por supostos “abusos” na Satiagraha. Somente o massivo apoio de seus colegas juízes livrou Fausto das mãos de seus poderosos inimigos.

Por fim, veio a vez de Paulo Lacerda, aquele mesmo a quem a Veja havia rasgado elogios em 2004. Porém, aí os defensores da corrupta ordem vigente tinham um adversário de peso. Lacerda, agora diretor da ABIN, depois de comandar as investigações contra PC Farias, tornou-se o principal responsável pela transformação da Polícia Federal de um departamento insignificante na impressionante máquina de caça a corruptos que ela é hoje. Para desmoralizar e derrubar tão excepcional figura, foi preciso uma meticulosa cooperação entre o chefão do STF e o representante maior do PIG, a revista Veja. Tudo começou em agosto de 2008, quando a publicação dos Civita lançou a acusação de que Gilmar Mendes teria sido primeiro monitorado à distância, e depois grampeado pela ABIN de Lacerda. Como é de praxe da revista, tudo sem quaisquer provas. Enquanto GM cumpria a sua parte no circo cobrando providências imediatas de Lula, as “reportagens” do PIG seguiam sem disfarçar nem um pouco o tom de ataque direto à ABIN e à PF, que juntas haviam realizado a Satiagraha. A existência de tais grampos, é claro, nunca foi provada nem pelo PIG nem pela CPI que passou a investigá-las. Ao contrário, todas as evidências que surgiram daí em diante davam conta de outra grosseira mentira criada pela Veja e depois alimentada pelo restante do PIG para execrar e perseguir a Satiagraha e o antes louvado Paulo Lacerda e (invertendo os papéis) louvar o antes execrado e agora “perseguido” Gilmar Mendes. Tudo a fim de (por que não?) livrar Dantas e impedi-lo de abrir a Caixa de Pandora dos seus segredos. A ofensiva contra Lacerda deu certo: no mesmo mês ele acabou afastado da ABIN pela “denúncia” do grampo contra GM, em grande parte pela atuação do próprio governo; afinal, se nos anos 90 Lacerda derrubara o Presidente e todo o governo no escândalo PC Farias, o que ele não poderia acabar fazendo agora? Assim, o Planalto decidiu livrar-se de Lacerda entregando o trabalho sujo ao Ministro da Defesa Nelson Jobim, superior de Lacerda e principal acusador do ex-delegado dentro do governo. A tarefa não podia ter sido entregue a alguém mais apropriado: Jobim, que antes já havia sugerido a Lula o afastamento de Lacerda, também é empregado de Gilmar Mendes na faculdade do chefão do STF em Brasília...

Mas nem o afastamento de Lacerda da ABIN sossegou o PIG; de setembro até o fim do ano, a Veja publicou nada menos que sete “reportagens” a respeito dos “grampos” de Lacerda. Em dezembro, as mentiras de Civita, Mainardi, Azevedo e Cia. já haviam dado ao governo desculpas suficientes, criando clima propício para que o ex-diretor da PF pudesse enfim ser demitido de vez do cargo de diretor da ABIN. A mídia deu o passe e o governo marcou o gol que derrotou o Brasil. No fim do mesmo mês, a série incrível de “reportagens” da Veja sobre o “escândalo” dos grampos morria por completo. As mentiras do PIG sobre os grampos já haviam cumprido sua desesperada tarefa de salvar os rabos presos do corroído capitalismo brasileiro.



Fins de 2008/começo de 2009: Vitórias e dúvidas no ar:

O fim do ano de 2008 ainda presenciou o jogo duplo da grande mídia com relação à Satiagraha e ao seu “amigo” Dantas. Primeiro, no dia 10 de dezembro, a Veja “comemorou” a condenação em primeira instância contra o dono do Opportunity, ao mesmo tempo em que deplorava os “métodos ilegais” de Fausto e Protógenes, bem como voltava a atacar a PF como um todo: “a sentença de De Sanctis estaria (sic) contaminada por ilegalidades que teriam sido cometidas pela PF ainda antes da Satiagraha.” Não é de se surpreender que a defesa dos advogados de Dantas tenha o tempo todo baseado sua estratégia na tentativa de desqualificar como “ilegal” a operação da Polícia Federal.

A seguir, no dia 15 de dezembro, o programa Roda Viva da TV Cultura promoveu uma entrevista com o Ministro Gilmar Mendes que se tornaria um espetáculo de puxa-saquice jamais visto na história da televisão brasileira. Aduladores quase religiosos de GM (e por tabela, defensores de Dantas) como Reinaldo “petralha” Azevedo da Veja e Márcio Chaer da página Consultor Jurídico, proporcionaram um espetáculo de horrores que será para sempre lembrado quando o assunto for manipulação midiática, o que combinado com a total ausência do menor crítico ao ministro-chefe do STF no programa (especula-se que GM teria vetado a participação de nomes como Paulo Henrique Amorim e Luís Nassif) criaram um clima tão negativo à TV Cultura que o ombudsman da emissora, Ernesto Rodrigues, já no dia seguinte lançou nota criticando o desfecho do programa.

Enquanto isso, na virada do ano, o PIG e os grandes partidos políticos desenvolviam um “pacto silencioso” na tentativa de acabar de vez com a Operação Satiagraha. Os partidões comandavam o ataque na CPI das Escutas Clandestinas e a grande mídia lhes dava munição com um novo arsenal de mentiras pré-fabricadas. Em março desse ano, a Veja voltou com tudo com a ladainha dos grampos ao publicar matéria de capa saturada de uma paranóia que beirava o fanatismo, lançando dessa vez toda a sua carga demonizadora sobre Protógenes Queiroz, que a essa altura já havia se tornado nas ruas um símbolo vivo da heróica resistência contra a corrupção dos poderosos e pela sobrevivência da Satiagraha. Dessa vez o desespero da Veja era tanto que as “pobres vítimas” da vez eram o governo Lula, a Ministra Dilma Roussef e até mesmo o ex-ministro José Dirceu, todos inimigos clássicos da publicação. Também a data do novo ataque da Veja contra o seu odiado inimigo não podia ter sido mais providencial: o prazo legal da CPI dos Grampos se aproximava do fim e já se discutia a necessidade ou não da prorrogação desta. A nova mentira da Veja garantiu a prorrogação da CPI por mais 60 dias. O que no entanto nem a Veja, nem a Folha e nem a Globo noticiaram nesses dias cruciais para a campanha anti-Satiagraha foi a verdadeira face desta Comissão Parlamentar. Membros desta como Raul Jungmann (PPS) e Marcelo Itagiba (PMDB), este último presidente da CPI, que se destacaram como os principais advogados de acusação de Protógenes, Lacerda e De Sanctis na Comissão, eram eles próprios suspeitos de um sem número de crimes investigados pela Polícia Federal! O descalabro do PIG (Veja, Folha, Globo), dos grandes partidos (PT, PSDB, DEMO, PMDB, PPS, etc.), da “Justiça” (GM e seus “empregados” do STF) e dos grandes capitalistas (Dantas e só Deus sabe quem mais) chegara às raias do absurdo: agora os bandidos é que investigavam os policiais! No desesperado jogo de “um por todos, todos por um” a que a interminável rede de rabos presos conduzira a totalidade do regime brasileiro, tudo agora era permitido.

No entanto, nem tudo são notícias ruins. No início de maio, membros da sociedade civil e de partidos da oposição de esquerda ao governo Lula, cansados de tanto horror e iniqüidade, resolveram se manifestar num grande ato em Brasília pelo impeachment de Gilmar Mendes, figura central e símbolo maior da agora desnuda corrupção generalizada. E poucos dias depois, talvez na maior vitória da luta pela salvação da alma nacional desde o início da Operação Satiagraha, a CPI das Escutas Clandestinas aprovou relatório final inocentando Protógenes e Lacerda e pedindo o indiciamento de Daniel Dantas. Conquistas importantes de uma história que porém está longe de acabar ou mesmo de ser minimamente esclarecida.