domingo, 6 de setembro de 2009

Rapidinhas: pré-sal, Sete de Setembro e nossa América

O petróleo é nosso?

Em seu discurso para o sete de setembro, o Presidente Lula tocou no assunto mais crucial da atualidade: o destino do famoso pré-sal, a reserva de petróleo que pode transformar o Brasil numa Arábia latino-americana. Admitiu que para isso o país precisará necessariamente de uma nova legislação para controlar toda essa riqueza, mas ao tentar explicar qual é o projeto que tem para regular o pré-sal, Lula fez um discurso tão emotivo quanto vago e não apresentou quaisquer garantias de que as incalculáveis riquezas do pré-sal não vão parar em mãos gringas. Lula criticou o atual modelo de gestão de petróleo criado por FHC (que levou à privatização de diversas bacias petrolíferas nos últimos anos), mas também disse que “acredita no livre (sic) mercado”. Convocou o povo a discutir e participar do projeto, mas numa irresponsabilidade espantosa, quer aprovar no Congresso suas novas regras para o pré-sal com toda a pressa possível, em “regime de urgência”. Enalteceu o potencial que a Petrobras tem para cuidar das novas reservas, inclusive afirmando que a empresa se fará presente “em toda a área”, mas afirmou também que cada bacia terá “no mínimo 30%” de participação da estatal – e os outros 70%??
Em resumo, Lula enche a boca para falar da importância de manter a riqueza do pré-sal a serviço do desenvolvimento do país, mas nas entrelinhas deixa escapar que na prática pode acabar permitindo que ocorra justamente o oposto! Já a direita raivosa e entreguista, que sempre morreu de medo do lema que há sessenta anos levou à nacionalização do petróleo brasileiro (“o petróleo é nosso”), além de atacar a Petrobras no seu afã de terminar de privatizar o pouco que sobreviveu ao desgoverno FHC, também adora ridicularizar nos jornalões os poucos que nas ruas, nas universidades e nos sindicatos atentam a uma preocupação inquietante: será que o petróleo é mesmo nosso?


Sete de Setembro: que os excluídos gritem “o Brasil somos todos nós!”

No Brasil, há duas formas usuais de se reagir ao Sete de Setembro e ao sentimento de lembrança da pátria que este nos traz: há aqueles que rejeitam ou até mesmo ridicularizam a data nacional do país, parte como uma reação no estilo “panela de pressão” contra o nacionalismo que lhes foi empurrado goela abaixo nos anos de chumbo da ditadura civil-militar (1964-1985), parte por se envergonharem do seu próprio país, tido como “irremediavelmente perdido” em meio à corrupção, à desorganização, à injustiça e à violência. E do lado oposto há aqueles outros, geralmente os representantes mais gagás da nossa direita raivosa e reacionária, para os quais “ter amor à pátria” significa sair por aí agitando bandeiras verde-amarelas em meio a desfiles militares, ignorando solenemente os graves problemas do nosso país. Ambos os comportamentos caem no extremo, que sempre escapa ao correto. Enquanto os primeiros, verdadeiros “brasilifóbicos”, preferem esquecer a data e apenas aproveitar o feriado em si, os últimos enchem o peito em inócuas juras de amor “à pátria” ao mesmo tempo em que se põem longe da realidade de nosso sofrido povo. Pior, ao fazerem questão de serem os primeiros a vestir o verde e o amarelo e a gritarem o nome do país, muitos desses nacionalistas cegos acabam em suas idéias – e mesmo em sua prática cotidiana – colocando a sua noção distorcida de “Brasil” à frente dos próprios brasileiros! Assim agiram os militares e civis que fizeram a ditadura, bem como todos os desgovernos entreguistas que se seguiram à “redemocratização” no país. Fizeram e ainda fazem porque julgam que “Brasil” se resume à sua elite e nada mais. Ter clareza de quem de fato é “o Brasil” ajuda a escapar dos extremos, tanto dos que odeiam quanto dos que apenas dizem amar nosso país. Antes de tudo, é preciso que não tenhamos mais repulsa por nosso próprio país e sejamos patriotas – não nacionalistas, que pondo o “nacional” acima de tudo, são por definição egoístas e belicosos. Mas precisamos entender que essa pátria a quem devemos carinho e respeito não se resume aos governos nem às elites: o Brasil somos nós, o povo! E da mesma forma que não faz sentido odiar a nós mesmos, não podemos permitir que esse “nós” seja apropriado em nome e em benefício exclusivo “daqueles” que sempre foram donos do país e pensam que o Sete de Setembro e o Brasil são só deles!
Sim, precisamos ser patriotas, pois se não nos importarmos com nós mesmos, quem mais irá se importar? Mas ser patriota é mais do que apenas comemorar a data nacional do seu país. É seguir neste e em todos os demais dias do ano lutando por um Brasil melhor, feito por e para todos nós. Que a 15ª edição do Grito dos Excluídos, manifestação popular nacional que em todo Sete de Setembro enfrenta a apatia de muitos e o boicote quase total da mídia em busca desse novo Brasil, não nos permita jamais esquecer essas verdades.


E a “corrida armamentista” na América do Sul?


Com a visita do Presidente francês Nikolas Sarkozy ao Brasil, o governo federal planeja assinar com a França acordos “estratégicos” de compra de equipamentos e tecnologia militar que vão desde helicópteros e aviões caça até um submarino nuclear, totalizando o assombroso valor de mais de R$ 22 bilhões, soma equivalente ao que será investido no PAC ao longo do ano inteiro, e bem superior às compras de armamentos da Venezuela – que embora possua uma força militar bem inferior à brasileira, tem sido acusada pelos jornalões de ser “perigosa” e de estar fazendo uma “corrida armamentista” no continente. O que não se diz porém é que, embora haja certamente entre os generais brasileiros aqueles ansiosos por esmagar à força o incômodo exemplo da crescente mobilização popular na Venezuela Bolivariana, o autêntico inimigo em potencial fica um pouco mais a oeste. A Colômbia, que já possui um exército maior e mais bem equipado que o brasileiro, que é governada por um regime autoritário, militarista e com fortes pretensões ditatoriais e que ainda por cima pretende instalar sete bases militares do EUA em seu território – convertendo-a na ponta de lança gringa ideal para se mirar as riquezas da Amazônia – é que é o verdadeiro perigo. Ao longo dos séculos o capitalismo sempre buscou superar as suas crises produzindo guerras, de preferência longe de seu quintal, pra lucrar primeiro com bombas e depois com a reconstrução. E os EUA – centro do capitalismo mundial – ainda estão longe de se recuperar da última dessas crises, que por sinal eles mesmos criaram. Haverá um cheiro de guerra no ar?

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