sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O capitalismo e a crise, parte 1: o sistema financeiro global e a crise atual.

O que foi a chamada crise “financeira” de 2009? A pior crise econômica que já se abateu sobre o mundo desde 1929 já acabou ou ainda voltará? Quais as lições e conseqüências para o futuro que essa crise proporciona, e o que ela nos ensina sobre o capitalismo? São perguntas que esta série de dois artigos visa responder apenas parcialmente, quando não deixar totalmente em aberto. Não viso com isso mais do que apenas apresentar uma introdução básica ao entendimento do capitalismo e da dinâmica de suas crises, de forma a contribuir para a formação de militantes políticos preocupados com o problema crucial de compreender o capitalismo a fim de superá-lo.


Nesta primeira parte, procedo a uma análise superficial da atual crise econômica mundial, dando ênfase ao sistema financeiro, primeiro como estopim aparente da crise, depois como categoria capaz de expor muitas das fragilidades e das características mais íntimas do sistema capitalista. E na segunda parte, analisam-se as causas reais da atual crise pelo desnudamento das intrincadas relações existentes entre o dólar, o endividamento global, dando-se ênfase à importante relação entre essas categorias e as futuras crises do sistema.


Capitalismo e sistema financeiro.

O palco de todas as grandes crises do capitalismo ao longo de sua história tem sido o sistema financeiro, que é ao mesmo tempo a alma e o calcanhar de Aquiles do mundo dominado pelo capital. Portanto, entender o sistema financeiro (a saber, como este é e como se relaciona com o restante da economia) é vital para um correto entendimento do capitalismo e dos limites históricos deste sistema, determinados em grande medida por suas crises cíclicas, das quais a crise atual é um importante exemplo.


Hipotecas, juros, subprimes e derivativos: os nomes da crise.

Há um consenso mais ou menos formado entre os economistas liberais-burgueses sobre como estourou a crise atual, que embora busque contornar as reais causas da crise, se presta para fornecer uma boa noção dos mecanismos pelos quais as “turbulências dos mercados” crescem e se alastram. Tudo começou nos EUA, centro nevrálgico do capitalismo global, onde já em 2006 deixou-se o primeiro grão da bola de neve escapar morro abaixo, com a chamada crise do subprime. Subprimes eram um conjunto de diferentes formas de empréstimos (desde cartão de crédito até financiamento para carros e imóveis) que se proliferaram nos EUA a partir de 2001, concedidos a clientes sem comprovação de renda e com histórico ruim de crédito – portanto, altamente susceptíveis a não pagar as suas dívidas. O sistema de empréstimos indiscriminados a clientes potencialmente inadimplentes só se sustentava porque os imóveis – a parte mais crítica do subprime – mantinham seu valor em alta. Isso por causa da baixíssima taxa de juros então existente nos EUA, que tornando o crédito barato e facilmente acessível, permitia que as pessoas comprassem casas pagando-as com empréstimos, que a seguir eram pagos através de mais e mais empréstimos (a chamada rolagem das dívidas). Porém, quando por outros motivos o governo dos EUA permitiu que as taxas de juros subissem, a oferta de crédito minguou e ninguém mais pôde pagar suas hipotecas (espécie de contrato de crédito em que o próprio bem adquirido com o empréstimo, em geral imóveis, é dado como garantia ao credor caso o devedor não pague). E como a grande maioria dos devedores deixou de pagar, os credores (nesse caso, os bancos que concederam os tais empréstimos de subprime) foram afundando até entrarem em colapso. O grande estouro da crise ocorreu em setembro de 2008, quando o banco Lehman Brothers, um dos maiores e mais importantes bancos de financiamento do mundo, foi à falência junto com as financeiras Freddie Mac e Fannie Mae, gigantes do setor imobiliário norte-americano, que a seguir foram estatizadas naquilo que se considerou uma das maiores intervenções da História do governo norte-americano no mercado. E na mesma época, a AIG, maior seguradora dos EUA, precisou de uma injeção de 120 bilhões de dólares para ser salva da falência. Era só o começo da crise, que ainda em novembro se alastraria num efeito cascata para além das fronteiras dos EUA, levando políticos e banqueiros do mundo inteiro a abandonaram da noite para o dia seus dogmas sagrados de “livre-mercado” a fim de salvarem o capitalismo agonizante. Sai de cena a “mão invisível” do mercado, entra a “mão pesada” dos trilhões de dólares em recursos públicos injetados no sistema financeiro para salvar e/ou estatizar mundo afora empresas “grandes demais para falirem”, numa mega-operação global de intervenção estatal na economia como não se via no mundo há mais de meio século!

Porém, aos observadores mais atentos fica uma pergunta no ar: como os grandes capitalistas estadunidenses foram tolos a ponto de emprestar tanto para quem simplesmente não tinha como pagar? Como incontáveis gigantes do setor financeiro global, empresas “sólidas” e “confiáveis”, foram capazes de apostar tudo o que tinham em empréstimos simplesmente impagáveis? E como exatamente essa crise dos subprimes se alastrou por toda a economia?

Para responder a essas perguntas, é preciso primeiro entender como as mentes ardilosas e gananciosas de Wall Street foram capazes de vender gato por lebre para o mundo todo.


Derivativos, a alquimia financeira de transmutar lama em ouro.

Como os empréstimos subprime dificilmente geravam ganhos para os bancos que os concediam, tais bancos arquitetaram uma estratégia para tornar os subprimes lucrativos. Para diluir o risco dessas operações, os bancos credores juntaram-nas aos milhares e transformaram a massa resultante em títulos negociáveis no mercado financeiro internacional chamados derivativos, cujo valor era cinco vezes superior ao das dívidas nele embutidas! Como um punhado de capitalistas inescrupulosos conseguiram enganar o sistema financeiro global com esse truque de transmutar sacos de lama em arcas de ouro permanece uma incógnita. Há de se considerar o fato de que esses “sacos” chamados derivativos foram preenchidos com hipotecas de diferentes níveis de risco de “calote”, de forma que, diziam os alquimistas financeiros, as perdas e ganhos se compensariam estatisticamente, permitindo assim que os tais derivativos dessem lucro. Mas mesmo isso não explica como esses derivativos suicidas obtiveram o aval das principais agências internacionais de classificação de risco (de renome até então inquestionável), que deram aos tais derivativos o grau de segurança máxima, indicando-os como mais confiáveis até do que os títulos de dívida do governo brasileiro, por exemplo. Com essa classificação de risco bisonhamente errônea, capitalistas do mundo inteiro passaram a disputar a tapa a aquisição desses títulos, que pela força da procura tiveram então seus preços de mercado elevados drasticamente.

Pior, como os tais títulos contendo hipotecas “podres” eram negociáveis, teve início uma escalada desenfreada de compra e venda desses títulos, que assim incharam seus preços a ponto de passarem a “valer” muito mais do que valiam de verdade! Havia-se formado em torno desses títulos de hipotecas de risco aquilo que se chama de “bolha especulativa”. Bolhas especulativas são o atestado supremo de até que ponto a irracionalidade suicida do “livre mercado” burguês é capaz de chegar, atribuindo-se valores astronômicos (e até mesmo construindo-se patrimônios inteiros) em cima de “produtos financeiros” que não passam de sacos de lama! Tal fenômeno, típico de mercados financeiros “livres” e desregulados, ocorre quando, por conta de uma absurda escalada especulativa, o sistema financeiro passa a hipervalorizar algo que – ninguém sabe! – pouco ou nada vale. Companhias de seguros, bancos, financeiras, fundos de pensão e toda sorte de diferentes tipos de capitalistas e “investidores” oportunistas, crentes de que assim estavam a fazer “um grande negócio”, basearam parcelas enormes de suas riquezas nos tais sacos de lama, enraizando-os de tal forma no sistema financeiro global que este se tornou irremediavelmente infectado por uma verdadeira bomba-relógio. A detonação desta bomba (ou como se diz, o estouro da bolha especulativa) se deu no segundo semestre de 2008, com a falência do Lehman Brothers e a subseqüente queda vertiginosa das bolsas de valores mundo afora. Tornou-se recorrente ao longo da crise ouvir falar na imprensa como a crise fez “sumir” trilhões de dólares em questão de dias. Só mesmo a levianidade da grande mídia burguesa e a ganância cega dos capitalistas não é capaz de enxergar que nada se perdeu, pois não é possível perder aquilo que jamais existiu...

O que começou como aventureirismo inconsequente de alguns poucos grandes capitalistas acabava assim por levar o sistema inteiro à beira do colapso!


O sistema financeiro, alma e calcanhar de Aquiles do capitalismo.

Elaboradas há cem anos, as observações de Lênin sobre o agigantamento do poder do sistema financeiro no moderno capitalismo monopolista (chegando-se ao ponto do sistema produtivo se tornar totalmente dependente do capital financeiro) não podiam ser mais válidas para o mundo atual. Indústrias e demais empresas do setor produtivo necessitam cada vez mais do “mundo das finanças” para captar recursos, através de empréstimos, vendas de ações ou (como se torna cada vez mais corriqueiro) aventuras especulativas das mais complexas e arriscadas. Afinal de contas, especular, e não mais produzir, é o que dá grandes lucros nos dias atuais de libertinagem financeira. E dada a lei da selva da “livre concorrência”, em que os capitais menores são constantemente engolidos pelos maiores (através de falências e/ou fusões), lucrar (e portanto, especular) significa sobreviver. Inclusive o poder de classe capitalista, num mundo corporativo crescentemente controlado por executivos contratáveis e demissíveis (que portanto, não são proprietários), depende do poder dos acionistas como forma de dar continuidade às velhas relações de classe que caracterizam o capitalismo.

O sistema financeiro, porém, não só é a espinha dorsal do mundo dominado pelo capital como também, como não podia deixar de ser, guarda muito das principais características e fragilidades desse sistema, e por tabela, ensina muito sobre ele.

Como o mega-capitalista e crítico neoliberal George Soros observou com espanto, o desencadear da atual crise se deveu à completa incapacidade do sistema capitalista em avaliar os riscos dos novos e cada vez mais complexos “instrumentos financeiros” (como os sacos de lama do subprime) que bancos e agências financeiras criam a cada dia, tendência que só deve se agravar com a crescente complexidade de tais atividades. Pior, o que a atual crise prova é que, em mais de duzentos anos de história de capitalismo, este sistema não foi sequer capaz de desenvolver um método seguro e preciso mensurar valores! Os constantes estouros de bolhas especulativas, presentes em quase todas as crises cíclicas que assolaram o capitalismo desde os seus primórdios e até os dias atuais, são prova cabal dessa incapacidade. Assim, não é de surpreender que economistas burgueses falem que essa é uma “crise de confiança” no sistema e em suas instituições!

Mas por que o capitalismo padece dessa “incapacidade de avaliar corretamente riscos e valores”?

Há vários fatores que podem responder a essa pergunta. Uma parte da explicação é dada pelas amarras de certos preconceitos teóricos enraizados nas mentes da elite financeira do sistema. O ex-presidente do Banco Central norte-americano (Fed), Alan Greenspan, homem forte da política econômica do Império por quase vinte anos até sua saída do Fed em 2006 e um dos artífices da moderna ordem global neoliberal, é adepto de uma corrente de pensamento auto-intitulada “objetivismo” (ou “libertarianismo”), uma filosofia extremista e ultra-dogmática que apregoa entre outras coisas a “virtude do egoísmo” e um “fundamentalismo de mercado”, para o qual “os mercados sempre tendem a um equilíbrio natural” e o desenvolvimento das nações só seria possível “se cada indivíduo puder buscar livremente seus próprios interesses”. Tal fundamentalismo, antes uma crença religiosa do que um ramo das ciências econômicas, não possui quaisquer fundamentos na realidade concreta, como bem observou George Soros, ao lembrar que “foi a intervenção [do Estado] nos mercados, e não a livre ação dos mercados, que evitou que os sistemas financeiros entrassem em colapso.” Não obstante, tal fundamentalismo se tornou a ideologia econômica dominante no mundo inteiro nos anos 80 e 90, servindo de base teórica para o que se convencionou chamar de... Neoliberalismo! Assim, conforme observou o professor Carlos Antonio Luque, da Universidade de São Paulo (USP), o “senso comum” reinante entre os economistas da atualidade “parte do pressuposto de que os agentes econômicos são racionais e que a crise é uma anomalia. Essa postura condicionou a regulação e as políticas dos governos para lidar com a crise”, afirmou o professor, para quem o fato de “todos” preverem um 2010 “melhor” também se relaciona com a enorme dificuldade que os cérebros da economia burguesa têm para admitir que seu sistema é falho e que as crises não são meras “anomalias”... O mais incrível, no entanto, é que tal cegueira dos "homens do capital" foi incapaz de enxergar que uma repetição da História estava a ocorrer debaixo de seus narizes: de fato, a última grande crise do capitalismo, a Grande Depressão de 1929, ocorreu em parte porque os economistas da época também foram incapazes de ver além de seus dogmas liberais-burgueses e admitir que seu “livre mercado” desregulado caminhava para a completa auto-destruição. Só mesmo a ganância dos que cultuam a “virtude do egoísmo” consegue ser cega a ponto de não aprender com os próprios erros...

Outra parte da explicação vem das dificuldades crescentes que os “tomadores de decisões” do sistema capitalista, em especial do sistema financeiro, têm encontrado em tomar decisões corretas, por conta das contradições dos quais esses são prisioneiros e do fato de que, nos últimos anos, as inovações financeiras acabaram por superar a capacidade técnica de avaliação de riscos, de forma que o moderno sistema financeiro capitalista não consegue mais suportar o peso de sua própria complexidade. Tudo começou com o neoliberalismo na década de 80, quando os mercados financeiros mundiais começaram a ser desregulamentados, tendo sua supervisão governamental progressivamente relaxada, até que essa virtualmente desapareceu. Com o tempo, os “produtos financeiros” (tal como subprimes, derivativos e outros sacos de lama) adquiriram tamanha complexidade que até mesmo as autoridades governamentais se tornaram tecnicamente incapazes de avaliar os riscos destes, passando a se utilizar dos sistemas de gerenciamento de riscos do “mercado”, que pasmem, se baseavam nas informações fornecidas pelos próprios criadores dos sacos de lama! É como deixar a raposa cuidar do galinheiro! Dessa maneira, não surpreende que às vésperas da eclosão da crise, em setembro de 2008, o “mercado” ainda classificasse os subprimes como de “confiança máxima”... Quando o Estado se faz ausente, o mercado deita e rola, tornando assim inevitável que novas “bolhas especulativas” cresçam e estourem.

E cada vez que estoura uma dessas “bolhas”, exacerba-se o que o sistema tem de pior. Com a quebradeira no setor imobiliário norte-americano, a crise da habitação no Império agravou-se a níveis alarmantes, conforme atestou a relatora especial da ONU para o direito à moradia, Raquel Rolnik: “[nos EUA] é muito difícil achar moradia acessível, as pessoas estão gastando 80%, 90% da renda com aluguel ou parcela do financiamento”, disse Raquel, que em sua recente visita aos EUA presenciou inúmeras situações tais como pessoas morando em carros ou em “cidades de barracas”, além de famílias inteiras sem teto ou em apartamentos superlotados, divididos com outras famílias – tudo isso em pleno século XXI, e no país mais rico da Terra! Ao mesmo tempo, sobram casas para se vender e alugar no país, proporcionando uma típica situação capitalista: casas vazias de um lado, pessoas sem teto de outro, tudo simultaneamente! Enquanto isso, também a corrupção corporativa encontra terreno fértil na crise, quando nos EUA torna-se cada vez mais comum que capitalistas embolsem para si e seus comparsas o dinheiro dado pelo governo para socorrer suas empresas...


O desfecho da crise.

Em resumo, foi a venda e compra cega e irresponsável de “sacos de lama” (ou em outras palavras, títulos recheados de hipotecas impagáveis) por instituições financeiras do mundo todo que causou a detonação e o alastramento da crise, de origem estadunidense, para os principais bancos e companhias financeiras do mundo. E daí para se espalhar dos bancos para a economia real (fábricas, lojas, etc.) foi algo quase imediato, já que, com os bancos em crise, rareou o crédito para as empresas, muitas das quais dependiam desse crédito para sobreviverem. Até bancos que não se envolveram na orgia especulativa dos subprimes se viram em dificuldades, desde que, por exemplo, fossem credores ou tivessem ações dos bancos que adquiriram os tais sacos de lama. Com a quebradeira se generalizando, palavras como desemprego em massa, recessão e crise tomaram conta dos noticiários mundo afora, especialmente no chamado “mundo desenvolvido”, mas em maior ou menor grau no planeta inteiro. Como conseqüência, em 2009, a economia mundial como um todo encolheu pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial! Já o Brasil, diferente do que os lulistas preferem acreditar, escapou do pior da crise mais por sua posição geográfica do que por “competência” do governo. O fato é que os países capitalistas periféricos como um todo sofreram bem menos do que as grandes potências da Europa e da América do Norte, e essa é a única coisa que pode aliviar as consciências dos outrora “revolucionários” petistas quando eles ouvem Delfim Neto dizer que Lula teria “salvado o capitalismo brasileiro”...

Mesmo assim, essa crise ainda traz muitos riscos para os países periféricos, em especial a América Latina. Embora grande parte dos economistas afirme que o “pior da crise” já passou e que a recuperação já começou, ainda há indicadores do contrário (como a persistente fragilidade da economia estadunidense). Não há consenso sobre o futuro dessa crise, embora sejamos tentados a querer acreditar que o pior já passou e que, pelo menos por enquanto, as coisas voltem a melhorar em 2010.


Os riscos para as forças progressistas da América Latina.

Quando se torce pelo fim da crise, não se trata com isso de somente rechaçar o velho bordão extremista do “quanto pior melhor”. Há um risco político enorme relacionado a essa crise e à possível continuidade dela. Nos EUA, as eleições parlamentares de novembro podem marcar uma derrota do partido do cada vez mais impopular presidente Obama, com um reforço do poder dos setores mais fanáticos e belicosos da direita estadunidense. E para a América Latina, embora esta tenha, pela primeira vez na História, sofrido menos com as crises dos países centrais, ainda há o risco de os efeitos dessa crise (notadamente o aumento do desemprego e da pobreza) desgastarem as forças progressistas até então em ascensão na região. Pois o fato é que essa crise (e principalmente, o risco de continuidade desta), ao contrário do que se poderia pensar, tem potencial para golpear duramente os processos revolucionários da América Latina. Embora isso abra brechas para uma maior radicalização desses processos revolucionários (como a aceleração das estatizações na Venezuela), elas podem e devem também aumentar o descontentamento contra tais governos (como ficou claro com o caso recente da escalada da inflação, também na Venezuela).

No entanto, pior ainda ficou Cuba, que parece ter sido de longe o país que mais sofreu com essa crise na América Latina. Há quem pense que Cuba, “por ser socialista”, está distante dos perigos da crise capitalista. A estes, basta lembrar que a crise da dívida na década de 80 teve importância decisiva na derrubada do socialismo nos países do Leste Europeu – notadamente Hungria, Iugoslávia e Romênia. De fato, o ano de 2009 foi um dos piores para a economia cubana desde o “período especial” do fim da União Soviética. Para a ilha socialista, a crise significou queda no turismo, na remessa de dólares de cubano-americanos e queda vertiginosa no preço de seu principal produto de exportação, o níquel. A situação foi tão grave que o Congresso do Partido cubano, que ia ser realizado em dezembro passado, acabou sendo adiado para um futuro indeterminado por causa da crise. É de preocupar os possíveis efeitos que um novo agravamento dessa crise traria à Revolução Cubana, que por tudo que representa às forças anticapitalistas e revolucionárias do mundo, traria também conseqüências ainda maiores para as forças políticas que a Revolução inspira na América Latina e no mundo.

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