sexta-feira, 7 de maio de 2010

Eleições: entre a cruz e a espada

A cada dia que passa fica mais difícil escolher um nome para a disputa das eleições presidenciais de outubro, haja visto a cada vez mais gritante semelhança entre os principais candidatos. Quando o assunto é a violência no campo, a candidata governista Dilma Rouseff finge que não vê quando a Comissão Pastoral da Terra (CPT) demonstra o crescimento da violência no campo durante o governo Lula, e chega mesmo à insensatez de acusar os movimentos sociais do campo por tal violência, como fez ao criticar as “invasões” aos latifúndios durante sua visita ao Agrishow em Ribeirão Preto. Faltou à candidata “esquerdista” caráter para admitir que a violência no campo segue na verdade o caminho contrário, a saber, dos grandes proprietários sobre o povo organizado. Segundo a CPT, desde 1985 mais de 1.500 trabalhadores rurais já foram assassinados no Brasil, executados a mando desses mesmos latifundiários com quem Dilma foi buscar votos. Mas pior mesmo foi o “sr.” José Serra, que não só cumpriu seu papel elitista de atacar os movimentos do campo como também soltou pérolas como acusar os “invasores” de fazer “movimento político” (é óbvio que a luta por justiça social no campo é política!), além de defender o latifúndio porque este “produz”. Tivesse ele admitido que mais da metade da produção agrícola do país vem das pequenas propriedades e dos assentamentos da reforma agrária (que têm bem menos terras do que o latifúndio), a piada teria sido mais engraçada.

Igualmente comprometedoras foram as declarações da candidata petista sobre a recente decisão do STF de manter a impunidade aos crimes da ditadura civil-militar de 1964-85, lembrando que a posição do governo Lula no assunto foi e ainda é de “deixar pra lá” os crimes da ditadura. Porém, pior mesmo foram as declarações do deputado Aldo Rebelo, do governista PCdoB, que juntou coro aos militares torturadores para, por incrível que pareça, comemorar a decisão do STF. Segundo a Folha de S. Paulo, esse “comunista” considera que a manutenção da impunidade pelo Judiciário representaria a “vontade nacional (sic) de conciliação (sicsic).” Se este dito revolucionário prefere se “conciliar” com a injustiça e com os perpetradores desta, que não ponha o povo brasileiro no meio!

E a candidata “verde” Marina Silva? Declarou apoio à recente decisão do Conselho de Política Monetária de elevar drasticamente a taxa de juros no país. “Responsável e necessária” foi a infeliz definição da candidata em apoio a um dos maiores entraves ao desenvolvimento da nação. Juros altos significam menos crédito às empresas e às pessoas, menos crescimento econômico, menos emprego e mais pobreza – e a taxa de juros aqui já é uma das maiores do mundo. Sob o argumento de se “conter a inflação”, empurra-se o problema pra baixo do tapete ao “congelar-se” a atividade econômica, ao invés de se combater as verdadeiras causas da inflação – os gargalos da economia real e o descompasso na produção entre os diferentes setores, tão típicos de uma economia de mercado. Pior, Marina legitima com suas palavras uma das mais graves heranças neoliberais do desgoverno FHC, a saber o controle da política monetária por um órgão “independente” do governo, ou seja, fora do controle do nosso voto e completamente submetido aos interesses do grande capital financeiro privado, que é o único que sai ganhando com essa política irresponsável de juros altos que destrói o país. Indo além, a candidata do PV deixa claro que, em matéria de política econômica, ela está bem afinada com o que há de mais retrógrado no Brasil: “meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante” são as brilhantes e originais propostas desta candidatura para conduzir a economia! Cópia fiel e escancarada do velho receituário neoliberal criado por FHC (e mantido na essência pelo atual governo), o que soa normal pelo fato do “progressista” PV andar buscando nos Estados fechar coligações com a dupla reacionária PSDB/DEMO. A candidatura de Marina Silva pode até ser “verde” na aparência, mas por dentro ela é dourada como o ouro dos capitalistas...

Difícil achar diferenças entre os principais candidatos ao Planalto? Difícil escolher um nome em meio a essa mesmice monolítica? Isso só torna ainda mais urgente a tarefa de unir as forças realmente progressistas e de esquerda do país, sem representação nos grandes partidos mas ainda presentes na sociedade (associações de trabalhadores, movimentos sociais e ecologistas, sindicatos independentes, pequenos partidos de esquerda, movimento estudantil combativo, etc.) a fim de se iniciar a construção de uma alternativa real à ordem dominante, uma alternativa que vá além das eleições deste ano e que busque construir o futuro de um novo Brasil.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí Brasil!...