terça-feira, 23 de março de 2010

Sobre greves de fome e “dissidentes cubanos”.

Nas últimas semanas, a “comunidade internacional” e sua “mídia livre” têm dado especial destaque para a morte do preso cubano Orlando Zapata Tamoyo, ocorrida após meses de greve de fome. Imediatamente, Orlando foi tachado de “vítima” da “ditadura comunista” e proclamado como “mártir da liberdade” pelos agentes do capital. Porém, por detrás dos eternos interesses de classe da grande mídia capitalista, há histórias bem diferentes para se revelar.

Primeiro fato: a “vítima”, o prisioneiro Orlando Zapata.

Há muito a esclarecer sobre esse caso. Longe de ser um “preso político”, que nem a imprensa capitalista tem divulgado exaustivamente desde então, o fato é que Orlando Zapata não passava de um bandido comum, preso e condenado várias vezes nos últimos vinte anos por atos como agressão, invasão de domicílio e porte de armas. Seduzido pelas promessas de “heroísmo” dos mercenários pró-EUA, Orlando decidiu embarcar numa greve de fome suicida, exigindo entre outras coisas televisor e telefone em sua cela! Há quem diga no entanto que, em sua última prisão, Orlando foi encarcerado “por motivos políticos”. Porém, se for verdade, isso só serve para atestar o baixo caráter moral dos que lutam pela “mudança de regime” em Cuba, que de tão desmoralizados se veem obrigados a recrutar para as suas parcas fileiras bandidos comuns e de índole duvidosa. Como bem observou Marx no Dezoito de Brumário, o lúmpen-proletariado (a “escória” mais baixa da sociedade) é mesmo o segmento preferido no qual as forças reacionárias recrutam seus quadros sempre que carecem de legitimidade junto à sociedade. Mesmo assim, não é verdade também que Orlando não tenha recebido qualquer tratamento médico, pois ele de fato foi internado várias vezes e recebeu tratamento antes de vir a falecer. Orlando foi usado como "cordeiro de sacrifício" pela oposição mercenária e entreguista e convertido em “mártir” por estes e pela grande mídia capitalista, ambos desesperados por canonizar “heróis” para um movimento contra-revolucionário completamente desprovido de nomes e referências para sua “causa”.

Os “presos políticos” de Cuba.

Muito tem se falado também da situação dos “presos políticos” em Cuba, homens e mulheres “prisioneiros de consciência” na luta “por democracia”. Fica no entanto a pergunta: de que consciência estamos falando? E de que “democracia”? É a “consciência” de quem quer restaurar o luxo e a miséria da exploração capitalista em Cuba e reconverter a ilha em mera colônia dos EUA! E é a “democracia” dos ricos, em que candidatos se elegem não pelo número de votos mas sim pela quantidade de dinheiro que recebem dos capitalistas em suas “campanhas” fraudulentas!

Não se trata de negar a existência de presos políticos em Cuba, tampouco de negar o fato de que o mais avançado dos socialismos seria aquele em que ninguém precisasse ser preso por defender idéias, mesmo aquelas a favor da restauração capitalista. Mas nem sempre o ideal é possível. Cuba é talvez o último país socialista do mundo, e sofre pressões terríveis das forças contra-revolucionárias instaladas e financiadas pelos EUA, o grande Império do capitalismo mundial, situado a apenas alguns quilômetros da ilha. Também os problemas econômicos oriundos das deficiências do socialismo de Estado e do criminoso bloqueio norte-americano, somados à intensa campanha de hostilidades do capitalismo internacional contra Cuba, tornam a situação política na ilha de tal forma radicalizada e polarizada que se torna inaceitável ceder espaço para oposições radicais, capitalistas e de extrema direita. Falando concretamente, de que forma se dariam “eleições livres” em Cuba, ou como se criaria uma “livre imprensa” na ilha socialista? Da mesma forma que no leste europeu, em que as primeiras eleições pós-socialismo foram vencidas por oposições anticomunistas “turbinadas” por milhões de dólares de “ajuda” de “fundações para a democracia” de países do “mundo livre”, e em que a grande mídia estatal, uma vez privatizada, foi comprada por dinheiro obtido de “ajudas externas” e da corrupção pura e escancarada, sempre em favor da nova classe capitalista nascente.

Segundo fato: a greve de fome de uma presa política - no Brasil!

Um claro exemplo da tendenciosidade da “mídia livre” e de sua “democracia” vem do Brasil. Os mesmos jornalões que encheram a boca pra canonizar a “vítima” Orlando Zapata, ignoraram solenemente quando, na mesma época, a vereadora da pequena cidade paulista de Iaras, Rosimeire Serpa, junto com outros militantes sociais, era presa sem julgamento simplesmente por defender a justiça social no campo e se opor ao latifúndio. Acusada de envolvimento na ocupação das terras griladas da fazenda Cutrale, Rose foi detida sob “prisão preventiva” e entrou em greve de fome contra sua prisão injusta e arbitrária, tendo quase morrido por causa disso.

Sobre o caso da vereadora Rose, verdadeira dissidente e presa política, verdadeiramente lutando por uma causa justa, a favor das maiorias exploradas e empobrecidas - exatamente o oposto do que querem os verdadeiros interesses por trás da morte de Orlando Zapata - nem uma só palavra nos jornalões. Afinal, “vivemos em uma democracia”, não é verdade?

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