sexta-feira, 11 de junho de 2010

Conclat: notas sobre um racha anunciado

O Congresso da Classe Trabalhadora (Conclat), realizado no começo deste mês em Santos, encheu de expectativa a muitos. Centenas de delegados representando milhares de trabalhadores e militantes sociais de todo o Brasil tencionavam unificar, sob uma mesma central sindical, a maior parte dos movimentos laborais combativos do país, visando assim reforçar a luta contra o sindicalismo "pelego" de centrais vendidas a patrões e ao governo, como CTB, Força Sindical e CUT, preservando a independência da classe trabalhadora perante partidos e governos e aglutinando os trabalhadores do Brasil em torno de um instrumento sindical de luta pelo socialismo. Participaram do evento, além de diversos delegados e observadores independentes, representantes de centrais sindicais como a Conlutas (ligada ao PSTU, maioria no evento) e setores da Intersindical (formada entre outros por diversas correntes do PSOL), além de organizações comunistas como o MAS. Porém, liquidando com as esperanças de muitos, ao final do evento setores minoritários (que, na prática, ali estavam para discutir com a majoritária Conlutas sua união em uma nova central sindical) se retiraram do Congresso, justamente quando se votava o nome da nova Central, que assim acabou por ali mesmo, como diz o jargão, num grande "racha". Morriam assim, como que subitamente, todas as esperanças de unidade dos setores combativos da classe trabalhadora brasileira.

Tal desfecho trágico, embora chocante para alguns, já era mais do que anunciado. Era evidente que a briga e a nova divisão seria o resultado desse Conclat, pois sempre houve entre os grupos participantes do congresso uma inconciliável divergência em torno da concepção dessa nova Central. A diferença é simples: de um lado, uma proposta de central sindical classista, só de trabalhadores, defendida por grupos como o MAS e o PCB (ausente no evento), e de outro a concepção errônea de uma central "sindical" maior, "expandida", defendida pela Conlutas, à qual se somariam também setores não classistas (estudantes, movimentos sociais e de luta), confundindo assim as funções da nova entidade, de central sindical com central de movimentos sociais.

Cedo ou tarde, essa e outras diferenças básicas de concepção iriam mesmo levar a um "racha". Quem estava a par de tais divergências fundamentais, ou foi ingênuo de perder tempo indo até Santos, ou foi na intenção de enganar suas bases! Pois o fato é que nenhum desses grupos ali presentes, no fundo, queria de fato tal unidade. Sabiam que ia dar "racha", e só foram até Santos pra fazer parecer que "fizeram sua parte" e que "o outro lado" é que foi responsável pela divisão... Com o fim súbito da central que queriam, os "majoritários" da Conlutas encheram a boca para falar em "democracia operária" numa organização onde operários são minoria; disseram defender a "vontade da maioria" (algo que só defendem quando são maioria; quem conhece a prática de tal grupo nos espaços onde são minoria sabe bem disso). Usando o poder da maioria dos delegados, a Conlutas se impôs do começo ao fim, não abrindo mão de nada, nem em nome da unidade! Pois quando as minorias do MAS e da Intersindical cederam à Conlutas no que lhes era mais caro, aceitando a posição eleitoral e até a mesmo a concepção de central "expandida" defendida pela Conlutas, o mínimo que restava a esta era aceitar o nome que essa minoria queria à nova Central, mas nem nisso eles cederam! Ficou claro que o que estava a se construir ali não era mais política de unidade, mas sim de dominação! Em nome da "democracia operária", a Conlutas/PSTU não quis saber de negociação e "atropelou" na votação, rompendo um valor sagrado existente na esquerda, de dialogar ao máximo antes da votação, em busca do consenso e da unidade... Nisso é que dá um movimento ser hegemonizado por gente com falta de tato e habilidade política, e com uma minoria que já vai preparada pra "rachar"...

Porém, mesmo com esse desfecho mais do que anunciado, não há porque ser pessimista. O Conclat não tinha como vingar, pois era uma tentativa artificial de unir cachorro e gato sob o teto da mesma casinha. Mas isso não significa o fim; não importa que existam diferentes organizações "sindicais" se, no fim das contas, tais entidades lutarem pelas mesmas bandeiras. Nada impede que nas questões pontuais e mais urgentes do dia-a-dia essas diferentes organizações lutem juntas, como já se viu ocorrer várias vezes. Certamente que todos unidos numa mesma central seria o ideal, mas nas condições atuais isso não é possível (até indesejável, haja visto que seria uma "unidade" forçada e até autoritária), de forma que, cada um no seu canto, nesse caso é muito menos danoso do que alguns podem crer.

Um comentário:

AF Sturt Silva disse...

Concordo com texto e tem essa posição, ou seja central sindical tem que ser classista.
Em relação oa PCB,o partido já havia rachado com setores do psol dentro da velha Intersindical.Hoje são duas,a que o PCB milita quase não teve força nesse congresso.E a que participou do racha foi a fundada apartir de 2006 por setores do psol,principalmente!