sexta-feira, 18 de março de 2011

Obama no Brasil: o que o "bom moço" quer afinal?

Essa não apareceu nem no rodapé dos jornalões. No mesmo dia em que o Conselho de Segurança das Nações Unidas autorizou, por iniciativa estadunidense, o uso de "todas as medidas necessárias" contra a Líbia, a fim de "proteger os civis líbios" do regime de Muamar Kadafi, no exato mesmo dia, um ataque da força aérea norte-americana em Datta Khel, norte do Paquistão, matou 44 pessoas, todos civis inocentes tachados de "talebans" pelo exército do Império... A covarde e brutal agressão gerou uma onda de revolta em todo o Paquistão, com milhares indo às ruas para gritar frases como "abaixo os EUA" e "amigos dos Estados Unidos são traidores".

Kadafi, é claro, tem que cair. Chega de tantos desmandos e de autoritarismo sobre o povo líbio. Mas defender os "direitos humanos" dos líbios é o que menos importa ao Império estadunidense, mais preocupado em garantir todo para si o petróleo líbio, não importando se para isso terá que tomar "todas as medidas necessárias", incluindo aí, por que não, lançar suas marionetes da OTAN à uma guerra de agressão que mate muito mais do que o próprio Kadafi. Muito além daquele velho discurso de "democracia e direitos humanos" que não engana mais ninguém, o valor que o Império dá à vida pode ser contado pelas almas não vingadas de Datta Khel.

O que mudou de Bush para Obama?

Uma semana atrás, Obama ordenou a reabertura dos "julgamentos" dos prisioneiros do odioso centro de torturas da base de Guantánamo, jogando uma pá de cal na sua promessa de campanha de fechar o centro de detenção criado especialmente por Bush para "processar terroristas" à margem de todas as leis internacionais e convenções de direitos humanos.

Vinte meses antes, Obama esteve no Cairo, Egito, propondo em um discurso histórico (sic) um "recomeço nas relações com o mundo árabe." No mesmo discurso, saudou seu "grande amigo", o então presidente egípcio Hosni Mubarak, o mesmo tirano corrupto e autoritário que o povo egípcio tão dificilmente derrubou mês passado, dando a entender que seu "recomeço" nas relações com os muçulmanos não passava de conversa pra camelo ver. As vítimas de Datta Khel, mais uma vez, depõem a respeito no julgamento da História.

E o obsceno "prêmio nobel da paz" concedido pela província imperial da Noruega ao comandante-em-chefe do mesmo exército que se afundava em duas guerras sangrentas no Oriente Médio, concedido a Obama pela simples "promessa" que ele representava, e recebido pelo "presidente do mundo" (o mundo por acaso o elegeu?) com ameaças de mais sangue e guerras. No fundo, o povo de Datta Khel já esperava...

Antes da sua eleição, muitos apostaram nele por acreditar na mudança; seus eleitores não tiveram medo do terrorismo midiático da extrema-direita gringa, que diziam que aquele "preto" acabaria por "trazer o socialismo" aos Estados Unidos, o que na psique ianque equivale a dizer ele faria o reino de Lúcifer na Terra. Elegeram-no mesmo assim. Acreditaram que a "esperança venceria o medo". Hoje podemos dizer que o medo no fim das contas venceu realmente. Alguma semelhança com o que vemos hoje no Brasil, "companheira" Dilma?! Não é à toa que "a mulher do PT" convidou o "negro presidente" para esta visita, ambos se entendem: souberam aglutinar para si o apoio da maior parte do poder econômico de seus países para se alçarem ao governo, lembrando a este mesmo poder que, de tempos em tempos, é preciso que algo mude para que tudo permaneça como está.

América rebelde: o Império tem raiva

Nas reportagens da mídia oficial tupiniquim, uma certeza: ouviremos mais um "discurso histórico" este fim de semana, desta vez um "recomeço" nas relações do amigo do norte com a América Latina... Eles continuam a pensar que nós "cucarachas" somos otários? Depois do golpe em Honduras, articulado pela embaixada ianque bem no início do mandato do "bom moço"? E o bloqueio contra Cuba, crime de guerra pela Convenção de Genebra contra o qual Obama nada fez? E as sete bases militares na Colômbia, com as quais Obama irá cercar a Amazônia brasileira? Com esse currículo, eles ainda terão a cara de pau de nos dizer na televisão e nos jornalões que Obama vem para nos dar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU? Claro, o Império nada quer com o pré-sal... O que ganha afinal essa nossa "mídia livre" para continuar a repetir com tanta subserviência ladainhas de louvor ao inimigo?

Certo mesmo é que o Império continua apostando no Brasil para conter as "más influências" de países como Venezuela e Bolívia (cheia de moral com o patrão, hein "companheira" Dilma?), mas ainda mais certo é que, indepedente do caminho que Dilma escolher, Obama fracassará nesse intento, da mesma forma que Bush. O Império está com raiva: a cada ano que passa, as forças progressistas acumulam força na região e a América Latina escapa cada vez mais aos dedos ianques.

E a Obama, o que nós diremos?

Obama estará no Brasil este fim de semana. Seguiremos o contra-exemplo do Conselho de Segurança, dos vassalos europeus e de tantos tiranos corruptos mundo afora, nos curvando também ao "bom moço" que preside tantas barbáries? Ou teremos a dignidade de indagar o sr. Obama protestando nas ruas com a pergunta que não quer calar: até quando tanto maquiavelismo, tanta hipocrisia, tantos crimes?

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