Dizem que Marx, quando perguntado da grande “imparcialidade” da imprensa capitalista, disse: “Acreditou-se que a proliferação dos mitos cristãos, sob o Império Romano, só fora possível porque a imprensa ainda não tinha sido inventada. Ao contrário, a imprensa [moderna] fabrica mais mitos num só dia do que nunca se pôde fazer outrora durante um século, e o rebanho burguês acredita em tudo e propaga.”
Semelhante fenômeno se repete até os dias atuais, nas telinhas e nos jornalões, sempre que o assunto são os desafetos dos poderosos donos do capital. O mais recente exemplo a corroborar a sentença do velho filósofo alemão se viu esta noite no Jornal Nacional, da Rede Globo, que reverberando os jornalões da internet, pôs no ar uma das pérolas mais grotescas dos últimos tempos: citando “investigações da justiça espanhola”, a emissora acusou o presidente venezuelano, Hugo Chávez, de “dar apoio ao grupo terrorista basco ETA e à narcoguerrilha (sic) colombiana.” Simples assim, curto e grosso.
Não é de espantar que aos “srs.” da Globo seja tão difícil raciocinar sobre a veracidade de tais acusações, se perguntando primeiro no quanto é possível acreditar no regime espanhol, herdeiro da velha ditadura franquista, quando o assunto é a “guerra ao terror” de Madrid contra o separatismo basco. Há décadas que o “democrático” regime espanhol prende e reprime qualquer um que ouse levantar a bandeira da libertação do País Basco, tachando sistematicamente (e convenientemente) a todos que discordam da dominação espanhola de “possuírem ligações com o ETA.” Custa também à “cegueira” da Globo admitir o afã espanhol em desestabilizar e derrubar o governo Chávez, que vem ferindo seriamente os privilégios do grande capital espanhol na Venezuela ao expropriar empresas que não cumprem sua função social e especulam sobre a vida do povo. À Globo e aos jornalões custa inclusive enxergar o que raios, afinal, Chávez ganharia “apoiando o ETA desde que chegou a presidência”, em 1999... E sobre a acusação de “dar apoio” às FARC, aquela que, segundo a Globo, “contrabandeia drogas e controla grande parte da Colômbia” (mas como, a guerrilha não estava “destruída” mesmo??), custa também acreditar que Chávez forneceria “apoio” às forças beligerantes da Colômbia, justo ele que tantas vezes repudiou publicamente a luta armada como via de ação política... E como ficam tais acusações quando até mesmo o autoritário presidente colombiano, Álvaro Uribe – inimigo ferrenho de Chávez – declara não acreditar nelas?
Eis que, mais uma vez, somos testemunhas do poder da nossa mídia “livre” capitalista em fabricar mitos. No fim, tudo não passa de uma grosseira repetição da história: em primeiro lugar, repete-se pela total inversão de valores, tão característica dos jornalões; fabrica-se o mito de que a Venezuela “se intromete nas questões dos outros países”, quando é a própria Venezuela vitimada por constantes interferências do estrangeiro (como através das doações milionárias da organização estadunidense USAID para os grupos de oposição a Chávez); fabrica-se o mito de que Chávez “apóia o terrorismo” e planeja “assassinar presidentes da região”, quando é ele próprio vítima de complôs de assassinato, através de inúmeras incursões em solo venezuelano de paramilitares colombianos apoiados por Bogotá e os EUA; fabricam-se mais mitos ao afirmar-se que a Venezuela se converte em uma “ditadura” que “ataca a liberdade de expressão”, isso apesar da democratização do acesso à informação ter experimentado um salto enorme no país nos últimos anos, quando o número de canais de TV na Venezuela saltou de 31 privados e 8 públicos em 1998 para os atuais 65 privados, 37 comunitários e 12 públicos, conforme recente relatório da ONG Jornalistas pela Verdade para a União Européia.
E em segundo lugar, repete-se tanto pela insistência quanto pelo total despudor em se “fabricar” verdades: não é a primeira vez que se acusa a Venezuela de “apoiar as FARC”, de novo sem quaisquer provas, de novo porém “de forma inquestionável”. Como “inquestionável” foi quando se tentou fabricar o mito de que essa mesma FARC “financiava” a campanha eleitoral de Lula, ou quando os jornalões lograram construir o mito das “armas de destruição em massa” no Iraque. Ou, voltando-se mais no tempo, quando se reproduziam com sucesso mitos como o dos comunistas “comedores de criancinhas”... Mitos e mais mitos. Mostrar provas? Para quê? Como bem observou Marx, o “rebanho burguês” vai acreditar de qualquer jeito mesmo...
Um comentário:
Gostei do seu artigo.
Vou reproduzir no blog ousar lutar ousar vencer.Se caso tiver problemas me avise que excluirei.
abs!
http://ousarlutar.blogspot.com/
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