sábado, 3 de março de 2012

A "dama de ferro" e a lei férrea do desemprego

Provavelmente nada reflete melhor o inconciliável antagonismo que há entre os interesses do capitalismo e os do povo trabalhador do que a lei férrea que rege, nos marcos deste sistema, a questão do emprego (e por tabela, dos salários) dos trabalhadores. Não são muitos os que percebem (ou suportam perceber) que, apesar do repúdio "oficial" da mídia privada, dos governos burgueses etc. ao problema do desemprego, na prática um alto nível de desemprego é necessário, na verdade vital, para a saúde imediata do capital. Basta notar que, no capitalismo, a força de trabalho é uma mercadoria como qualquer outra, estando submetida às mesmas leis férreas de oferta e procura. Quanto menor o desemprego (ou seja, maior o equilíbrio entre oferta e procura de trabalho), maior o poder de barganha do trabalhador em relação ao patrão, os salários tenderão a ser maiores, mais pessoas terão uma fonte de renda garantida, maior será o bem-estar geral e... por seus maiores custos com a mão de obra, menores serão os lucros e a saúde do capital! Na situação oposta, maior desemprego, significando procura de emprego muito maior do que oferta, leva a um rebaixamento dos salários, pagos a cada vez menos trabalhadores; pior será a vida da população em geral e... maiores serão os lucros e o bem-estar do capital! Aí está toda a perversidade deste sistema e seu antagonismo principal: o que é bom para o capital é ruim para o trabalho, e vice versa!



Thatcher: neoliberalismo e lei férrea sem pudores

Na época da Guerra Fria (quando o capitalismo, em concorrência com o socialismo soviético, precisava mostrar seu "lado bom"), predominava em matéria de política econômica o reformismo keynesiano, que refutava a lei férrea dos empregos como absurda e buscava o desemprego zero dentro deste sistema. Esmagado pela pesada realidade da grande crise de "estagflação" em fins dos anos 70, a morte do keynesianismo deu espaço para que o capitalismo desenvolvesse livremente seu lado mais selvagem e destrutivo, dando luz ao chamado neoliberalismo. Precursora deste sistema na Europa, a "sra" Margareth Thatcher, essa mesma serpente que hoje a mídia capitalista vem paparicando no cinema, recorreu à lei capitalista dos salários para, sem o menor pudor, declarar publicamente que na Grã-Bretanha o desemprego estava "baixo demais", e que portanto a solução para a crise seria mandar pra rua mais pais e mães de família! A solução da crise era, portanto, solucioná-la para o capital e aguçá-la para o povo trabalhador, exatamente o mesmo remédio (ou seria veneno da serpente?) que hoje se impõe na Europa para enfrentar sua mais nova "crise". Neste aspecto, um filme sobre a vida da "sra" Thatcher não podia mesmo estar mais atual... Senão como explicar que, na tendência econômica mundialmente dominante (o morto mas ainda não enterrado neoliberalismo) trabalha-se sempre com metas de inflação, metas de câmbio, de juros, etc. e nunca com metas de desemprego? Talvez porque a eles um alto nível de desemprego ainda seja desejável, mesmo que lhes faltem os "colhões" de uma "dama de ferro" para que o possam admitir publicamente...

Solução

Se o desemprego é bom "para a economia" e ao mesmo tempo ruim para as pessoas, significa então que temos que nos resignar em engolir os eternos "remédios amargos" dos liberais-conservadores? Certamente que não? Mas então qual a solução para essa contradição fatal entre capital e emprego? Pode-se imaginar várias saídas. Numa delas, se toda a atividade econômica existente fosse planejada centralmente, regida por um Plano orientativo, desapareceriam as violentas oscilações que de tempos em tempos estouram em crises que sempre recaem nos ombros do povo trabalhador. Com a produção e os salários estáveis, planejados pela e para a sociedade, desapareceria até mesmo a necessidade de se demitir (p. ex, por conta de quedas imprevistas nas encomendas), permitindo assim a estabilidade geral nos empregos (abolição das demissões sem justa causa), fazendo com que o trabalho deixasse de ser uma mera mercadoria sujeita a "leis férreas" externas a ele.

Mas claro, com tudo isso levado em consideração, para a decepção geral de reformistas, "desenvolvimentistas" e neo-keynesianos, aí não estaríamos mais falando nem em capital nem em capitalismo...

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