sábado, 31 de março de 2012

Sobre comunistas e seus aniversários

No dia 25 de março completaram-se 90 anos da fundação do PCB. Há uma outra organização política que, mesmo tendo rompido de forma virulenta com o partido que agora completa seu nonagésimo aniversário, reinvidica para si esta data. Porém, a questão que realmente importa não é qual partido que está ou não fazendo 90 anos. Há muito mais a se discutir do que apenas nomes ou datas.
Já há muito que o PCdoB, cujos fundadores ironicamente viraram as costas ao PCB acusando-o de ser "direitista", vem jogando no lixo toda a história do movimento comunista brasileiro. Nada contra a obssessão deste partido em sustentar uma forma "moderninha". Mas seu conteúdo de partido que a nível federal faz parte de um governo privatista; um partido que preside ele próprio as privatizações do nosso petróleo na ANP; que redige um código florestal sob medida para os ruralistas; que se atola em denúncias de corrupção e preside o ministério do esporte, com seus projetos de realização de uma Copa e uma Olimpíada na lógica do esporte como mercadoria capitalista, de afastar o povo dos estádios, de expulsar as comunidades pobres dos locais onde passarão os turistas estrangeiros; um partido com suas bem conhecidas práticas no movimento estudantil e sindical, que vão desde a "tática dois" até a fraude de atas, o roubo de urnas e a agressão física e que transformou a outrora combatente UNE em simples correia de transmissão dos interesses do governo do PT; um partido que há menos de um ano teve a coragem de votar contra a derrubada da "lei da anistia", que perdoa os torturadores e assassinos da ditadura civil-militar (1964-85) que vitimaram tantos brasileiros, muitos dos quais comunistas, e que agora tem a cara de pau de se dizer defensor da "comissão da verdade"; um partido que nem no seu programa na TV consegue abandonar a condição de mero apêndice do governo petista, sempre pronto a vender a alma para defender esse governo dos "ataques da direita", mas que agora acaba de anunciar que sairá em coligação com o PSDB em Olinda; um partido que nem esse pode ser chamado de tudo, menos de comunista!

Sabe-se que o PCdoB é talvez o partido dito comunista mais bem sucedido eleitoralmente na América Latina, com capacidade para eleger prefeitos, deputados e senadores. Mas a que preço? Quando se vence uma eleição a troco de conchavos com a direita, em campanhas financiadas pelos capitalistas, não se está ganhando, mas sim perdendo. A menos que os objetivos estratégicos que se busquem não sejam mais os da revolução socialista. De fato, a pergunta que se faz a este partido é justamente essa: se é para fazer com o poder tudo aquilo que fazem, para quê querem esse poder, afinal?

Agora o PCdoB discute internamente a possibilidade de mudar de nome, abolindo de vez qualquer referência comunista e jogando fora a foice e martelo. Não farão isso somente porque sabem que o ideal da revolução socialista em meio à juventude é a sua principal fonte de militantes. Esta é a triste verdade: para o PCdoB, a ideologia socialista não passa de um nicho de mercado; não é mais o fim em si, mas apenas um meio para seu projeto de poder pelo poder.

E falando daqueles comunistas que, como dizia o velho Prestes, são revolucionários e não oportunistas, salta aos olhos a diferença que há entre a retórica do PCdoB e o último programa na TV do PCB, conforme se vê abaixo. Somente um partido que tem a coragem de remar de peito aberto contra a correnteza e que não tem vergonha de se assumir enquanto comunista, tanto na forma quanto no conteúdo, tem o direito de completar seus 90 anos, com muito orgulho de ser comunista!



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