terça-feira, 6 de julho de 2010

Eleições: quem dá mais na "democracia capitalista"?

Esta semana, com a definição oficial das candidaturas às eleições de outubro, divulgou-se também, junto ao TSE, a previsão de gastos das campanhas à presidência da República. São números que impressionam pelo tamanho desproporcional, e que por isso mesmo, têm muito a dizer sobre o real caráter de nosso sistema político e de nossa versão de "democracia".

Ao todo, as nove candidaturas à presidência declararam estimativas de gastos de quase meio bilhão de reais – com mais de 90% desse valor concentrado apenas em três candidaturas, que não por coincidência, praticamente monopolizam as atenções da grande mídia. Dilma Rousseff, do PT, declarou a intenção de gastar até R$ 157 milhões; José Serra, do PSDB, diz gastar até R$ 180 milhões; e Marina Silva, do PV, R$ 90 milhões...!

Pense bem: dada a quantidade de dinheiro envolvida (e a extrema concentração deste), para quem você acha que qualquer desses três candidatos governaria? Para seus eleitores, ou para aqueles que financiaram suas campanhas?! Que democracia é essa em que um candidato precisa de dezenas (ou até centenas!) de milhões de reais apenas para concorrer? Que democracia é essa em que fazer política depende do tamanho da conta bancária? Como pode haver "pluralismo" ou "liberdade de escolha" nas urnas se, para vencer, qualquer candidato depende de estreitos laços com aqueles mesmos grupos de interesse, a saber, grandes empresários, banqueiros e latifundiários? Antigamente havia o voto censitário, onde somente quem era rico podia votar; hoje porém há a candidatura censitária, onde somente quem é rico (ou tem o apoio destes) pode se candidatar!

Mas o pior de tudo são mesmo as contradições que essa democracia dos ricos gera dentre aqueles que aceitam as regras desse jogo de cartas marcadas. Como pode um partido dito "dos trabalhadores" ser apoiado financeiramente por patrões? Ou um partido dito "verde" ter sua candidatura apoiada pelo grande capital destruidor do meio ambiente? Quem paga a banda escolhe a música, diz o ditado popular. Nisso pelo menos os tucanalhas de José Serra, direita assumida, são coerentes...

Diante desse estado de coisas, há quem defenda o financiamento público das campanhas como solução ao problema, mas o buraco é mais embaixo. Afinal, quem gostaria de ver meio bilhão dos nossos impostos sendo gasto nos lero-leros televisivos daqueles politiqueiros de sempre? O problema está na própria lógica de se fazer campanhas movidas apenas a dinheiro, uma lógica que por si só desvia o foco do debate sério em torno de propostas (que na verdade pouco ou nada diferem, por serem todas as candidaturas do grande capital), fazendo do apelo sentimental e do culto à imagem o único diferencial relevante. Como disse Fidel Castro, dessa maneira os eleitores escolhem seus governantes como quem consome uma simples mercadoria; escolhem seu voto como quem escolhe um produto na prateleira do supermercado.

Não há como ser diferente. Democracia política exige como condição prévia a existência de democracia econômica, algo que simplesmente inexiste no mundo dominado pelo capital. É a concentração desproporcional de poder econômico nas mãos de grandes empresários, latifundiários e banqueiros que frustra qualquer possibilidade de implantação de uma verdadeira democracia nos marcos do capitalismo. Fica assim evidente porque a plena realização dos ideais da democracia exige, incontornavelmente, a superação do próprio sistema capitalista.

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