quinta-feira, 29 de julho de 2010

A esquerda revolucionária nas eleições*

Rui Costa Pimenta (PCO), Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), Zé Maria (PSTU) e Ivan Pinheiro (PCB): a esquerda "autêntica" nas eleições 2010.


Juntos, eles não somam nem 2% das intenções de voto, segundo as últimas pesquisas. Com poucos recursos e espaço limitado na propaganda de rádio e televisão, sabem que terão poucas chances de expor propostas e chegar ao segundo turno. Mesmo assim, os candidatos da esquerda ainda não jogaram a toalha. Querem aproveitar o ano eleitoral para reforçar o discurso e levar para as ruas um "programa de lutas".

Plínio de Arruda Sampaio já foi deputado federal e candidatou-se ao governo de São Paulo em 1990 e 2006. Agora, pelo PSOL, tenta pela primeira vez a Presidência, mas vê chances reduzidas de avançar na disputa.

- A possibilidade de eu ser presidente é pequena, e por isso prefiro falar de como a gente vê esse programa de luta. O nosso programa é um programa de luta para o povo brasileiro.

As propostas de Plínio se dividem em três eixos, e o principal é a reforma agrária. Para ele, é no campo que reside o núcleo da desigualdade social no Brasil. O pré-candidato do PSOL também inclui a estatização do sistema educacional e a socialização da medicina entre as prioridades de sua candidatura.

- O primeiro de tudo é a reforma agrária, porque a pobreza começa aí, a desigualdade começa aí, a opressão começa aí. Esse é o ponto básico.

Rui Costa Pimenta, do PCO, diz que sua candidatura não vai levar para a discussão um programa “meramente administrativo”, com fins eleitorais. O objetivo é incentivar o debate e a mobilização dos trabalhadores.

- Nós não nos entendemos como um partido puramente parlamentar, que aspira a conquistar o governo. Nós nos entendemos como um partido operário, que visa principalmente despertar a consciência, organizar e mobilizar a classe trabalhadora.

O secretário-geral e pré-candidato do PCB, Ivan Pinheiro, critica a polarização do cenário político entre PT e PSDB, o que, segundo ele, obedece uma tendência mundial de “americanização da política”. Nos Estados Unidos, as disputas eleitorais são protagonizadas por apenas dois partidos: o Democrata, do presidente Barack Obama, e o Republicano, de seu antecessor, George W. Bush.

- A mídia sempre seleciona duas alternativas que não questionam a ordem. Dentro desse quadro, seríamos muito demagogos se falássemos que temos chances de ir ao segundo turno. Estamos fazendo uma campanha que é mais política que eleitoral. Estamos aproveitando a campanha para denunciar como se faz campanha no Brasil.
O PSTU concorre pela terceira vez ao Planalto com Zé Maria de Almeida. Conhecida pelo lema “contra burguês, vote 16”, a legenda defende a estatização de todos os recursos naturais do país.

- Nós temos um programa socialista, que aponta para mudanças profundas na estrutura econômica, social e política do país, a começar por colocar os recursos naturais, como terras, minérios, a água e a biodiversidade, sob o controle do Estado.

O pré-candidato do PSTU também vê como estratégico o controle do Estado sobre a indústria e o processo produtivo.

- [É preciso] controlar o processo de produção instalado no Brasil para que se produza aquilo que a população precisa, para que a riqueza produzida pelo trabalho possa garantir emprego para todos, salário digno e direitos, e não apenas lucros para os donos das empresas.

O fortalecimento do Estado é também um dos pontos cruciais das propostas de Ivan Pinheiro, do PCB. Ele fala em tornar a Petrobras 100% estatal e defende o fim da autonomia do Banco Central e a suspensão da política econômica de superávit primário, "herança do governo FHC [de Fernando Henrique Cardoso]".

No plano externo, o pré-candidato do PCB sugere a adesão do Brasil à Alba (Aliança Bolivariana para as Américas), bloco regional encabeçado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e a retirada das tropas brasileiras do Haiti. Zé Maria, do PSTU, quer que o Brasil deixe de estar "subordinado aos interesses do capital financeiro internacional".

- Isso significa parar de pagar a dívida externa, romper os laços com o FMI [Fundo Monetário Internacional] e o Banco Mundial.

Ditadura eleitoral

Os quatro pré-candidatos se queixam do pouco espaço que terão de propaganda gratuita para conversar com o eleitor. Todos avaliam que o sistema é injusto, pois beneficia apenas os grandes partidos. Rui Costa Pimenta diz que o regime eleitoral é “oligárquico”.

- Se você não fizer parte da oligarquia de meia dúzia de partidos que estão no controle há décadas, não há a menor possibilidade de prosperar, qualquer que seja a sua política, mais moderada ou mais radical. É uma ditadura de meia dúzia de partidos.

O PSTU de Zé Maria vai tocar sua campanha apenas com doações de militantes e voluntários. O partido não aceitará contribuições de empresas.

- Isso implica compromissos com os financiadores. Vamos ter de compensar com ajuda voluntária.

Ivan Pinheiro, do PCB, também se queixa do pouco espaço dado pela imprensa aos partidos menores. Ele denuncia a existência de um “bloqueio midiático” e afirma que o processo eleitoral é um "reflexo" da desigual sociedade brasileira.

Nenhum comentário: