Contradição! O escandaloso aumento de mais de vinte centavos na
gasolina [01], ordenado pelo todo-poderoso Ministro da Fazenda (e funcionário
do Bradesco!), Joaquim Levy, foi anunciado no mesmo dia em que se noticiava
projeção de crescimento pífia para 2015 e perigo de crescimento ainda maior da
inflação, problemas que só devem se agravar com o enorme aumento do preço do
principal insumo da economia. E isso que o preço da matéria prima dos
combustíveis (o petróleo) não para de despencar no mercado internacional, ou
seja, a Petrobras poderia muito bem conter tal aumento. Como se explica uma
medida tão irracional?
Primeiro, pela própria lógica de empresa privada da
Petrobras (isso mesmo, privada, já que mais de 70% das ações preferenciais da
empresa estão em mãos de particulares [02]!), colocando o interesse de um
punhado de acionistas gananciosos à frente do interesse da imensa maioria da sociedade.
Pouco interessa o dano que tão abrupto aumento nos combustíveis vai trazer ao
país, pouco importa os sucessivos aumentos de produção da empresa, seus lucros
bilionários, e importa menos ainda que a queda dos preços do petróleo no mercado
internacional dê uma folga que permitiria segurar mais um pouco os preços. Nada
disso importa. O importante mesmo é recuperar o “valor” das ações da empresa,
em queda por conta dos escândalos de corrupção e da política “irresponsável” (aos
olhos dos imparciais analistas burgueses) de contida dos preços praticada em
anos anteriores.
Segundo, por pressão do sistema financeiro, que em ano posterior
às eleições sempre ganha força política para impor sua pauta de menos produção
e maior parasitismo financeiro [03], com aumento dos juros, dos impostos e
corte em investimentos, sempre com o argumento manjado de que é preciso “frear
a gastança” para conter a inflação (aumentando o preço da gasolina??!), retórica
pouco criativa que os “especialistas” da mídia burguesa repetem num consenso mais
religioso do que científico. Mas tal política de parasitismo, estagnação, queda
nos níveis de emprego, em resumo, de piora das condições de vida do povo
trabalhador, vai muito além dos interesses dos bancos tão somente. O atual
estágio de desenvolvimento do capitalismo impõe de forma inevitável que a
produção dê cada vez menos lucro, restando “investir” no sistema financeiro (com
suas especulações, seus títulos da dívida pública, seus empréstimos a juros
exorbitantes, em resumo, toda sorte de agiotagens) para seguir lucrando alto. O
setor produtivo, bem ao estilo Thatcher, aplaude o crescimento “responsável” do
parasitismo por conta das perspectivas de maior desemprego (e por tabela, queda
nos salários) trazidas pela crescente “financeirização” da economia. E antes
que alguém diga que tal setor poderia se interessar em combater esse aparente
privilégio aos bancos, é bom lembrar do tráfico de influências, das
mesadas do BNDES, da “ajuda” petista de investimentos em países
latino-americanos, progressistas ou não (e claro, as polpudas aplicações financeiras
que nenhuma grande empresa produtiva hoje em dia deixa de fazer), que sempre estarão
lá para engordar os lucros dos grandes oligopólios do setor produtivo. Nessas condições, importa
a eles que a produção diminua, que a inflação e o desemprego aumentem, que as
nossas vidas piorem? Enquanto seguirem lucrando alto, certamente que não. E tudo isso graças
a um governo que se elegeu dizendo que seus rivais iriam vender o país pros
banqueiros!
Eis o retrato do capitalismo: mentiroso na política, suicida
na economia popular, mas claro, altamente lucrativo para uma minoria ínfima.
[01] http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/economia/noticia/2015/01/preco-da-gasolina-e-diesel-deve-subir-nas-bombas-em-fevereiro-em-santa-catarina-4685098.html
[03] http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/noticia/2015/01/entenda-qual-o-impacto-do-pacote-anunciado-pelo-governo-federal-4684983.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário