quarta-feira, 14 de julho de 2010

Democracia como valor ou como arma?

Em tempos que proliferam manchetes sobre a situação da liberdade de expressão na Venezuela ou de prisioneiros cubanos, curiosamente pouco ou nada se fala da delicada situação da democracia e dos direitos humanos em outros países bem próximos de nós.

Por que a mesma mídia que se apressa em denunciar a "falta de liberdade de expressão" nas "ditaduras castrista e chavista" finge que não vê que em Honduras, segundo a ONG suíça Campanha Emblema de Imprensa, oito jornalistas já foram assassinados somente em 2010? Trata-se Honduras do segundo país no mundo que mais matou jornalistas este ano! Desde o golpe de estado contra o Presidente eleito Manuel Zelaya, há um ano, instaurou-se no país uma ditadura que ainda hoje se vale de perseguições e assassinatos para tentar re-impor sobre seu povo a antiga ordem oligárquica que Zelaya vinha aos poucos desconstruindo. Nem mesmo a fraude eleitoral de novembro passado foi capaz de fazer cessar o caráter repressor do novo governo hondurenho, que permanece suspenso na Organização dos Estados Americanos por conta do golpe que matou a democracia no país – tudo sob o silêncio e a conivência dos grandes "defensores da democracia", o Império estadunidense e a grande mídia privada.

Olhando mais ao sul, por que se calam os "defensores da democracia" ao invés de denunciarem a situação do conflito colombiano? No mês passado, em uma eleição suspeitíssima onde dois em cada três eleitores não participaram, "se elegeu" presidente o sr. Juán Manuel Santos, chefe de uma família que controla grande parte da mídia colombiana e tem ligações com os crimes do narco-paramilitarismo dominante no país. Santos respresenta a continuidade no poder do grupo do Presidente Álvaro Uribe, que ajudou a fundar o grupo armado de extrema-direita (paramilitar) Autodefesas Unidas da Colômiba (AUC) e é investigado por tráfico de drogas nos EUA. Sob o governo do sr. Uribe, a Colômbia reforçou sua posição de recordista mundial de massacres e assassinatos de estudantes, sindicalistas e opositores em geral. Uribe, Santos e sua turma têm usado a guerra civil contra a guerrilha comunista como pretexto para levar a cabo, de forma impune, uma perseguição atroz contra toda e qualquer oposição, armada ou pacífica, que se oponha de forma mais contundente ao domínio político das oligarquias e dos narcotráfico na Colômbia. Tudo isso com a conivência da grande mídia local, que ajuda o Exército na formação dos "falsos positivos" – quando se assassinam inocentes e/ou dissidentes, para depois "disfarçá-los" de guerrilheiros "mortos em combate". Contribuem para isso os grupos armados paramilitares, aqueles de quem Uribe é patrono, que em tempos de eleição ajudam seus "amigos" na fraude eleitoral e, no resto do tempo, assumem a "tarefa suja" de eliminar os opositores que incomodam seus comparsas no poder do Estado.

Como se chama mesmo aquele regime em que uns poucos homens controlam o Estado, o sistema eleitoral e a imprensa, se valendo do assassinato, de golpes, da fraude e da repressão para se perpetuarem no poder? Com certeza, não é "democracia"!

Diante disso tudo, se pergunta: por que Cuba e Venezuela são as "ditaduras", se dos 59 jornalistas assassinados no mundo só neste ano, nenhum é cubano ou venezuelano? Por que são "ditadores" se nem Chávez nem Raúl Castro se sustentam no poder através de massacres sistemáticos de opositores e pelo dinheiro do narcotráfico? Aí é que entra a questão dos interesses geopolíticos e de classe. Cuba é o país que há mais de 50 anos expropriou os capitalistas abolindo a grande propriedade privada, se chocando de frente com os interesses dos EUA ao representar um perigoso exemplo de soberania e auto-determinação no quintal do Império. Já a Venezuela, desde o início da "revolução bolivariana" de Chávez há dez anos, vem trilhando o mesmo caminho de Cuba. Convém portanto, tanto aos Estados Unidos quanto à grande mídia, enquanto mídia capitalista, tachar os dois países de "ditaduras" que "violam os direitos humanos". Já na Colômbia e em Honduras, a situação se inverte. O primeiro trata-se do principal (senão o último) aliado do Império na América do Sul, servindo de localização para bases militares estadunidenses que não só servem para ameaçar e isolar a "incômoda" Venezuela como até mesmo a Amazônia brasileira! Tudo isso intermediado por um governo corrupto e autoritário, que impõe pelo medo "reformas neoliberais" como as do governo Uribe, que garantem altos lucros para suas oligarquias e mais pobreza para o povo. Já Honduras, possuía antes do golpe um Presidente progressista, próximo à Cuba e Venezuela, que governava para os pobres e feria os interesses dos ricos e poderosos dentro e fora do país, sendo portanto uma ameaça que precisava ser (e foi!) removida.

Assim, não é de estranhar que, por mais violações aos direitos humanos que cometam, os governos de Colômbia e Honduras sejam tachados de "democracias" pelos mesmos grandes poderes que acusam o "outro lado" de ser "ditatorial".

Chega-se então à grande pergunta: interessa realmente ao poder do grande capital, ao Império norte-americano e à grande mídia corporativa, aqui e no exterior, defender a "democracia"? Seriam a "democracia" e os direitos humanos "valores universais" aos capitalistas? Se o são, como isso se compatibiliza com a hierarquia autoritária da empresa capitalista, onde o patrão é o ditador dos chãos de fábrica, dos escritórios e das redações de jornal? Nada mais incoerente, de fato, do que um capitalista defendendo a "democracia"! Isso ajuda a entender os conceitos de ditadura e democracia que os capitalistas defendem. Democracia é para eles onde o poder do grande capital privado nacional e estrangeiro e seus privilégios são "respeitados" à risca, e ditadura é onde ocorre o contrário! Interesse de classe é o que está por trás desses "valores", e a falsificação da opinião pública acerca de quem são os "mocinhos" e os "bandidos" da história é o resultado dessa política!

De fato, uma democracia verdadeira e pleno respeito aos direitos humanos são a última coisa que importam àqueles a quem o lucro está acima de tudo, sejam eles líderes de Impérios ou donos de jornais e revistas. "Democracia" e direitos humanos, da forma estreita e (muito conveniente) que eles as entendem, não passam de um simples pretexto, uma arma, para atacar aqueles que lhes desagradam e ameaçam seus interesses, sua propriedade e seus lucros.

Um comentário:

Anônimo disse...

A democracia real ainda é um ideal não atingível e, até então, não existe no mundo sistema algum que sirva de base, regra ou senso de comparação para avaliação de plena e verdadeira democracia.
“A Democracia é para o império estadunidense, quando os EUA mandam, ditam as regras, subjugam e submetem os povos a condição e posição de exploração, passividade, dependência, obediência, sujeição, subserviência e controle; mas, quando os povos se exsurgem e opoem-se a ingerência, ganância, dominação, tirania, vontade ou interesses dos EUA - então, isso é considerado ditadura para o império estadunidense.”
Os Imperialistas dos EUA que se julgam os “guardiões” dos direitos humanos, legalizam a tortura, invadem e destroem nações soberanas; financiam ataques utilizando armas bizarras das mais avançadas tecnologias bélicas, que imolam a vida de milhares de pessoas.
Assim, as nações que deixam de rezar na cartilha dos Estados Unidos da América, essas nações são perseguidas, e suas eleições livres e Justas são consideradas pelo império estadunidense de irregulares ou fraudadas, pois, os imperialistas estadunidenses aceitam apenas eleições de regimes inócuos, inermes, fantoches, subservientes, favoráveis e sequazes do Império. Ademais, o governo eleito pelos povos das nações livres, as quais não aceitam se sujeitarem aos caprichos dos Estados Unidos da América do Norte; são sempre rotulados ou assacados de totalitário, tirânico, ditadura e seus inimigos.
E, confutando aos interesses dos EUA; então de pronto, vem por parte do império estadunidense, tratamento cruento, hostil e injusto, infligido com encarniçamento as nações livres - desaparecendo desse modo, as tão propaladas e exaustivamente apregoadas palavras “Liberdade” e “Democracia” que usadas de maneira hipócrita pelo império, como estratégia; ao submeterem as massas populares a uma terrível lavagem cerebral, mesmerizada e condicionada, para que acreditem ou aceitem os EUA; por engano e, de modo falso; como o único, legítimo, verdadeiro ou real “representante” e “defensor” desses ideais.
O regime terrorista estadunidenses com postura provocativa; instala bases militares em todas as regiões do mundo para preponderar; ou demonstrar força para intimidar e ameaçar o mundo livre, com exercícios militares constantes e em grande escala.
E, como perspícuo truísmo de suas intenções o império estadunidense, instala e mantem bases militares em todos os continentes; da mesma forma, promovem invasões para depor governos legítimos das nações livres, soberanas e independentes, contrárias a politica de expansão e dominação imperial.
Para isso, comandam genocídios por todo o mundo livre; endividam as nações livres, compram seus políticos e governos fantoches; além de apoiarem estados títeres, para realizarem política de desestabilização, discórdia e desentendimentos regionais ou atos subversivos violentos e intimidadores a serviço do insidioso sistema imperial estadunidense.
Os império dos EUA, com sua política de expansão, influência ou até mesmo dominação territorial e econômica do mundo, usam com desfaçatez, ardileza a estratégia de dominação, o uso constante das duas palavras mágicas que são consideradas chave, ou seja, “Liberdade” e “Democracia”, que usadas com sutileza são apenas sofismas, para encobrir seus reais propósitos de possessão do mundo livre.
E destarte, o celerado e tiranico império estadunidense, com sua política rapace, alastra-se hostilmente extorquindo concessões por meio do emprego da ameaça das armas e força bruta, as matérias-primas e demais recursis naturais de que precisam.
E, com efeito, para conquistarem a autonomia e liberdade, os povos intimoratos das nações livres, devem incessantemente combater as ingerências direta ou indireta em seus assuntos internos.
Pois, é somente cabível aos povos nativos de um território ou nação, formar opinião ou juízo crítico sobre o exercício ou desempenho de seu governo; e seja qual for a forma constituída de governo.