domingo, 22 de fevereiro de 2009

Lula, Dilma, Serra e a mediocridade da ”política quotidiana”.

Por Eduardo Grandi

autogoverno@gmail.com


Restando ainda um ano para as eleições para presidente da República, acumulam-se os exemplos de quão baixo se encontra o atual nível da disputa de poder no país, de tal forma que o (já iniciado) processo de sucessão presidencial, um ano antes do clímax das urnas, já conseguir ser tão (senão ainda mais) sujo e baixo do que as recentes eleições municipais, consolidando o repertório de baixarias que nos últimos anos tem crescido eleição após eleição em meio aos grandes partidos políticos no Brasil.


Exemplo recente de tão triste tendência, como já é de hábito, foi proporcionado pelo Presidente Lula e por seu partido, que no início deste mês não tiveram o menor pudor em utlizar um encontro nacional de prefeitos, organizado em Brasília pelo Governo Federal, como palanque para promover a candidatura da ministra Dilma Roussef, virtual candidata do PT à sucessão de Lula no Planalto. O circo petista foi tão escandaloso que os participantes do encontro poderiam até mesmo levar de recordação fotografias com as ”celebridades” do evento: o Presidente da República e a sua candidata preferida à sucessão presidencial, a ministra-chefe da Casa Civil.


Já o segundo exemplo negativo, como também não podia deixar de ser, foi iniciado pelos partidos representantes da oposição de direita ao governo Lula, o PSDB e o DEMO. Buscando como sempre posar de ”os grandes defensores da moralidade” na política, a dupla representante do que existe de mais imoral, conservador e anti-progressista no país acionou o Tribunal Superior Eleitoral contra o Presidente Lula e a ministra Roussef, pedindo punição a ambos por motivos óbvios: ou seja, violação da legislação eleitoral por uso da máquina pública com fins eleitoreiros pessoais. Porém, enquanto denunciavam o PT, os representantes maiores da direita assumida nacional caíam no mais completo ridículo de fazerem exatamente o mesmo que condenavam, quando ao mesmo tempo o Governador de São Paulo, José Serra, virtual candidato da dupla PSDB/DEMO à presidência da República, promovia na sede do governo paulista dois mega-encontros reunindo prefeitos e secretários municipais de todo o Estado, o último esta semana, e o primeiro antes mesmo do comício petista, para realizar o mesmo circo de uso ilícito da estrutura pública em uma descarada auto-promoção eleitoreira. A alegação demo-tucana, tal como a petista, era de que o encontro serviria para ”anunciar repasses de verbas” às prefeituras. Porém, tal como em Brasília, o que se viu em São Paulo esta semana, longe de discussões sobre ”detalhes técnicos” de planos de investimento, foi sim um autêntico comício político financiado pelo contribuinte paulista, em que uma platéia de prefeitos, no mínimo suspeitamente simpática, gritava frases de ordem em apoio à candidatura presidencial de um senhor que cometeu até mesmo a infâmia de se auto-promover como ”o melhor ministro da saúde da história do país”, numa pífia tentativa de reescrever a trágica história de epidemias de dengue e mortes nas filas dos hospitais que marcou seu ministério nos também trágicos anos do governo FHC. A única diferença entre os comícios de Brasília e São Paulo foi a reação da imprensa, que não levantou quaisquer suspeitas de crime eleitoral com relação ao palanque demo-tucano, inclusive aproveitando para tachar convenientemente de ”PAC paulista” o programa de investimentos do governador Serra.


Analisando mais a fundo, não surpreende nem um pouco encontrar tantas incômodas semelhanças entre PT e PSDB. Enquanto os tucanos nunca tiveram qualquer vergonha em se reconhecerem como representantes do verdadeiro poder, o poder econômico, os petistas sob o governo Lula se esforçam ainda hoje para serem aceitos no restrito clube de ”representantes oficiais” deste poder, hesitando cada vez menos em recorrer aos mesmos métodos sujos que antes deles sempre sustentaram a direita assumida no controle da Nação. Tanto PT e PSDB quanto os demais grandes partidos que gravitam a seu redor na esfera nacional – como o PP de Maluf, o PTB de Roberto Jefferson, o PMDB de Renan Calheiros ou o DEMO do deputado do castelo – são iguais em suas práticas baixas e corruptas, revelando claramente a decadência do atual sistema partidário brasileiro: se antes já houve um PT que foi exceção a essa regra de corrupção e politicagens, hoje, depois de tantos mensalões, dólares em cuecas e maquiavelismos como os que Lula usa na desesperada e vã tentativa de erguer sua insossa candidata, pode-se lamentavelmente afirmar que a totalidade dos atuais grandes partidos políticos nada diferem tanto em seus fins quanto em seus meios. Independente dos fins que se a princípio se esperavam alcançar, partidos teoricamente tão diversos quanto PT, PSDB, PMDB ou PCdoB na prática aceitaram se submeter por completo à hegemonia do grande capital, verdadeiro detentor do poder nesses tempos atuais de mundo globalizado, que há muito já impõe, pela força inquebrantável dos mercados, uma poderosa ”unanimidade” nas agendas dos mais diversos políticos e partidos. Longe porém de partirem ao enfrentamento de tal poder, tais grupos preferem se acovardar e aceitar comodamente tal situação, se contentando em disputar entre si o cargo de ”gerentes” do capital dominante, dentro dos cada vez mais estreitos círculos de livre atuação impostos pela ”unanimidade dos mercados”. Inserido como está no ”mundo globalizado”, o Brasil não poderia mesmo ser uma exceção na atual e crescente crise mundial de legitimidade dos sistemas partidário-representativos, onde a falta de poder real leva partidos, governos e oposições ”oficiais” a diferirem cada vez menos uns dos outros, reduzindo portanto as metas de todos os que aceitam o ”jogo do capital” a um denominador comum, a busca do cada vez menos funcional ”poder político” como um fim em si, e não mais um meio de se construir soluções aos crescentes problemas que afligem o Brasil e o mundo. Com tanto em comum nos fins (e tão pouco de concreto para se diferenciar uns dos outros aos olhos do eleitorado), não é de se surpeender que políticos e partidos auto-submetidos a essas regras acabem sendo iguais também nos meios, a saber a corrupção generalizada e as detestáveis práticas politiqueiras que infestam o dia-a-dia da assim chamada ”política” propriamente dita. A única alternativa possível é a construção de uma nova política, que ouse ir além das politicagens imediatistas que diariamente infestam os noticiários, atacando a raiz do problema, ou seja, o poder desproporcional do mercado sobre as sociedades e instituições. Tal alternativa para o crescente império da mediocridade da ”política quotidiana” ainda necessita ser construida no Brasil.

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