Esta semana, durante o Fórum Mundial da Água (FMA), realizado em Istambul (Turquia), o mundo deu mais um passo para trás ao assistir outro triste capítulo da transformação dos mais básicos direitos humanos em simples mercadoria. Por pressões econômicas das transnacionais do setor, a proposta de declarar a água um direito humano (portanto, algo acima das especulatas e jogos gananciosos do mercado), foi rejeitada pelos participantes do fórum. Mesmo que aos países autores da iniciativa (Cuba, Venezuela, Bolívia, Equador e Uruguai) tivessem se somado outras nações (algumas por puro oportunismo, como parte da Europa ocidental, onde água ainda é um bem relativamente escasso), a pressão contrária de alguns Estados-membros (notadamente os EUA e o Brasil) sepultou qualquer chance da aprovação da proposta.
Tamanha derrota para os povos do mundo não ocoreu por acaso. Como reconheceu o próprio presidente da Assembléia Geral da ONU, Miguel d'Decoto Brockmann, "a orientação do fórum está profundamente influenciada pelas companhias privadas de água." Já o presidente do Conselho Mundial da Água, instituição privada que organiza o fórum, chamou de "choro" os protestos contra a escassez de democracia na entidade e, mesmo diante de tão escandalosa falta de comprometimento para com os povos do mundo, afirmou que o fórum "está aberto a participação não só de governos, mas de toda a sociedade", entendendo decerto que "sociedade" se resume às grandes corporações transnacionais. Já o secretário-geral do fórum, Oktay Tabasaran, deixou escapar com suas palavras o verdadeiro objetivo do fórum: "os participantes estão muito contentes pelos contatos comerciais que puderam fazer", afirmou ele, usando o "nível de negócios" como medidor do "sucesso" do evento...
A falta de acesso à água potável já é um dos maiores problemas da Humanidade, o que só deve se agravar após tal resolução do FMA. De acordo com a UNESCO, até 2025 metade da população mundial deverá sofrer com a escassez de água, em grande parte por conta da atividade predatória das grandes corporações privadas, que tendo confirmado o status de "mercadoria" da água, vão possuir respaldo político e jurídico para seguirem (senão aprofundarem) suas práticas irresponsáveis com relação ao elemento mais básico para a manutenção da vida.
Enquanto isso, aos senhores que rejeitaram declarar a água um direito humano, fica a pergunta: seriam eles seres de outro mundo, que não necessitam de água para viver?
domingo, 22 de março de 2009
Fracassa tentativa de declarar a água um direito humano
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