Um dos últimos vergonhosos resquícios da Guerra Fria na América Latina acabou de ser derrubado em definitivo. Em uma decisão histórica tomada essa semana, a Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu por quase unanimidade pôr fim à expulsão imposta pela entidade contra Cuba há quase cinco décadas.
Durante sua Assembléia Geral realizada em Honduras, 34 dos 35 países membros do órgão, que reúne representantes de todas as nações das Américas, resistiu às pressões em contrário da delegação norte-americana e decidiu pela reintegração de Cuba à organização sem impor quaisquer condições à nação caribenha. O governo dos EUA, principal responsável pela expulsão cubana da entidade em 1962, insistia na realização de "reformas democráticas" em Cuba como pré-condição para que a única república socialista das Américas pudesse retornar à OEA. À época o governo norte-americano, em uma flagrante violação ao pluralismo democrático, impôs à entidade uma resolução que afirmava com todas as letras que “a adesão de qualquer membro da organização ao marxismo-leninismo é incompatível com o Sistema Interamericano”. Àquela altura Fidel Castro, líder da revolução cubana, já havia proclamado ao mundo o caráter socialista de sua revolução, que eclodira três anos antes.
Em um comunicado à imprensa estrangeira, o governo de Cuba saudou a decisão da entidade, afirmando que "apesar de pressões, condicionamentos e manobras dos Estados Unidos, a força formidável da América Latina que está nascendo possibilitou o gesto de reparação, a retificação histórica, a condenação implícita ao passado degradante". Mesmo assim, Cuba anunciou que não pretende retornar ao órgão, preferindo comemorar o ato como uma vitória simbólica e política.
E que vitória! Para se ter uma idéia do tamanho desta, basta ouvir o discurso que o anfitrião do encontro, o Presidente de Honduras, Manuel Zelaya, pronunciou a favor de Cuba: ''Nós latino-americanos (...) firmamos (em Salvador) um compromisso de que esta assembléia (...) deveria emendar esse velho e desgastado erro que foi cometido em 1962, de expulsar o povo cubano desta organização." (...) "Não devemos deixar essa assembléia sem anular o decreto que sancionou um povo inteiro por ter proclamado idéias e princípios socialistas, que hoje esses mesmos princípios são praticados em todas as partes do mundo, incluindo Estados Unidos e Europa (aplausos)" (...) ''Não fazê-lo nos faz cúmplices de uma resolução que expulsou um membro da OEA simplesmente porque tem outras idéias, outros pensamentos, e proclama o início de uma democracia diferente. E não seremos cúmplices disto''. Tudo isso vindo do chefe de Estado de um país que há menos de uma geração atrás era dominado por uma das ditaduras mais retrógradas e reacionárias do mundo! Palavras que entram para a História.
Em Cuba, diferente do restante do continente, a notícia recebeu ampla cobertura da imprensa, ao que se somou uma carta de Fidel Castro justificando sua posição pessoal contra a organização que já foi chamada por muitos de "ministério estadunidense das colônias": "A OEA foi cúmplice em todos os crimes cometidos contra Cuba. (...) Em um momento ou outro, todos os países latino-americanos foram vítimas de agressões e intervenções políticas e econômicas. Ninguém pode negar isso. É ingênuo acreditar que as boas intenções de um presidente dos Estados Unidos justifiquem a existência desta instituição que abriu as portas para um cavalo de Tróia que apoiou as Cúpulas das Américas, o neoliberalismo, o narcotráfico, as bases militares e as crises econômicas", disse o ex-presidente cubano.
O discurso de Fidel de questionar até mesmo a existência da OEA não foi o único que se ouviu nos últimos dias. Em sua chegada à Honduras, o Presidente equatoriano Rafael Correa declarou junto com o colega hondurenho que a ''OEA deve ser reformada e reincorporar Cuba, ou do contrário terá que desaparecer''. Correa havia proposto anteriormente a substituição da entidade por uma Organização dos Estados Latino-Americanos, justificando que "não era mais possível continuar discutindo em Washington os problemas da região". De fato, declarações dos demais líderes latino-americanos davam conta do impasse alcançado por um órgão criado no auge da Guerra Fria exclusivamente para impor a dominação estadunidense sobre os povos latino-americanos. ''A América Latina está fazendo de Cuba o teste de fogo da sinceridade da (nova) abordagem da administração Obama para a região", disse a especialista em Cuba do Conselho de Relações Exteriores norte-americano, Julia Sweig na véspera da reunião em Honduras. Ou seja, longe de querer ser benévolo, o governo dos EUA cedeu impotente àquela que talvez tenha sido a maior derrota da história na sua política exterior para a América Latina precisamente a fim de evitar uma derrota ainda mais esmagadora - a dissolução definitiva do seu próprio "ministério das colônias".
Derrota do Império, vitória das forças progressistas do continente. Em primeiro lugar, o ato histórico demonstra o respaldo e a legitimidade que a revolução cubana acumulou perante toda uma geração de latino-americanos como o farol da liberdade na luta contra as ditaduras civil-militares que assolaram nosso continente no passado, de tal forma que os cubanos podem agora colher os frutos de sua longa e incontida solidariedade internacionalista. E em segundo simboliza o rompimento das amarras da dependência da América Latina para com o gigante do norte, que tem feito dos países do continente simples marionetes de sua política exterior desde suas independências há quase dois séculos. É sintomático que em todo o continente nomes sinistros como Somoza, Stroessner, Trujilo ou Pinochet tenham dado lugar a próceres como Chávez, Correa, Lugo, Funes, Daniel Ortega e Evo Morales. Sinal de um tempo que marca a vitoriosa chegada ao poder de forças populares e progressistas por toda a América Latina, que há mais de uma década já vêm levando a cabo suas respectivas revoluções nacionais emancipadoras.
De fato, mesmo que aos poucos, a emancipação da América Latina já não pode mais ser impedida pelo cada vez mais enfraquecido Império do norte, pois assim como o socialismo, ela é uma força histórica que por mais que se busque reprimir, nunca se conseguirá conter. E nesse contexto latino-americano cada vez mais rebelde, a revolução cubana no alto dos seus cinqüenta anos de idade novamente desponta como símbolo maior dos avanços no continente, já que, da mesma forma que a OEA, com suas políticas anti-Cuba isolacionistas e desestabilizantes se encontra agora relegada ao lixo da história, também o vergonhoso embargo econômico imposto pelos EUA a Cuba, último marco da dominação gringa na nossa América Latina, se encontra cada vez mais próximo de cair sob o peso insustentável de seu próprio arcaísmo.
Durante sua Assembléia Geral realizada em Honduras, 34 dos 35 países membros do órgão, que reúne representantes de todas as nações das Américas, resistiu às pressões em contrário da delegação norte-americana e decidiu pela reintegração de Cuba à organização sem impor quaisquer condições à nação caribenha. O governo dos EUA, principal responsável pela expulsão cubana da entidade em 1962, insistia na realização de "reformas democráticas" em Cuba como pré-condição para que a única república socialista das Américas pudesse retornar à OEA. À época o governo norte-americano, em uma flagrante violação ao pluralismo democrático, impôs à entidade uma resolução que afirmava com todas as letras que “a adesão de qualquer membro da organização ao marxismo-leninismo é incompatível com o Sistema Interamericano”. Àquela altura Fidel Castro, líder da revolução cubana, já havia proclamado ao mundo o caráter socialista de sua revolução, que eclodira três anos antes.
Em um comunicado à imprensa estrangeira, o governo de Cuba saudou a decisão da entidade, afirmando que "apesar de pressões, condicionamentos e manobras dos Estados Unidos, a força formidável da América Latina que está nascendo possibilitou o gesto de reparação, a retificação histórica, a condenação implícita ao passado degradante". Mesmo assim, Cuba anunciou que não pretende retornar ao órgão, preferindo comemorar o ato como uma vitória simbólica e política.
E que vitória! Para se ter uma idéia do tamanho desta, basta ouvir o discurso que o anfitrião do encontro, o Presidente de Honduras, Manuel Zelaya, pronunciou a favor de Cuba: ''Nós latino-americanos (...) firmamos (em Salvador) um compromisso de que esta assembléia (...) deveria emendar esse velho e desgastado erro que foi cometido em 1962, de expulsar o povo cubano desta organização." (...) "Não devemos deixar essa assembléia sem anular o decreto que sancionou um povo inteiro por ter proclamado idéias e princípios socialistas, que hoje esses mesmos princípios são praticados em todas as partes do mundo, incluindo Estados Unidos e Europa (aplausos)" (...) ''Não fazê-lo nos faz cúmplices de uma resolução que expulsou um membro da OEA simplesmente porque tem outras idéias, outros pensamentos, e proclama o início de uma democracia diferente. E não seremos cúmplices disto''. Tudo isso vindo do chefe de Estado de um país que há menos de uma geração atrás era dominado por uma das ditaduras mais retrógradas e reacionárias do mundo! Palavras que entram para a História.
Em Cuba, diferente do restante do continente, a notícia recebeu ampla cobertura da imprensa, ao que se somou uma carta de Fidel Castro justificando sua posição pessoal contra a organização que já foi chamada por muitos de "ministério estadunidense das colônias": "A OEA foi cúmplice em todos os crimes cometidos contra Cuba. (...) Em um momento ou outro, todos os países latino-americanos foram vítimas de agressões e intervenções políticas e econômicas. Ninguém pode negar isso. É ingênuo acreditar que as boas intenções de um presidente dos Estados Unidos justifiquem a existência desta instituição que abriu as portas para um cavalo de Tróia que apoiou as Cúpulas das Américas, o neoliberalismo, o narcotráfico, as bases militares e as crises econômicas", disse o ex-presidente cubano.
O discurso de Fidel de questionar até mesmo a existência da OEA não foi o único que se ouviu nos últimos dias. Em sua chegada à Honduras, o Presidente equatoriano Rafael Correa declarou junto com o colega hondurenho que a ''OEA deve ser reformada e reincorporar Cuba, ou do contrário terá que desaparecer''. Correa havia proposto anteriormente a substituição da entidade por uma Organização dos Estados Latino-Americanos, justificando que "não era mais possível continuar discutindo em Washington os problemas da região". De fato, declarações dos demais líderes latino-americanos davam conta do impasse alcançado por um órgão criado no auge da Guerra Fria exclusivamente para impor a dominação estadunidense sobre os povos latino-americanos. ''A América Latina está fazendo de Cuba o teste de fogo da sinceridade da (nova) abordagem da administração Obama para a região", disse a especialista em Cuba do Conselho de Relações Exteriores norte-americano, Julia Sweig na véspera da reunião em Honduras. Ou seja, longe de querer ser benévolo, o governo dos EUA cedeu impotente àquela que talvez tenha sido a maior derrota da história na sua política exterior para a América Latina precisamente a fim de evitar uma derrota ainda mais esmagadora - a dissolução definitiva do seu próprio "ministério das colônias".
Derrota do Império, vitória das forças progressistas do continente. Em primeiro lugar, o ato histórico demonstra o respaldo e a legitimidade que a revolução cubana acumulou perante toda uma geração de latino-americanos como o farol da liberdade na luta contra as ditaduras civil-militares que assolaram nosso continente no passado, de tal forma que os cubanos podem agora colher os frutos de sua longa e incontida solidariedade internacionalista. E em segundo simboliza o rompimento das amarras da dependência da América Latina para com o gigante do norte, que tem feito dos países do continente simples marionetes de sua política exterior desde suas independências há quase dois séculos. É sintomático que em todo o continente nomes sinistros como Somoza, Stroessner, Trujilo ou Pinochet tenham dado lugar a próceres como Chávez, Correa, Lugo, Funes, Daniel Ortega e Evo Morales. Sinal de um tempo que marca a vitoriosa chegada ao poder de forças populares e progressistas por toda a América Latina, que há mais de uma década já vêm levando a cabo suas respectivas revoluções nacionais emancipadoras.
De fato, mesmo que aos poucos, a emancipação da América Latina já não pode mais ser impedida pelo cada vez mais enfraquecido Império do norte, pois assim como o socialismo, ela é uma força histórica que por mais que se busque reprimir, nunca se conseguirá conter. E nesse contexto latino-americano cada vez mais rebelde, a revolução cubana no alto dos seus cinqüenta anos de idade novamente desponta como símbolo maior dos avanços no continente, já que, da mesma forma que a OEA, com suas políticas anti-Cuba isolacionistas e desestabilizantes se encontra agora relegada ao lixo da história, também o vergonhoso embargo econômico imposto pelos EUA a Cuba, último marco da dominação gringa na nossa América Latina, se encontra cada vez mais próximo de cair sob o peso insustentável de seu próprio arcaísmo.
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