Primeiro mito: com Lula, o Brasil "cresceu enormemente", a renda "disparou" e o desemprego "é o menor da história":
É verdade que, comparado ao desgoverno FHC, o Brasil cresceu mais. Mas o suposto "sucesso" petista desaparece ao analisarmos o desempenho da economia mundial nos últimos vinte anos. Com FHC, o Brasil cresceu ao ano apenas 2,3% em média, metade da média dos países "em desenvolvimento" no período (4,3%). Já com Lula, o aparente maior crescimento brasileiro mascara o mesmo fracasso do desgoverno tucano. Pois o crescimento médio de 3,6% na era Lula ficou bem abaixo da média do mundo "em desenvolvimento", de 6,5% no período. Com Lula, novamente o Brasil cresceu só a metade do mundo "em desenvolvimento". O mesmo fracasso em alavancar o desenvolvimento nacional que o desgoverno tucano, dessa vez no entanto camuflado por uma conjuntura mundial bem mais favorável.
Na crise de 2008-2009, o governo encheu a boca pra falar que "saímos ilesos da crise", algo que pouco condiz com a realidade. Apesar das gordas mesadas do governo a empresas "em dificuldade", muitos postos de trabalho foram cortados e a economia do Brasil encolheu, registrando um péssimo resultado em comparação com outros países. De acordo com cálculos do CIA World Factbook, entre 134 países de todo o mundo, o Brasil ficou em 84º lugar em desempenho econômico em 2009, com uma queda do PIB de 0,19%. Só mesmo comparando o Brasil com os países ditos desenvolvidos, centro nevrálgico da crise, que se pode achar que esta não nos afetou...
Diz-se também que, com Lula, os empregos e a renda dispararam. Nada mais falso. De acordo com o SEADE, o desemprego médio anual total das principais capitais atingiu o absurdo valor de 16,99% de 2003 a 2009, apenas um pouco melhor do que a horrorosa média de 19,2% do segundo mandato de FHC. Contra esses números, os lulistas enchem a boca pra dizer que, de acordo com o IBGE, o desemprego atingiu em julho a menor média da série histórica do instituto. Pra entender a piada, porém, é preciso lembrar que a série histórica do IBGE, não por coincidência um órgão do governo federal, começa em 2002, já às portas do primeiro mandato de Lula. Que bom que só agora, no fim do seu mandato e às vésperas das eleições, que Lula conseguiu registrar o menor desemprego do seu próprio governo!
Sobre o "sucesso da distribuição de renda", outro mito que representa uma "falsa verdade". Observando por baixo, é verdade que, no governo Lula, houve um crescimento real do salário mínimo muito maior do que na era FHC; mas observando pelo meio, em contrapartida, o rendimento médio real dos assalariados no Brasil diminuiu no governo Lula, indo, de acordo com o SEADE, de R$ 1.314 em 2002 a R$ 1.309 em 2009! Isso apesar da economia brasileira ter crescido 27,7% no acumulado do período!
Com todos esses números, só mesmo um aumento exponencial no crédito para o consumo, como registrado no governo Lula, poderia manter o consumo, a economia e a popularidade do presidente em alta. Mas com os salários em baixa e o crédito em alta, até quando iremos antes que estoure a bolha do super-endividamento?
Em resumo, Lula aproveitou a conjuntura econômica externa tanto quanto o desgoverno tucano (ou seja, em quase nada), pouco fez contra a crise de 2008/09 e fez menos ainda pra combater o desemprego e melhorar o rendimento médio do trabalhadores. Este portanto é o balanço econômico da era Lula: um "sucesso retumbante" que só existe na propaganda governista.
Segundo mito: o governo Lula "acabou com a dívida externa":
Apenas uma ínfima parcela disso é verdade, mais especificamente, a parcela da nossa dívida externa devida diretamente ao FMI. O restante da dívida, devida a bancos e governos do mundo inteiro, na verdade sua imensa maioria, segue intocada. Inclusive esta voltou a crescer nos últimos anos, alcançando em junho a marca de 225 bilhões de dólares! Pior, se contarmos também a dívida privada, o montante que devemos ao exterior passa dos 300 bilhões de dólares! Para pagar essa dívida e(x)terna, drena-se todo ano às dezenas de bilhões de dólares o suor do trabalho do nosso povo, através dos resultados positivos das exportações, que captam dólares pra alimentar a sede insaciável dos mega-especuladores internacionais.
Porém, muito pior que a dívida externa, só mesmo a interna, que na prática não existia antes do governo FHC, aumentando quase 10 vezes no desgoverno tucano e mais que dobrando no governo Lula! Atualmente, a dívida interna chega a 1,5 trilhão de reais (!!). Mesmo crescendo nesse ritmo, o chamado "serviço da dívida" já drenou dos cofres públicos quase R$ quatro bilhões desde 1992 (em reais de 2010), um verdadeiro "bolsa banqueiro" pago pesadamente às nossas custas! Só em 2009, de acordo com a Auditoria Cidadã da Dívida, o governo comprometeu R$ 370 bilhões dos nossos impostos (ou 35,57% do orçamento do Estado) com os agiotas e "mega-investidores" nacionais. O "bolsa banqueiro" bateu de longe os gastos com educação (2,88%), saúde (4,64%) e até os da tão dita "super deficitária" previdência (25,9%). Só assim pra entender como os lucros dos grandes bancos registraram o recorde de R$ 14 bilhões no primeiro semestre de 2009, em pleno auge da crise!
Indo na contramão de todo princípio ético e de justiça social, o governo Lula conseguiu engordar o "bolsa banqueiro" ainda mais do que o desgoverno tucano. A cada real arrecadado dos nossos impostos, FHC gastou 21 centavos com os banqueiros, enquanto Lula, pasmem, gastou 30 centavos! Isso enquanto, no mesmo período, foram apenas oito centavos dos nossos impostos para saúde e educação somados! Tudo isso vindo de um governo que disse ter "acabado com a dívida"!
Com tanto dinheiro para os banqueiros, fica difícil sobrar algo dos nossos próprios impostos para nós mesmos. É aí que vemos como o governo Lula consegue, em termos econômicos e sociais, rivalizar com alguns dos piores retrocessos econômico-sociais do desgoverno FHC (ver "primeiro mito" acima). Nada mais coerente, afinal, Lula em nada mudou a velha política econômica neoliberal demo-tucana, o código economicista de "metas de inflação, 'autonomia' do Banco Central, câmbio flutuante e superávit primário", que traduzido ao português, significa Estado máximo para os grandes capitalistas, e mínimo para os trabalhadores!
Terceiro mito: a previdência é "deficitária", e por isso precisa ser "reformada":
Aí está um mito que se repetiu muito para justificar o primeiro grande retrocesso neoliberal do governo Lula (a chamada "reforma da previdência" de 2003), um lema que continua sendo repetido tanto pelo governo petista quanto pela oposição de direita para justiciar novas "reformas" no sistema previdenciário. A verdade no entanto, por mais que isso surpreenda alguns, é de que a previdência não é deficitária. Quando o atual sistema previdenciário foi instituído em 1988, decidiu-se incorporar aos beneficiários do sistema uma grande massa de trabalhadores rurais, que até então jamais haviam contribuído ao sistema, fazendo com que a diferença entre contribuições recebidas e benefícios pagos se tornasse negativa. Mas naquela mesma época, prevendo-se tal diferença nas contas, criaram-se novas contribuições tais como como o COFINS para adequar o sistema à nova realidade. O detalhe sinistro é que, se hoje as contas do sistema previdenciário hoje aparecem negativas, é porque o dinheiro de impostos como o COFINS vem sendo há décadas, através da famigerada Desvinculação das Receitas da União, desviado para pagar os juros da dívida pública de Lula e FHC. Mais uma vez, aos banqueiros tudo, enquanto ao povo, nem o que é seu por lei!
Quarto mito: com a "prosperidade" do governo Lula, a classe média "disparou" e já é "mais da metade da população".
Talvez o mais escandaloso dos mitos, este não se sustenta nem ao estudo dos próprios critérios de definição de "classe média." De acordo com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), responsável pelos estudos do "crescimento vertiginoso" da classe média, entende-se como pertencentes à tecnicamente chamada "classe C" aquelas famílias com rendimento mensal entre R$ 1126 e R$ 4854. Ora, levando-se em conta o número médio de 2,7 indivíduos por família no Brasil (considerando-se, de forma bem otimista, o ritmo de diminuição da família média brasileira registrado pelo IBGE nos últimos anos), vê-se que a "classe média" da FGV e de Lula tem renda mensal por indivíduo familiar entre R$ 417 e R$ 1798! Um piso bem abaixo do atual salário mínimo (R$ 510) e um teto também abaixo do salário mínimo "necessário a uma vida digna" de R$ 2100 do DIEESE! Ora, pergunta-se então, que classe média é essa que tem salário de pobreza, e muitas vezes das mais extremas? Enquanto esta "classe média" (na verdade, classe pobre) representa hoje pouco mais de 50% da população, a verdadeira classe média (a B, com rendimento de R$ 1798 a R$ 2344 por indivíduo na família) fica na "impressionante" cifra de menos de 10% da população. Já as classes D e E (os miseráveis extremos) são quase 40% da população!
Disto conclui-se que, apesar da queda acentuada no número de pobres extremos no Brasil nos últimos anos, o quadro está longe de ser a "maravilha" pintada pelo governo Lula e pela grande mídia, considerada por alguns de "golpista".
4 comentários:
1. O Brasil cresceu mais igual, com os ricos menos que os mais pobres! Não foi o ideal mas foi um progresso.
2. Tinha só uma parcela michuruca, mas foi paga! O dívida interna vem do respeito aos contratos anteriores, alguns de 50 anos, tipo a construção de Brasília que usou o dinheiro do INSS, deixando a dívida para o futuro, que somos nós hoje.
3. Como torraram o dinheiro, a previdência pecisa de ajustes, sim! Temos que vigiar mais de perto o que o Governo e o Congresso fazem! O dinheiro que usam hoje vai faltar para nossos filhos! Mas acho que é possível fechar a conta com o pré-sal.
4. A classe média disparou sim! o salário do DIEESE é para um pai de família e dois filhos em que só o pai trabalha (bem anos 40). Famílias empregadas com carteira tem outras vantagens que não são salariais, que não aparecem nas estaísticas.
O próprio "aumento no consumo" da classe trabalhadora, tão festejado pelos lulistas (os de boa e de má-fé), se baseia nos endividamentos em 12, 24, 36 vezes nas Casas Bahia da vida, e em regra com a inclusão de nome no SERASA.
"Nunca antes nesse país" se iludiu tanto. É um bonapartismo, mas sem a instabilidade social (daí semi-bonapartismo).
Você critica a afirmação de que a classe média aumentou, argumentando que os critérios de classe media da FGV descrevem uma situação de pobreza,e não de classe média.
Ora,em quê isso contradiz que tenha havido migração da classe D ou E para a C?
Essa migração sempre será um progresso, ainda que não seja para o paraiso, sempre será para melhor!
O complicado é depois explicar pros eleitores:
- Não, gente, o Serra é pior!
Aqui ninguém entende de oposição;
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